Aos 62 anos, mineiro usa blockchain pra ‘curar’ máquinas
Tecnologia que combina criptografia com inteligência artificial está em implementação pela primeira vez no Brasil
Uma tese de mestrado do pesquisador Armando Marsarioli, 62, levou a ICRO Group, empresa tradicional no fornecimento de manutenção para a indústria brasileira, a criar a primeira tecnologia que combina blockchain e inteligência artificial para “curar” equipamentos antes que eles quebrem, causem mal funcionamentos ou até acidentes.
Depois de quatro décadas no mercado de manutenção, Armando voltou à faculdade com um objetivo: combinar a experiência que adquiriu durante sua carreira com inovações ainda distantes do setor industrial.
Batizado de Neuron, o sistema pode manter um parque industrial em atividade plena por até 95% de seu tempo, um aumento que ― a depender do setor e das condições dos equipamentos ― pode chegar a até 30% de ganhos. A ferramenta pode ser utilizada em máquinas de todo o tipo, e já está em implementação em empresas voltadas para o agronegócio, como usinas de cana-de-açúcar, parques navais e até em mineradoras.
A distância entre a academia e a indústria
Foi nos estudos na Unicamp que Marsarioli chegou à base desta tecnologia, ainda em 2020. Mas precisava transformar a teoria em prática, e foi quando a ICRO Group abraçou o projeto, que foi transferido para a incubadora de empreendedorismo da Unifal (Universidade Federal de Alfenas), em Minas Gerais.
No campus Santa Clara, criou-se um grupo multidisciplinar que combinou doutores, mestres e graduandos de diversas áreas (desde TI a engenharias de produção) focado em desenvolver a ferramenta dentro da ICRO Digital, braço da empresa-mãe voltado especificamente para inovação.
“Decidi que iria pesquisar em uma área que pudesse ter aplicação prática por ter visto o distanciamento entre academia e indústria durante meus anos de carreira. Já tinha contato com a ICRO por conta da atuação da companhia em manutenção preditiva. E a pesquisa deu um salto, porque passamos a desenvolver o Neuron a partir de problemas reais da indústria”, explica Marsarioli.
Os problemas aos quais ele se refere são diversos, como a dificuldade em identificar com antecedência riscos de quebra de máquinas ― o que pode prejudicar a produtividade e até parar um parque industrial inteiro por dias ou semanas. Há também equipamentos instalados em áreas de difícil acesso, como em tubulações e bombas de pressão subterrâneas. Além da falta de mão de obra especializada disponível para fazer este tipo de aferição com a frequência necessária.
Com o Neuron, todo maquinário pode ser preparado com sensores que acionam outros sistemas da empresa para dar um diagnóstico e indicar se algum equipamento precisa de reparo, qual é a peça que pode dar defeito e quais são os fornecedores que devem ser chamados para realizar a intervenção preditiva.
Para isso, é preciso que a ferramenta conheça profundamente o parque industrial em que está sendo implementada. “Um dos desafios que enfrentamos foi a resistência de empresas abrirem dados sensíveis sobre seus parques industriais para os diagnósticos, etapa fundamental para embasar os resultados do uso do Neuron”, lembra Armando.
Foi então que o blockchain entrou em cena. Antes uma inspiração teórica para a pesquisa, Armando viu que seria possível implementar as etapas de diagnóstico e análise preditiva por meio de bloco de dados criptografados que se comunicassem de forma sigilosa.
Um caminho com grande potencial
Armando ressalta que ainda há um trabalho intenso a ser feito para que as empresas consigam organizar suas cadeias de acionamento e tratamento de dados coletados durante suas manutenções. Mas que este é um caminho de grande potencial para aumentar a competitividade da indústria brasileira.
“Em média, os parques industriais brasileiros possuem 18 anos de funcionamento. Ou seja, são máquinas mais antigas do que as de países mais desenvolvidos. Com o uso constante, é comum cair o desempenho e aumentar a incidência de reparos. O Neuron vem para otimizar este processo, permitir que os reparos aconteçam antes que o equipamento precise ser interditado para manutenção. É um passo importante para modernizar nossa indústria”, afirma o pesquisador.
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