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Análise: Sem alívio à dívida, 3º pacote de ajuda à Grécia não é final feliz

11 ago 2015 - 18h26
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Depois de meses de atraso e do agravamento da crise, a Grécia finalmente conseguiu chegar a um novo acordo (ou praticamente isso) com a União Europeia, por um novo empréstimo de 86 bilhões de euros (cerca de R$ 331 bi) de crédito ao longo de três anos, para tentar manter o país na zona do euro e evitar a moratória de sua dívida.

Acordo na Grécia não representa 'final feliz' para a crise do país
Acordo na Grécia não representa 'final feliz' para a crise do país
Foto: Divulgação/BBC Brasil

De acordo com o Ministério das Finanças grego, ainda há alguns detalhes a serem definidos.

E o pacote precisará agradar tanto o Parlamento grego (que terá de dar seu aval ao plano), quanto o da Alemanha (maior credor da Grécia) e os países da zona do euro nos próximos dias.

Mas esse deve ser o terceiro resgate feito na economia da zona do euro, que desde 2009, tem apresentado mais falhas na sua estrutura monetária do que qualquer outro sistema de moedas.

Ainda assim, é muito significante para o futuro da Grécia na zona do euro que seus credores – o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Central Europeu e outros governos europeus – aparentem estar satisfeitos com um programa de austeridade e de reforma econômica proposto por Atenas.

Embora o governo de Alexis Tsipras seja criticado por alguns dos seus maiores apoiadores por aceitar as medidas de austeridade (sendo que seu governo foi eleito justamente por criticá-las), ele pontua que o acordo fará com que Atenas possa ter um déficit nas contas públicas – mais uma vez.

As novas metas fiscais do acordo são um déficit de 0,25% neste ano e um superávit de 0,5% em 2016, que teria de subir para 1,75% em 2017 e 3,5% em 2018.

Austeridade

Mas ainda há algo a dizer sobre essas metas fiscais.

Primeiro, ainda que Tsipras apresente os 0,25% de déficit para este ano como uma flexibilização da austeridade e um sucesso político, muitos verão isso como o oposto: como um simples reflexo do fracasso da economia grega nos últimos meses e como o possível retorno da recessão que causou o fechamento dos bancos no último mês.

É por isso que a recuperação dos bancos e a flexibilização das restrições aos saques e empréstimos são condições imprescindíveis agora para uma recuperação sustentável na Grécia.

E isso, por sua vez, exigirá meses de dolorosas negociações para recapitalizar os bancos – usando provavelemente 25 bilhões de euros dos contribuintes europeus – para dar sinais ao povo da Grécia de que suas economias podem voltar aos bancos em vez de serem guardadas embaixo dos colchões.

Em segundo lugar, poucos economistas acreditam que a Grécia conseguirá gerar um superávit de 3,5% em 2018 e sustentar isso por anos – em parte, porque é raro para qualquer economia ocidental conseguir se manter gastando menos do que recebe em impostos por qualquer período de tempo. Isso sem nem considerar a fragilidade do setor privado na economia grega.

Em terceiro lugar, as negociações mais difíceis ainda nem começaram – e serão sobre como reduzir as dívidas gigantescas da Grécia, que devem chegar a 200% do PIB do país nos próximos dois anos (de acordo com o FMI).

Sem o perdão das dívidas, a prosperidade nunca vai voltar à Grécia e seu futuro no euro nunca será garantido.

Com o perdão das dívidas, os partidos populistas da zona do euro vão ter argumentos para dizer aos eleitores que eles não têm nada a temer e tudo a ganhar jogando fora os partidos de "mainstream" e reafirmando os direitos de soberania para determinar sua própria economia.

Ou, para dizer de outra forma, a política do euro e o perdão das dívidas da Grécia apontam para direções completamente opostas.

E é por isso que ninguém deveria considerar o importante pacote de ajuda acordado entre Grécia e União Europeia nesta terça-feira como um "final feliz" pra sempre.

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