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Apostas esportivas: profissionais chegam a faturar R$ 20 mil, mas especialistas temem prejuízos com regulamentação

MP que regulamenta o setor trouxe avanços, mas também preocupações para apostadores e profissionais da área

5 ago 2023 - 05h00
(atualizado em 9/8/2023 às 16h38)
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As apostas se popularizaram significativamente e, com o passar do tempo, diferentes perfis de apostadores foram surgindo
As apostas se popularizaram significativamente e, com o passar do tempo, diferentes perfis de apostadores foram surgindo
Foto: Agência Brasil

Na televisão, em outdoors, em eventos e até no transporte público. Com certeza você já esbarrou com alguma propaganda de sites de apostas online. O assunto está tão em alta que no dia 25 de julho, o governo Lula publicou uma Medida Provisória que regulamenta as casas de apostas esportivas, taxando as empresas em 18% (vamos falar mais sobre isso abaixo). 

As apostas se popularizaram significativamente e, com o passar do tempo, diferentes perfis de apostadores surgiram, podendo ser categorizados em duas principais abordagens: os profissionais e os recreativos.

Os apostadores profissionais são aqueles que levam as apostas a sério, empregando estratégias meticulosas, análises estatísticas e suas habilidades para obter lucros consistentes. Para eles, as apostas são tratadas como uma verdadeira profissão, investindo tempo e esforço consideráveis para desenvolver uma vantagem competitiva sólida.

Já os apostadores recreativos têm como foco principal a emoção e o entretenimento proporcionados pelas apostas. Eles geralmente apostam com orçamentos limitados e estão menos preocupados com a rentabilidade a longo prazo.

De acordo com Ricardo Santos, cientista de dados especializado em análise estatística para apostas esportivas em Futebol e fundador da Fulltrader Sports, ser um apostador recreativo pode trazer riscos consideráveis. “Realizar apostas causa uma carga altíssima de dopamina cerebral, substância que provoca a sensação de prazer, satisfação e aumenta a motivação. Porém, esse tipo de sentimento pode ser a razão por trás de escolhas extremamente equivocadas”, explica.

Ao apostar, existe sempre a expectativa de obter um retorno lucrativo do valor investido, mas nem sempre essa expectativa se concretiza. O especialista compara o ato de apostar com outras atividades de lazer, como ir ao cinema ou jantar em um restaurante, em que as pessoas esperam obter prazer e satisfação, mas no campo das apostas, a carga de dopamina pode se transformar em frustração quando os resultados esperados não são alcançados.

Para Ricardo, alguns apostadores recreativos podem perder a percepção dos limites ao tratarem as apostas apenas como uma atividade recreativa. “Os gatilhos para realizar apostas, como jogos de futebol, corridas de Fórmula 1 ou, até mesmo, partidas de jogos eletrônicos, são recorrentes e podem acontecer todos os dias. É preciso ter discernimento porque, apesar de ser tratado como um momento de recreação, as apostas exigem dinheiro real para serem efetivadas e, se isso torna-se recorrente, muitos gastam além do que podem e acabam se perdendo. Existe um enorme perigo em ser um apostador recreativo. Afinal, as vontades podem superar as possibilidades”.

Em contrapartida, os apostadores profissionais têm um controle mais rigoroso sobre suas ações. “Efetivamente, esse é o trabalho dessas pessoas. Eles analisam dados, selecionam jogos e dispõem de planilhas de acompanhamento extremamente meticulosas e precisas. Esse tipo de apostador sabe exatamente como está aplicando seu dinheiro e quais as possibilidades de retorno. Pode até haver uma descarga de dopamina, mas ela aparece com a finalidade de executar o trabalho de forma mais efetiva. Por ser uma atividade repleta de análises, quanto mais tempo eles dedicam, mais dinheiro eles tendem a fazer em um longo prazo. Isso evidencia ainda mais o problema que apostadores recreativos podem enfrentar quando realizam apostas, puramente, pelo sentimento de emoção”, finaliza.

Perfis de apostadores

Em entrevista para o E-Investidor, do Estadão, Jean Geraldino Melo é parte do grupo de apostadores profissionais. No começo da empreeitada, ele chegou a perder R$ 5 mil. Com o tempo, porém, ele foi estudando o ramo e hoje vive disso, atualmente com uma renda de R$ 15 mil a R$ 20 mil mensais; mas, em um único mês, ele já chegou a embolsar R$ 80 mil quando a modalidade E-Sports chegou à plataforma na qual ele investe. 

