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Ata do Copom: BC fala em eventuais ajustes futuros da Selic e atuação firme para conter a inflação

Segundo autoridade monetária, comportamento do mercado de trabalho e da atividade doméstica têm surpreendido e divergido da desaceleração esperada.

25 jun 2024 - 08h49
(atualizado às 09h42)
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Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

BRASÍLIA - A ata do Comitê de Política Monetária (Copom) reforçou a postura cautelosa do Banco Central e indicou que eventuais ajustes futuros na Selic serão ditados pelo "firme compromisso de convergência da inflação à meta." O colegiado interrompeu o ciclo de cortes na semana passada, mantendo a taxa básica de juros em 10,5%, em uma decisão unânime.

"O comitê avaliou que a política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação, como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas", diz a ata, divulgada nesta terça-feira, 25, pelo Banco Central.

Segundo o Copom, o comportamento do mercado de trabalho e da atividade doméstica têm surpreendido e divergido da desaceleração esperada. Isso é verdade especialmente para o consumo das famílias, disse o comitê. Além disso, o aumento das expectativas de inflação também é um fator de preocupação.

Para o colegiado, a manutenção da taxa Selic em 10,5% é compatível com a estratégia de fazer a inflação convergir a um nível "ao redor" da meta no horizonte que inclui o ano de 2025.

"A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, ampliação da desancoragem das expectativas de inflação e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária", afirma o comitê.

Segundo a ata, a projeção para o IPCA de 2024 está em 4,0% no cenário de referência. Na reunião de maio, a instituição previa um IPCA de 3,8% este ano, já acima do centro da meta, de 3%. Para 2025, que já tem maior peso nas decisões de política monetária, a projeção é de 3,4% - acima do alvo central de 3,0% para o ano -, também uma elevação em relação à estimativa divulgada no encontro de maio.

Em relação aos preços administrados, a ata repetiu as projeções já informadas no comunicado: 4,4% para 2024 e 4,0% para 2025. Em maio, as projeções eram de 4,8% e 4,0%, respectivamente.

Juro neutro

Neste cenário, o BC aumentou a estimativa de taxa de juros real neutra, de 4,5% para 4,75%. A projeção do BC estava estável desde meados do ano passado. "Em função da incerteza intrínseca e da própria natureza da variável, o Comitê reforçou que a taxa neutra não é uma variável que deve ser atualizada em frequência alta, tampouco deveria ter movimentos abruptos, salvo em casos excepcionais. Nesse contexto, o Comitê elevou marginalmente a hipótese de taxa de juros real neutra em seus modelos para 4,75%", diz a ata.

Economistas do mercado financeiro vinham debatendo a possibilidade de um ajuste da taxa neutra de juros desde o início deste ano. Mesmo com o ajuste divulgado nesta terça, a estimativa do BC permanece abaixo das projeções da maior parte do mercado, que trabalha com um valor mais próximo de 5% para a variável. Alguns profissionais consideram que a taxa neutra do Brasil pode estar mais próxima de 6%.

O Copom informou que, na discussão para definir a taxa Selic, avaliou cenários com um juro real neutro de 4,5% a 5%. Também reforçou que alguns fatores podem fazer a taxa neutra subir, citando o "esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública."

Um aumento na taxa neutra de juros, segundo o comitê, teria impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade.

Política fiscal

O Copom reafirmou que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e a redução dos prêmios de risco, o que impacta a condução da política monetária. Por isso, o colegiado monitora "com atenção" como os desenvolvimentos recentes da política fiscal vão afetar a política monetária e ativos financeiros.

"Políticas monetária e fiscal síncronas e contracíclicas contribuem para assegurar a estabilidade de preços e, sem prejuízo de seu objetivo fundamental, suavizar as flutuações do nível de atividade econômica e fomentar o pleno emprego", diz o documento.

Em avaliação unânime, o Comitê destacou a perseguição da reancoragem das expectativas de inflação "independentemente de quais sejam as fontes por trás da desancoragem ora observada". Essa reancoragem é vista como elemento essencial para assegurar a convergência da inflação para a meta.

"O Comitê avalia que a redução das expectativas requer uma atuação firme da autoridade monetária, bem como o contínuo fortalecimento da credibilidade e da reputação tanto das instituições como dos arcabouços fiscal e monetário que compõem a política econômica brasileira", diz a ata. O Copom, por fim, diz que "não se furtará" do compromisso para atingimento da meta de inflação e entende o papel fundamental das expectativas nessa dinâmica.

Cenário externo

O Copom repetiu que o cenário externo se mantém adverso, principalmente em função das incertezas em relação ao ciclo de queda dos juros dos Estados Unidos e à persistência do processo de desinflação nas principais economias.

O documento observa que há diferentes conduções para o ciclo de queda da política monetária, já que prevalecem as preocupações com os respectivos mercados de trabalho e o início da flexibilização monetária nos Estados Unidos.

"Um cenário de maior incerteza global sugere maior cautela na condução da política monetária doméstica, devido à possível ocorrência de movimentos mais abruptos no cenário prospectivo", diz.

Próxima reunião

No comunicado e na ata, o Copom não indicou qual será o ritmo de corte de juros na próxima reunião, marcada para 30 e 31 de julho. O comitê afirmou que se manterá "vigilante" e que "eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta."

Estadão
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