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Banco Palmas: ex-morador de lixão fundou moeda e banco para comunidade do Ceará

Primeiro banco comunitário brasileiro foi criado em 1998 por Joaquim Melo, em Fortaleza

14 ago 2024 - 05h00
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Joaquim Melo é fundador do Banco Palmas, o primeiro banco comunitário do Brasil.
Joaquim Melo é fundador do Banco Palmas, o primeiro banco comunitário do Brasil.
Foto: Divulgação

A primeira experiência de um banco comunitário e de uma moeda social em circulação no Brasil aconteceu em 1998. Hoje, 25 anos depois da primeira iniciativa de economia solidária e popular, há 182 bancos comunitários em funcionamento no País. Esses bancos – mais de 50% concentrados na região Nordeste – estão organizados em torno da Rede Brasileira de Bancos Comunitários (RBBC).

Coordenador da RBBC, Joaquim Melo, que é educador popular e líder comunitário, ajudou a construir o primeiro banco comunitário do Brasil. Ele fez parte da criação do Banco Palmas, fundado em janeiro de 1998 pela Associação dos Moradores do Conjunto Palmeiras (ASMOCONP), um bairro periférico localizado em Fortaleza, no Ceará.

Em entrevista ao Terra, ele revelou que a inspiração para criar o banco veio de uma experiência desafiadora: o período em que morou em um lixão, a 2km do Conjunto Palmeiras. 

"Eu era seminarista, morava no seminário de padres em Belém (PA). Mesmo morando no seminário, sempre tive desejo de desenvolver um trabalho junto com pessoas em situação de rua. Eu fiquei sabendo que no Ceará estava começando uma experiência que era exatamente essa em um seminário. Decidi ir para lá e acabei indo morar em um lixão", conta.

Durante oito meses daquele ano de 1994, ele compartilhou a vida com catadores de resíduos sólidos. À noite, ele estudava Teologia no seminário.

"Foram aqueles meses em que morei com os catadores de lixo, convivendo com os urubus, com o lixo, que me motivou a ajudar os mais pobres e se originou a ideia de criar o Banco Palmas", acrescenta. 

De lá para cá, os Bancos Comunitários de Desenvolvimento (BCDs) têm exercido um papel importante em comunidades quilombolas, indígenas, assentamentos, vilas de pescadores, territórios rurais e urbanos.

De morador de lixão a banqueiro

Autor de dois livros, o mais recente deles 'As moedas sociais do Brasil' (2010), que narra as diferenças entre as moedas sociais comunitárias e as moedas sociais municipais, Joaquim Melo conta que a ideia de criar o Banco Palmas nasceu da ideia de criar uma moeda que circulasse somente no bairro, de cerca de 30 mil habitantes.

"Eu e mais quatro diretores da Associação dos Moradores do Conjunto Palmeiras tivemos essa ideia [de criar um dinheiro próprio] para fomentar o negócio local. Fizemos várias plenárias populares com os moradores. Em meio às discussões sobre a moeda social, veio a ideia de se criar a agência bancária, que nasceu com o mesmo nome da moeda social".. 

Em circulação em uma área de 120 hectares, a moeda social Palmas, emitida pelo Banco Palmas, começou a circular indexada ao real, no valor de um por um. Ou seja, 1 Palmas vale R$ 1. No início, o banco se capitalizou com doações de moradores locais. Atualmente, a instituição social está consolidada, com 30 funcionários e volume de empréstimo mensal de 1,3 milhão de Palmas.

"Nós fazemos 1 milhão de empréstimo para produção por mês e 300 mil de empréstimos para o consumo por mês", revela Melo, que desenvolveu um sistema econômico com linha de microcrédito alternativo para produtores e consumidores, como instrumentos de incentivo ao consumo local (cartão de crédito e moeda social circulante) e alternativas de comercialização (feiras e lojas solidárias).

Em 2015, Melo conseguiu adequar ao marco regulatório do Banco Central a plataforma digital E-dinheiro. Essa plataforma atende não só os credores do Banco Palmas, mas pessoas de baixa renda, com vários serviços financeiros e bancários, inclusive crédito para pequenos produtores e para o consumo em empresas de locais onde existem um banco comunitário. 

Os Banco Palmas é considerado uma das principais experiências de economia solidária no Brasil.
Os Banco Palmas é considerado uma das principais experiências de economia solidária no Brasil.
Foto: Divulgação

Banco dos pobres

Criador do primeiro banco dos pobres do Brasil, Melo enfatiza que o bairro, o município, ele pode produzir quase tudo que precisa para viver, como roupas, calçados e materiais de limpeza e higiene, por exemplo. Assim,  o papel do banco comunitário e da meta social seria deixar o dinheiro circulando no território para que surjam empresas locais que fomentem trabalho, renda e desenvolvimento econômico na localidade. 

"A maior importância do banco comunitário é deixar o dinheiro circulando no município e valorizar produtos e serviços locais. Quando eu tenho um banco comunitário que financia uma moeda que só funciona ali, o dinheiro circula no próprio município, fazendo surgir empresas locais, evitando que as pessoas gastem seu dinheiro nas grandes corporações", explica o banqueiro.

Melo afirma que nenhum arranjo financeiro no Brasil está tão conectado com os pobres quanto os BCDs. No entanto, ele lembra que no Brasil existem outros players que atuam no  Sistema Nacional de Finanças Solidárias, como os fundos rotativos solidários e as cooperativas de crédito popular. 

"Os fundos rotativos solidários é uma experiência super interessante, onde as pessoas pegam empréstimo e podem pagar por produtos. Por exemplo, eu crio galinha. Eu pego R$ 200 para comprar galinha e posso pagar com os ovos. E também tem as cooperativas de crédito popular, que compõem isso que nós chamamos o campo das finanças solidárias no Brasil", acrescenta.

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Fonte: Redação Terra
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