“Cota é o valor que a casa paga em determinada aposta. Por exemplo, em um jogo entre São Paulo e Corinthians, a casa pagou 2,6 pela vitória do Corinthians. Se o apostador colocou R$ 100 e esse time ganhou, ele recebe R$ 260. Para chegar nesse multiplicador de 2,6 a casa faz um cálculo de quanto ela deveria pagar para tal time ganhar o jogo. Nesse começo, ela errava muito na precificação dos jogos online e é aí que a gente ganhava bastante dinheiro”, revelou em conversa com o E-Investidor.

Gustavo Fernandes Bailo Morato também é da turma dos profissionais e tem até uma rotina para apostar. "É bem puxada entre fevereiro e setembro. Acordo às 4 horas da manhã para apostar nos jogos da liga asiática. No período da tarde, acontecem os jogos da Europa e, no fim do dia, as partidas da América do Sul e do Norte”, detalhou à reportagem o apostador, que tira de R$ 5 mil a R$ 20 mil por mês.

Regulamentação

A MP que regulamenta o setor, porém, trouxe algumas preocupações para profissionais da área e também àqueles que trabalham em casas de aposta. Ao Terra, Ricardo Santos disse que a categoria não é contrária à regulamentação ("até para que tenhamos mais credibilidade e maturidade", pontua), e há destaques positivos na medida do governo, como o controle da publicidade:

"Hoje temos campanhas muito apelativas e algumas até mentirosas que exploram o vício e a promessa de dinheiro fácil e rápido com apostas esportivas, tanto da parte de operadores quanto por influenciadores, e esses últimos em maior grau. Então, termos regras que controlem a publicidade de forma responsável será de estrema importância para a maturidade desse mercado".

Para o especialista outro ponto positivo é definir as punições e mecanismos regulatórios e inibitórios contra manipulação de resultados. "Uma confusão muito grande que é feita aqui a achar que há algum benefício para os operadores ou para apostadores sérios com a manipulação do jogo, e é exatamente o contrário. Os operadores são lesados por essa prática criminosa e os apostadores sérios também. Então, ter mecanismos que combatem essa máfia é um grande ponto para o governo". 

No entanto, a MP ainda apresenta alguns pontos que devem ser discutidos porque, para Santos, podem trazer prejuízos para o setor. "O valor da outorga é extremamente alto [R$ 30.000.000,00 por licença por 5 anos]. Esse valor é extremamente fora da realidade do resto do mundo e pode afastar operadores médio e pequenos importantes para geração de empregos e para uma concorrência saudável, o que pode gerar um grande monopólio de grandes marcas. A alternativa seria um valor de outorga proporcional ao faturamento anual dos operadores, como é praticado no Reino Unido, mercado mais saudável do mundo quando se fala em apostas esportivas", opina.

Outro ponto negativo é a proibição de pessoas com nome sujo de fazer apostas esportivas. "Entendemos que a intenção do governo nesse ponto seria proteger as pessoas contra o vício e atitudes irresponsáveis, mas a premissa está errada. Temos absolutamente muitas formas muito mais eficientes de controle do jogo já aplicadas em mercados mais maduros no mundo".

O especialista também critica o imposto de 30% sobre o valor do prêmio pago aos apostadores em caso de acerto do prognóstico. "Esse ponto tem dois lados, um bom e um péssimo. O primeiro favorece apostadores pequenos, pois não pagariam impostos na fonte de prêmios recebidos até o valor de R$2.112,00, mas inviabilizaria totalmente a atividade para profissionais que trabalham com valores maiores, pois 30% tornaria impossível de se fazer dinheiro no longo prazo. Essa medida com certeza irá levar apostadores maduros para fora do Brasil", alerta.

A medida sobre as taxas tem levantado debates entre especialistas sobre o impacto no setor e nas receitas governamentais. Para Leonardo Baptista, CEO e cofundador da Pay4Fun, instituição de pagamento autorizada pelo Bacen e que atua no setor de entretenimento online e apostas esportivas, a proposta tributária poderá ter consequências negativas, desencorajando outras empresas a entrarem no mercado legal e, consequentemente, gerando uma redução prática na arrecadação de receitas pelo governo.

“A nova MP vem para atender a uma demanda crescente por regulamentação no setor, estabelecendo um marco regulatório que traga mais transparência aos jogos, oferecendo mais segurança às transações, no entanto, a imposição de uma carga tributária mais alta pode comprometer a viabilidade e a competitividade das empresas que operam neste segmento, levando os apostadores a buscarem alternativas no mercado paralelo, o que poderia prejudicar ainda mais a arrecadação governamental e a fiscalização dessas atividades”, pontua.

Fonte: Redação Terra
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