Bancos de Wall St percebem oportunidade de regras de capital mais flexíveis com Trump
Encorajados por um novo governo Trump mais amigável e por seu sucesso no ano passado em enfraquecer projetos que previam regras mais duras de aumento de capital, os grandes bancos dos Estados Unidos planejam pressionar pela revisão de outros regramentos, de acordo com executivos do setor.
Entre as metas do setor estão a fixação de uma versão muito mais fraca da regra de capital "Basel Endgame", a redução de uma sobretaxa de capital cobrada dos bancos globais, a reformulação de uma restrição importante de alavancagem e a revisão dos "testes de estresse" anuais do Federal Reserve, que avaliam se um banco pode resistir a um choque econômico, disseram três executivos com conhecimento do ambicioso plano de lobby.
No primeiro mandato do presidente eleito dos Estados Unidos Donald Trump, os bancos globais norte-americanos obtiveram algumas vitórias na desregulamentação, incluindo o afrouxamento de regras de negociação e simplificação dos testes de estresse, mas não obtiveram a esperada revisão abrangente de normas de capital implementadas após a crise financeira global de 2007-2009.
Essas regras têm como objetivo evitar outra crise, exigindo que os maiores bancos dos EUA, como JPMorgan Chase, Bank of America e Goldman Sachs, guardem cerca de 1 trilhão de dólares para absorverem possíveis perdas em empréstimos e negociações. Os bancos afirmam que as exigências são excessivas e mal calibradas, e que parte desse dinheiro poderia servir melhor à economia se fosse emprestado.
O setor teve uma vitória parcial no ano passado, depois que um lobby intenso conseguiu reduzir pela metade o capital adicional que os bancos teriam de manter de acordo com a proposta de Basileia e levou o Fed a revisar seu processo de teste de estresse.
Animados por essas vitórias, e com Trump devendo nomear novas autoridades favoráveis a mais flexibilidade ao setor - incluindo um novo chefe regulador do Federal Reserve quase 18 meses antes do esperado - os bancos veem uma oportunidade única de reformular as regras de capital, disseram as fontes.
Em comentários após a publicação de resultado de quarto trimestre na quarta-feira, David Solomon, presidente-executivo do Goldman Sachs - que fez um forte lobby para diluir as regras - disse que espera que a mudança no governo dos EUA leve a uma nova abordagem das normas de capital.
"Parece que estamos em um ambiente em que poderia haver uma discussão construtiva sobre como melhorar a transparência, a clareza e a consistência em torno disso", disse ele.
Após anos de críticas pela crise financeira, os grandes bancos sentem que não precisam mais se desculpar, dizem os executivos. Eles apontam a forma como os grandes bancos resistiram à pandemia e seu papel na estabilização dos bancos regionais dos EUA durante a turbulência em 2023 como prova de que são sólidos e não precisam de regras mais onerosas.
"Tudo o que queremos é uma estrutura regulatória coerente, racional e avaliada de forma holística, que permita que um banco faça seu trabalho de apoio à economia", disse o diretor financeiro do JPMorgan, Jeremy Barnum, durante a divulgação de resultados na quarta-feira.
"A esperança é que consigamos um pouco disso."