Apesar de desvalorização, real mantém valor frente ao euro
Outras moedas que tiveram forte desvalorização frente ao dólar foram a lira turca (-9,7%), o peso colombiano (-8,9%) e a coroa sueca (-8,2%)
Em tempos de real em queda, ao menos um grupo de turistas brasileiros parece ter recebido um alento - os que vão para a Europa.
A forte desvalorização do euro em relação ao dólar significa que o real quase manteve seu valor frente à moeda europeia.
Segundo Rafael Bistafa, economista da Rosenberg Associados, há um ano eram necessários R$3,28 reais para comprar um euro. Hoje, a cotação não é muito diferente: R$ 3,31. Já o dólar passou de R$2,35 para R$3,11 no mesmo período.
"A questão é que não foi só o real que se desvalorizou frente ao dólar. Costumamos acompanhar uma cesta de 21 moedas de economias relevantes - destas, 20 perderam valor neste início de ano", diz Bistafa. "O real de fato foi a que mais caiu - perdeu 13,4% de seu valor desde janeiro. Mas o euro também teve queda de 11,5%."
Outras moedas que tiveram forte desvalorização frente ao dólar, segundo Bistafa, foram a lira turca (-9,7%), o peso colombiano (-8,9%) e a coroa sueca (-8,2%).
Thiago Biscuola, da RC Consultores diz que "evidentemente, com o real em queda, ficou mais difícil para todo mundo viajar para o exterior". "Mas ao menos as viagens para a Europa não ficaram tão mais caras, enquanto o 'sonho da Disney' de fato vai pesar muito mais no bolso", diz ele.
Razões
Na raiz da valorização do dólar está a recuperação da economia americana.
Números positivos para o mercado de trabalho do país divulgados na semana passada ajudaram a reforçar a expectativa de que o FED (o Banco Central americano) deve começar a aumentar os juros - o que tende a fazer com que divisas antes aplicadas em economias emergentes voltem ao país.
"No caso do real, esse fator ainda se combinou com a crise política e econômica interna e às incertezas criadas pela (operação) Lava Jato. Como resultado, a moeda brasileira acabou se distanciando das de outros países emergentes", diz Biscuola.
Já a moeda europeia chegou ao seu menor nível em relação ao dólar em 12 anos depois que o Banco Central europeu começou a colocar em prática seu pacote de estímulos econômicos para evitar recessão e deflação na zona do euro.
Espera-se que nos próximos 18 meses sejam injetados 1,1 trilhão de euros na economia da região com esse programa, que envolve a compra de títulos públicos - uma estratégia conhecida como quantitative easing, ou "afrouxamento quantitativo" e que foi colocada em prática nos Estados Unidos até o ano passado.
Com o mercado inundado por euros, a expectativa de consultorias econômicas é que um euro chegue a valer um dólar em breve - e algumas chegam a apostar em um valor mais baixo.
Segundo Andrew Walker, analista de economia da BBC , a desvalorização do euro é uma boa notícia para os exportadores da região, cujos produtos tendem a se tornar mais competitivos no mercado internacional.
O mesmo efeito pode ser sentido no Brasil.
Walter Cover, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Material de Construção (Abramat), por exemplo, diz que só em janeiro as exportações do setor cresceram 26% em relação ao mesmo período do ano passado, em parte em função da desvalorização.
"Além disso, no ano passado o Brasil importou R$ 12 bilhões em material de construção e achamos que de R$ 3 bilhões a R$ 4 bilhões dessa demanda total pode passar a ser suprida por produção interna em 2015, agora que os importados estão mais caros."