Banco Central deve elevar taxa básica de juros na quarta e pode deixar porta aberta para mais altas
No último Boletim Focus, a mediana para o IPCA de 2022 estava em 8,89%, já bem acima do teto da meta, de 5%
BRASÍLIA - O Banco Central deve elevar a Selic (taxa básica de juros) em 0,50 ponto porcentual, de 12,75% para 13,25% ao ano, no Comitê de Política Monetária (Copom) desta semana, mas pode, mais uma vez, não ser capaz de indicar o encerramento do ciclo de aperto. Desde o último Copom, a inflação global voltou a assustar e os riscos fiscais se intensificaram, com o novo pacote do governo para os combustíveis, sem sinais firmes de melhora do cenário de preços no Brasil.
A desoneração sobre combustíveis pode atrapalhar mais o BC, com um possível efeito "rebote" aumentando as chances do terceiro ano consecutivo de rompimento da meta em 2023, foco da política monetária. Nesse contexto, têm crescido as apostas de que o ciclo pode não terminar este mês e a maioria dos economistas consultados pelo Estadão/Broadcast avalia que o colegiado deve manter na mesa todas as opções para o encontro de agosto: nova alta de juros ou o início do período de estabilidade.
A este quadro se soma a falta de informações assertivas sobre as variáveis que o Copom vai usar para atualizar seus modelos de inflação, uma vez que não houve até o momento atualização do Boletim Focus com as estimativas do mercado financeiro da semana passada.
Na última Focus, na segunda-feira passada (6), a mediana para o IPCA - índice oficial de inflação - de 2022 estava em 8,89%, já bem acima do teto da meta (5%), e de 2023 em 4,39%, mais próximo do limite de 4,75% do que do alvo central de 3,25%. Na pesquisa paralela divulgada pelo Estadão/Broadcast na última sexta-feira (10), as estimativas estavam em 8,70% e 4,50%, respectivamente - ambas distantes das projeções do Copom em maio: 7,3% e 3,4%, respectivamente.
Já a sondagem do Estadão/Broadcast para a Selic mostra que 46 das 50 instituições financeiras consultadas estimam que a taxa alcance 13,25% nesta semana, em ajuste inferior ao de 1 ponto percentual feito em maio, conforme sinalizado pelo Copom. Para o fim do ciclo, as expectativas estão divididas: 25 de 49 casas apostam em 13,25%, enquanto 24 esperam 13,50% ou mais.
O aumento do juro básico da economia reflete em taxas bancárias mais elevadas, embora haja uma defasagem entre a decisão do BC e o encarecimento do crédito (entre seis meses e nove meses). A elevação da taxa de juros também influencia negativamente o consumo da população e os investimentos produtivos.
No JPMorgan, o ativismo fiscal do governo com relação aos preços de energia foi decisivo para alterar a perspectiva para a Selic de 13,25% para 13,75%, com mais uma alta de 0,50 ponto percentual em agosto. "A estratégia ótima de comunicação parece ser de o Copom deixar todas as opções na mesa, sinalizando no comunicado que considera outro ajuste em agosto como possível, em uma magnitude não superior ao de junho", disse o banco, em relatório.
Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital, também avalia que o BC deve acabar indicando nova alta da Selic em agosto, com a inflação de serviços bastante salgada, desancoragem de expectativas e ausência de um processo claro de desinflação - pontos que o BC já afirmou que quer combater. Damico também pontua que o balanço de riscos tende a piorar, em face das maiores ameaças fiscais e da forte persistência inflacionária no exterior.
"Vai ter queda na marra do IPCA 2022 por causa da desoneração dos combustíveis proposta pelo governo. Mas a meta vai continuar perdida. Para 2023, o BC está brigando para defender o teto, mas essas medidas de combustíveis sacramentam o rompimento. Eu aumentei a projeção de 4,8% para 5,5%."
Já Luiz Fernando Figueiredo, sócio-fundador da Mauá Capital e ex-diretor do BC, avalia que o BC pode ter condições de encerrar o ciclo de alta da Selic em 13,25% esta semana, já que a inflação provavelmente já passou do pico no Brasil (o IPCA em 12 meses passou de 12,13% em abril para 11,73% em maio) e que o juro real está em nível bem contracionista.
Mas pondera que o cenário incerto ainda recomenda que a autoridade monetária não seja assertiva sobre o fim do ciclo. "A gente ainda está em um terreno bem movediço, a maré não acalmou. A inflação internacional não bateu o pico, pode ser que o Brasil importe mais inflação", explica.
Da mesma forma, o economista-chefe da Trafalgar Investimentos, Guilherme Loureiro, vê o fim do ciclo esta semana (13,25%), com o tempo jogando a favor do BC. Mas acredita que o Copom opte por manter a porta aberta para os próximos passos, para não comprometer as expectativas para o IPCA de 2023, especialmente diante da incerteza fiscal, agravada pela investida do Planalto para desonerar combustíveis.
Ele lembra que, mesmo com a taxa estável, o juro real deve crescer à medida que o ano avança e as expectativas para o IPCA nos próximos 12 meses tendem a cair. "O juro real vai chegar a níveis muito parecidos com o período pré-impeachment."
Apesar do cenário ainda desconfortável para o BC, o economista-chefe da Greenbay Investimentos, Flávio Serrano, acredita que o BC pode sinalizar já nesta semana o fim do ciclo, em 13,25%. "A taxa de juros real está acima de 7%, em um nível significativamente contracionista. É bastante razoável acreditar que a inflação vai mudar de dinâmica no 2º semestre e, especialmente, em 2023."