Atual patamar da Selic é desafio para os bancos, diz Moody's
Após o Copom elevar a Selic para 12,25%, a agência de classificação de risco Moody's emitiu um relatório afirmando que o ciclo de política monetária contracionista no Brasil contrasta com a tendência global de cortes de juros e traz desafios significativos para o setor bancário, incluindo aumento nos custos de captação, redução no crescimento do crédito e maior risco de inadimplência.
Com mais dois aumentos de 100 pontos-base sinalizados pelo Banco Central para as próximas reuniões do Copom, a taxa Selic pode atingir níveis não vistos desde 2016. Segundo a Moody's, a política contracionista já afeta o setor bancário de maneira negativa, diferentemente das expectativas de mercado do início do ano, que projetavam uma Selic encerrando 2024 em 9% e atingindo 8,5% em 2025.
O aumento nas taxas eleva os custos de captação das instituições financeiras, diz a casa, principalmente porque grande parte das fontes de recursos bancários no Brasil são atreladas à taxas flutuantes.
O relatório afirma que embora os maiores bancos do país, como Itaú (ITUB4), Banco do Brasil (BBAS3), Bradesco (BBDC4), Santander (SANB11) e Caixa Econômica Federal ainda tenham acesso a uma base significativa de depósitos de poupança e à vista, essa vantagem tem se reduzido ao longo do tempo devido a mudanças competitivas no mercado.
A Moody's alerta também que o impacto sobre as margens financeiras líquidas (NIM) dos bancos dependerá da composição de suas carteiras de crédito e da capacidade de repassar os custos crescentes de captação para os tomadores de empréstimos.
Bancos com alta exposição a empréstimos de longo prazo e taxa fixa, como aqueles focados em crédito consignado para aposentados e pensionistas, podem enfrentar compressão de margens nos próximos trimestres, segundo a casa.
Instituições como Banco BMG, Agibank, Mercantil do Brasil, Banrisul, Banco do Estado de Sergipe, BRB e C6 Bank são particularmente vulneráveis, segundo o relatório.
Esses bancos já vêm sofrendo pressão devido ao teto regulatório das taxas cobradas no crédito consignado, que foi reduzido anteriormente enquanto os custos de captação permaneceram elevados.
Com a revisão para cima das projeções de taxas de juros de longo prazo, as margens dessas operações caíram para níveis historicamente baixos, forçando algumas instituições a reduzirem significativamente a originação de novos empréstimos.
A política monetária mais rígida também afeta negativamente o crescimento do crédito no sistema bancário, diz a Moody's. Enquanto bancos de grande porte ainda conseguem crescer com maior diversificação de portfólio e capacidade de repasse de custos, instituições de médio porte enfrentam mais dificuldades para competir, o que reduz os volumes de novos negócios.
Com a Selic em alta e a concorrência por depósitos intensificada, o setor bancário brasileiro caminha para um ano desafiador em 2025, segundo o relatório. A Moody's destaca que, embora o sistema tenha mostrado resiliência em ciclos anteriores, a crescente sensibilidade às elevações de juros e a compressão de margens representam riscos significativos para a rentabilidade do setor no médio prazo.
Segundo a casa, essa dinâmica de Selic alta reforça a importância de estratégias mais conservadoras e diversificadas, especialmente para instituições menores, que enfrentam maior dificuldade em absorver os impactos da política monetária apertada. Enquanto isso, diz o relatório, os grandes bancos devem continuar aproveitando suas bases de depósitos de baixo custo e seu alcance competitivo, mas também com desafios de margem à frente.