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Argentina acelera desvalorização do peso enquanto tenta frear dólar informal

23 jan 2014 - 00h42
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Em meio às ameaças do governo para tentar frear o avanço do dólar "blue", o peso argentino se desvalorizou 3,47% nesta quarta-feira no mercado oficial frente à moeda americana, uma das maiores desvalorizações registradas em um só dia desde 2002.

O dólar subiu 24 centavos nos mercados câmbio oficiais, até os 7,14 pesos, com o que a moeda argentina acumula uma desvalorização de 9,5% desde janeiro e de 18,4% desde que Axel Kicillof assumiu a pasta de Economia, no último dia 21 de novembro.

A ascensão do dólar informal foi ainda superior e com o novo recorde alcançado hoje, quando fechou a 12,15 pesos por unidade, acumula neste ano uma valorização de 21,5%.

Os economistas atribuíram a desvalorização do peso a uma tentativa governamental de atualizar a taxa de câmbio, que se encontra atrasado em relação ao valor de mercado e prejudica as reservas internacionais, em seu nível mais baixo desde 2006.

Fausto Spotorno, economista-chefe do escritório Orlando J. Ferreres, explicou que para combater o processo inflacionário, "o governo tentou congelar a taxa de câmbio" com "uma âncora no dólar e terminamos com uma taxa de câmbio atrasada".

Segundo Spotorno, o governo implementou restrições cambiais a partir de 2011, conhecidas como "cerco ao dólar", para deter a fuga de divisas sem desvalorizar a moeda, que naquele momento se cotava a 4 pesos por dólar.

Segundo sua opinião, a decisão governamental de proibir a poupança em dólares, impor novo agravo às compras no exterior com cartão e à aquisição de passagens e pacotes turísticos e limitar as aquisições pela internet "gerou uma desconfiança enorme".

Spotorno argumentou que a desvalorização gradual realizada pelo governo "levou a perder reservas, porque todo o mundo se antecipa pensando que no futuro a taxa de câmbio será mais cara".

Com a desvalorização realizada hoje, a maior desde 25 de março de 2002, quando o peso desabou 39,58%, a brecha cambial entre o dólar oficial e o "blue" se reduziu ligeiramente até 70,16%. A escalada da divisa no mercado negro se viu favorecida pela impressão de 40 bilhões de pesos por parte do governo durante o mês de dezembro para cobrir o déficit fiscal.

O economista Ramiro Castiñeira, de Econométrica, considerou que os pesos destinados ao mercado começaram a ter incidência este mês, quando caiu a atividade e as empresas reduziram sua demanda por pesos.

"O setor privado se encontra com mais pesos dos que pode ter e perante a impossibilidade de contratar um prazo fixo porque rende menos que a taxa de inflação ou de comprar dólares (no mercado oficial) porque se encontra inabilitado vai ao paralelo e acaba inflando o preço", comentou.

O chefe de Gabinete argentino, Jorge Capitanich, advertiu hoje que o governo recorrerá à Justiça para frear o mercado negro de divisas. "Tudo o que seja de caráter ilegal vamos combater com uma só ferramenta: a lei", disse Capitanich depois que na segunda-feira passada o governo vinculou a existência do mercado negro de divisas com a lavagem de dinheiro e o narcotráfico.

Outro objetivo da brusca desvalorização é "não expor mais as reservas", segundo Castiñeira, que apesar do "cerco" cambial caíram até US$ 29,253 bilhões. O analista considerou que a desvalorização do peso superará este ano 40%, embora se freará após o primeiro trimestre, quando ingressem os dólares procedentes das exportações agrícolas.

Mesmo assim, antecipou que "2014 é um ano complicado para gerar divisas" porque o preço da soja não mantém a tendência de alta dos últimos anos e o Brasil "tem mais vontade de ajustar que de crescer". "Neste cenário seria uma conquista que as exportações só se estagnem", ressaltou.

O complexo cenário diante da Argentina se agrava, segundo Castiñeira, com a perda de credibilidade internacional pela "manipulação de seu índice de inflação", que alcançou 10,9% contra os 28,38% calculado pelas consultoras privadas.

O índice foi censurado pelo Fundo Monetário Internacional e será substituído por um novo a partir deste mês. Segundo os prognósticos da Econométrica, o ritmo de aumento de preços se acelerará ainda mais este ano e se aproximará dos 30%.

EFE   
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