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BC não disse que subiria juros se regime fiscal fosse quebrado, diz Campos Neto

7 out 2020 - 16h15
(atualizado às 18h24)
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O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, negou que a autoridade monetária vá elevar a Selic caso o teto de gastos seja desrespeitado, frisando que o gatilho para alta dos juros básicos está ligado à inflação, sendo que o BC segue relativamente tranquilo nesse aspecto.

Presidente do BC, Roberto Campos Neto
07/04/2020
REUTERS/Adriano Machado
Presidente do BC, Roberto Campos Neto 07/04/2020 REUTERS/Adriano Machado
Foto: Reuters

"Foi interpretado de alguma forma como se o Banco Central estivesse dizendo que ia subir juros, e não foi isso", afirmou ele em entrevista à rádio Jovem Pan.

"Isso não quer dizer que o Banco Central vai subir juros, o Banco Central tem uma meta de inflação e vai reagir, obviamente, à medida que esse elemento contamine as expectativas de inflação e contamine a curva de inflação", acrescentou.

De acordo com Campos Neto, a função reação do BC é em relação à inflação e é isso que tem sido comunicado pela autarquia.

Em palestra a investidores promovida pelo JP Morgan na semana passada, Campos Neto indicou, segundo relatos de três fontes que participaram do evento, que o BC retiraria imediatamente seu compromisso de não subir os juros, explicitado na nova política de "forward guidance" (orientação futura), no caso de violação do teto de gastos. [nL1N2GS1KM]

Na entrevista para a Jovem Pan, Campos Neto afirmou que, em sua fala prévia, ele quis ressaltar que o BC, nessa situação, abandonaria o "forward guidance".

"Se houver quebra ou se a gente entender que existe algum tipo de contabilidade criativa que vai fazer com que o perfil da dívida a longo prazo piore, a reação do Banco Central inicial é tirar esse instrumento que nós colocamos, que é instrumento que dá previsão de juros mais baixos por um tempo mais longo", afirmou.

Sobre a inflação, ele reconheceu que existem pressões em curso, mas disse que há pontos que devem ser observados em relação à alta no preço de alimentos, como o efeito do auxílio emergencial e o fato de as pessoas estarem gastando mais com alimentação em domicílio pelo fato de não estarem consumindo determinados serviços num quadro de distanciamento social.

"É importante contemporizar e analisar todos os fatores porque nós olhamos o núcleo de inflação e olhamos o cenário de inflação e, apesar de entendermos que existem essas pressões, nós estamos relativamente tranquilos com o cenário de inflação à frente", disse.

A respeito da perspectiva dos juros básicos no Brasil permanecerem baixos, ele sinalizou que a capacidade ociosa grande sustenta essa possibilidade, mas ponderou que se houver desequilíbrio fiscal que contamine as expectativas, isso pode contaminar a curva de inflação.

"Com disciplina fiscal e com uma perspectiva de estabilidade, nós entendemos que é possível viver com juros baixos mais tempo. O quão baixo eu não tenho como dizer", afirmou.

A Selic está atualmente na mínima histórica de 2% ao ano e o Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne nos dias 27 e 28 deste mês para sua próxima decisão sobre os juros.

DINÂMICA DA DÍVIDA PÚBLICA

Durante sua participação, Campos Neto fez enfática defesa do teto de gastos, complementando que despesas que desrespeitem o mecanismo farão o país sofrer adiante.

"Se esse gasto que você fizer gerar uma grande instabilidade em termos de credibilidade, o custo dele que vai inibir o crescimento futuro é muito maior que benefício que ele gera", afirmou.

O presidente do BC sublinhou que a trajetória da curva de juros no Brasil está muito ligada à percepção de estabilidade fiscal. E indicou que tem conversado com o governo sobre a dinâmica recente da dívida, com a avaliação de que o aumento recente dos prêmios em títulos curtos faz parte de um desequilíbrio "muito perigoso".

O compromisso do governo com a sustentabilidade das contas públicas tem sido colocado em xeque em meio a indefinições sobre o financiamento de um novo programa de transferência de renda a partir do ano que vem e seu enquadramento na regra do teto de gastos.

Questionado sobre a possibilidade da rolagem dos títulos públicos que vencem no curto prazo ficar muito mais complicada caso o governo não consiga passar o recado de comprometimento com o fiscal, ele respondeu "exatamente".

"Começou a ter uma percepção no mercado que a necessidade de rolagem de dívida era muito alta. Isso pressiona o prêmio desses títulos de dívida, faz com que as taxas de juros futuras comecem a subir. O governo reage encurtando um pouco a dívida, depois os próprios papéis de dívida mais curta começam também a ter um prêmio e isso gera uma disfuncionalidade", afirmou.

"Nós (do BC) somos a parte monetária e cambial da equação, mas a gente sempre tem uma interação com o governo no sentido de alertar que isso é um equilíbrio, ou é um desequilíbrio, melhor falando, muito perigoso", acrescentou.

CÂMBIO E NOVA CPMF

Em meio à forte alta do dólar neste ano, o presidente do BC destacou que o real é uma moeda líquida e, com a Selic baixa, há tendência de a moeda ser usada como instrumento de hedge.

Mas ele disse que, mais recentemente, também foi o ruído político e fiscal que fez com que a desvalorização do real se acentuasse.

Sobre o novo imposto sobre transações que o governo quer implementar nos moldes da CPMF com o objetivo de bancar a desoneração da folha de pagamento das empresas, Campos Neto voltou a dizer que "não tem nenhum banqueiro central que não se preocupe com a parte de intermediação financeira, principalmente quando os juros estão muito baixos e quando você tem a possibilidade de ter qualquer imposto de transação financeira".

Um tributo nesses moldes é visto por especialistas como possível empecilho à intermediação financeira de modo mais rápido e expressivo que a CPMF no passado, afetando a dinâmica de investimentos, a expansão do crédito e a quantidade de dinheiro vivo em circulação. [nL1N2FE1RX]

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