BC está "supertranquilo" com inflação e não vê motivação para política monetária diferente, diz Kanczuk
O diretor de Política Econômica do Banco Central, Fabio Kanczuk, afirmou nesta sexta-feira que há pressão inflacionária corrente na economia brasileira, mas que a autoridade monetária não vê o movimento adentrando 2021 e 2022, razão pela qual segue "supertranquilo".
"Isso não deve fazer política monetária ser diferente", disse ele em participação online no evento Itaú MacroVision. "Na nossa leitura, é algo temporário."
Kanczuk destacou que parte da inflação de curto prazo mais alta já era esperada pelo BC conforme foi comunicado em setembro. Ele reconheceu que a magnitude do avanço foi maior, mas frisou que isso não deve constituir um problema para os próximos dois anos --horizonte relevante para a política monetária--, já que o BC prevê retração da demanda "semiartificial" impulsionada pelo auxílio emergencial, com volta do hiato do produto e dos preços.
"Antes da pandemia a gente estava com hiato grande e estava com a inflação muito baixa. Então o cancelamento da pandemia voltaria para essa situação onde a inflação baixa era um problema, e não inflação alta", frisou.
"Na cabeça do Banco Central as coisas estão acontecendo meio como a gente esperava", disse. "A gente está de olho, até porque é nosso trabalho ver em que sentido isso se manifesta no resto dos preços, mas por enquanto, supertranquilo."
Em outubro, o IPCA subiu 0,86%, resultado mais elevado para o mês em 18 anos, conforme dados divulgados nesta manhã pelo IBGE. Em 12 meses, o avanço da inflação é de 3,92%, ficando praticamente no centro da meta para este ano, que é de 4% com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
Segundo Kanczuk, ao olhar a inflação, incluindo a divulgação do IPCA desta quinta-feira, o BC vê a influência da alta dos alimentos e de parte de bens industriais comercializáveis, com funcionamento do passthrough --repasse cambial do dólar mais alto aos preços.
Ele também lembrou que nos últimos "poucos meses" houve aumento das commodities em reais de mais de 20%, com impacto "relevante" na inflação.
A análise é que produtos como eletrodomésticos "subiram bem", disse o diretor, mas num movimento ligado à crise, já que houve uma demanda inchada principalmente nas classes mais baixas, que tiveram recomposição de renda provida pelo governo em níveis acima dos que eram vistos no cenário pré-pandemia.
"Isso a gente, de novo, vê como algo temporário", afirmou Kanczuk. "Com a retração desses estímulos, desses auxílios, a coisa volta à situação normal e é o que a gente espera que vai acontecer no horizonte relevante."
Em sua fala, Kanczuk também considerou que, dado o quadro atual, o estímulo monetário proveniente da Selic em 2% ao ano, combinado com a mensagem de 'forward guidance' do BC de que não subirá os juros desde que algumas condições sejam satisfeitas, "parece ok" para a autoridade perseguir o centro da meta de inflação em 2021 e 2022.
"A comunicação é alguma coisa assim: eu estou preocupado com o fiscal, quando eu olho meu balanço de riscos já está ok, não vejo motivação nenhuma para prover mais estímulo", disse.
ATUAÇÃO NO CÂMBIO
O diretor indicou que a autoridade monetária deve atuar no final do ano no mercado de câmbio em função de grande fluxo esperado no país pela questão do overhedge dos bancos.
De acordo com Kanczuk, o BC tem o tema "super bem monitorado", já que a zeragem de overhedge tem que acontecer neste ano, num ambiente com existência de amarras e restrições de capital dos bancos e fundos, que podem fazer com que o movimento crie problemas. Ele pontuou ser trabalho do BC impedir esses problemas.
"O mercado precisa ser espesso, grosso o suficiente para aguentar um fluxo muito grande que vai acontecer no finalzinho do ano, e o Banco Central (está) pensando em alternativas de como não deixar que esse fluxo seja disruptivo", disse ele.
"A gente tem dúvida se mercado tem espessura suficiente para isso e acha que vai precisar dar alguma ajuda para isso não chacoalhar e com isso o Brasil inteiro sair prejudicado", completou.