BC mantém roteiro de aperto do juro, leva Selic a 13,25% e confirma nova alta de 1 ponto em março
Copom afirma que decisão desta quarta é 'compatível' com estratégia para levar a inflação de volta à meta; para o órgão, cenário atual exige política monetária mais dura
BRASÍLIA - O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central seguiu o roteiro traçado em dezembro e aumentou nesta quarta-feira, 29, a taxa de juros básica da economia, a Selic, em um ponto porcentual, de 12,25% para 13,25%. A decisão foi unânime.
Esta foi a primeira reunião do colegiado desde que o economista Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assumiu a presidência do BC, em 1º de janeiro.
No encontro anterior, em dezembro, o órgão havia sinalizado altas de um ponto nas duas reuniões seguintes. Segundo o BC, a indicação para março será mantida. "Diante da continuidade do cenário adverso para a convergência da inflação, o comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, um ajuste de mesma magnitude na próxima reunião", disse no comunicado.
Em relação à reunião que ocorrerá em maio, o BC alertou que o tamanho do ciclo de ajuste está condicionada à convergência da inflação à meta. "Para além da próxima reunião (em março), o comitê reforça que a magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos", disse o colegiado.
O órgão afirmou que a elevação da Selic nesta quarta-feira é "compatível" com a sua estratégia para levar a inflação de volta à meta. Segundo o BC, a decisão também implica "suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego", sem prejuízo ao seu objetivo fundamental de garantir a estabilidade de preços.
No comunicado, o BC afirma que o cenário atual exige uma política monetária mais contracionista. "O cenário mais recente é marcado por desancoragem adicional das expectativas de inflação, elevação das projeções de inflação, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho, o que exige uma política monetária mais contracionista", diz o texto.
O colegiado afirmou que continua acompanhando com atenção os desenvolvimentos da política fiscal e seus impactos sobre a política monetária e ativos financeiros. "A percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida segue impactando, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes", disse o comunicado.
Projeção para a inflação
O BC também aumentou sua projeção para a inflação acumulada em 12 meses no fim do terceiro trimestre de 2026, que agora é o horizonte relevante da política monetária. A estimativa subiu de 3,8% para 4% no cenário de referência, aproximando-se ainda mais do teto da meta, de 4,5%.
O resultado indica que a trajetória da taxa Selic embutida no relatório Focus, com alta dos juros a 15% no fim do ciclo, em maio, e sem cortes ao longo de 2025, seria insuficiente para fazer a inflação convergir ao centro da meta, de 3%, no período de seis trimestres observado pelo BC.
Todas as variáveis observadas pelo comitê se deterioraram entre a sua reunião anterior, de dezembro, e a decisão anunciada na noite desta quarta. As expectativas do mercado para a inflação de 2025 e 2026 subiram de 4,59% para 5,50% e de 4,0% para 4,22%, respectivamente. A taxa de câmbio usada nas estimativas do Copom subiu de R$ 5,95 para R$ 6,0.
As projeções de inflação do comitê aumentaram em todo o horizonte. A estimativa para 2025 subiu de 4,5% para 5,2%, já acima do teto da meta, de 4,50%. O BC não divulgou projeção de IPCA para fim de 2026.
Todas as estimativas consideram a evolução da taxa de câmbio conforme a paridade do poder de compra (PPC), a trajetória de Selic embutida no relatório Focus e o preço do petróleo seguindo a curva futura por aproximadamente seis meses, passando a aumentar 2% ao ano posteriormente.
Também nesse cenário de referência, o Copom ajustou as suas projeções para a inflação de preços livres em 2025 (4,5% para 5,2%) e o terceiro trimestre de 2026 (3,6% para 3,8%). A projeção para os preços administrados passou de 4,5% para 5,2% este ano e 4,4% para 4,6% no horizonte relevante.
Juros reais
A alta de 1 ponto na taxa Selic manteve o Brasil na segunda posição do ranking de maiores juros reais elaborado pelo site MoneYou, com 9,18%. O País fica atrás apenas da Argentina, com 9,36%, e à frente de Rússia (8,91%), México (5,52%) e Indonésia (5,13%).
O BC calcula que a taxa real neutra de juros do Brasil, que não estimula, nem deprime a economia, é de 5%.
A reunião do Copom desta quarta foi a primeira com a participação dos novos diretores, Nilton David (de Política Monetária), Gilneu Vivan (de Regulação) e Izabela Correa (de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta), chancelados por Lula, cujas indicações passam a ser maioria no colegiado.
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