Apagão de energia: ser data-driven não é mais opcional
Trabalhar com dados seguros e confiáveis, definitivamente, não é mais uma opção
No último dia 15 de agosto, o Brasil vivenciou um apagão de energia em quase todos os estados. Desde o incidente, o ONS (Operador Nacional do Sistema) iniciou as investigações para apurar a causa e prestar os devidos esclarecimentos. Segundo o primeiro informe, os geradores não enviaram informações acuradas sobre o desempenho dos equipamentos ao órgão. Logo após o apagão, alguns dados precisaram ser reenviados, o que levou o ONS a identificar inconsistências críticas que teriam comprometido o planejamento e a operação do sistema.
E o mais curioso neste ocorrido foi resgatar na memória o outro apagão registrado na história do País, ocorrido em 2001. Este mesmo ‘fenômeno’, que levou ao racionamento intensivo de energia entre a população, também teve como uma de suas causas a existência de dados incorretos, o que foge da essência do bom funcionamento do setor elétrico.
Mas, não é de hoje a discussão sobre a necessidade de ancorar a operação do negócio em dados. Isso significa que, pelo menos há 20 anos, a possibilidade de as empresas se tornarem data-driven é apresentada por consultorias como um grande diferencial competitivo, além de ser a garantia de "sair na frente" em uma esfera volátil e dinâmica.
De lá para cá, diversas empresas investiram na maturidade de dados, construindo arquiteturas, implementando fluxos de tratamento e consumo das informações, empoderando os analistas de negócio a tomarem decisões melhores e mais eficientes.
Além disso, essa estruturação do ambiente de dados foi acompanhada por um grande esforço de automatização de diversos processos de dados, inclusive da infraestrutura, quando a empresa já está trabalhando em nuvem.
O que era opcional agora não é mais
Entretanto, um fenômeno é notável nesse cenário: o que antes era tido como um diferencial, algo opcional para aumentar a competitividade, está se tornando absolutamente mandatório. O mercado impõe uma condução do negócio cada vez mais rápida e eficiente, com janelas de decisão curtíssimas, bem como uma baixa tolerância ao erro.
Além disso, num estágio de maturidade, cuja operação da empresa esteja, de fato, ancorada em dados, a qualidade e a disponibilidade de serviços se tornam fatores críticos.
O caso do apagão foi emblemático, pois pôde ilustrar como as informações incorretas impactam drasticamente uma operação. E isso, infelizmente, não é uma exclusividade do setor de energia, mas de qualquer área da economia.
Além de prejudicar enormemente a operação, incidentes como esse podem ferir seriamente a reputação de uma empresa, colocando em risco sua perenidade e permanência no mercado. A boa e velha (porém, nunca desatualizada) discussão sobre a importância de ser data-driven, se reforça com eventos como esse e mostra que trabalhar com dados seguros e confiáveis não é mais uma opção.
(*) Neylson Crepalde é CTO (Chief Technology Officer) da A3Data, consultoria especializada em dados e Inteligência Artificial. Ele é PhD em Sociologia Econômica e das Organizações e professor de Engenharia de Dados e Cloud Computing na PUC Minas.