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BC sinaliza contração menor do PIB, mas alerta sobre incerteza fiscal afetando investimentos

19 out 2020 - 12h08
(atualizado às 12h50)
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O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, indicou nesta segunda-feira que a contração da economia neste ano deverá ser menor que a recentemente indicada pela autoridade monetária, mas repetiu que o Brasil deve reforçar sua credibilidade fiscal num momento em que incertezas estão prejudicando os investimentos no país.

Campos Neto no Banco Central, em Brasília
9/1/2020 REUTERS/Adriano Machado
Campos Neto no Banco Central, em Brasília 9/1/2020 REUTERS/Adriano Machado
Foto: Reuters

Em participação online na Milken Institute Global Conference, ele estimou que haverá recuo de cerca de 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB). No fim de setembro, o BC havia projetado queda de 5% da economia em 2020 em seu Relatório Trimestral de Inflação (RTI).

Mais cedo nesta manhã, o ministro da Economia, Paulo Guedes, também falou de números melhores para a atividade, prevendo queda de 4% do PIB neste ano, ante perspectiva oficial do Ministério da Economia de -4,7%.

Campos Neto ressaltou que o país gastou bem mais no enfrentamento à crise do coronavírus que outros mercados emergentes, mas que a retomada também está sendo mais forte.

Por outro lado, ele corroborou em mais de um momento a necessidade de o Brasil fortalecer sua credibilidade fiscal para atrair investimentos e achatar a curva de juros, hoje inclinada pelas incertezas em relação à sustentabilidade das contas públicas.

Segundo Campos Neto, é impossível dizer se a Selic continuará no mesmo nível --2% ao ano--, mas frisou que é importante que haja credibilidade para que, qualquer que seja a decisão do BC, haja transmissão para as taxas longas de juros.

O spread entre as taxas de DI para janeiro 2025 e janeiro 2022 --tido como uma medida de percepção de risco-- estava em 319 pontos-base nesta segunda-feira, abaixo da máxima recente (de 355 pontos-base, alcançada no fim de setembro), mas muito acima de mínimas em torno de 250 pontos-base depois de fevereiro/março, quando a pandemia chacoalhou os mercados financeiros globais.

"Entendemos que o desvio (da trajetória fiscal na pandemia) era necessário, mas precisamos comunicar que vamos voltar à disciplina fiscal, esse é um ponto importante que temos hoje", disse Campos Neto.

"A incerteza fiscal está prejudicando um pouco os investimentos no Brasil", complementou ele, acrescentando que é necessário retomar o plano original de abertura de espaço para o investimento privado e resgate da credibilidade.

"No nosso caso, credibilidade será e está conectada a disciplina fiscal e continuidade das reformas. Estou confiante que vamos atingir isso", disse.

As falas de Campos Neto vêm após renovadas preocupações do mercado financeiro com a possibilidade de o estado de calamidade pública ser prorrogado para além de 2020, o que abriria espaço para que o auxílio emergencial continuasse a ser concedido em 2021 sem que fosse preciso obedecer à regra do teto de gastos, que limita o crescimento das despesas públicas à inflação do ano anterior.

O presidente do BC afirmou que o país está num ponto de inflexão importante em que, se mais dinheiro for gasto e houver um programa mais longo de auxílio, o custo em credibilidade é "muito maior do que o benefício da despesa em si".

Campos Neto disse que, para induzir o crescimento, é melhor gastar menos do que mais, uma vez que o país já está sendo penalizado pelo mercado em meio às incertezas fiscais.

Ele também chamou a atenção para a necessidade de melhor comunicação com os investidores para que o país atraia recursos diante de seu forte portfólio, que compreende projetos em infraestrutura e saneamento básico.

"O que precisamos é de credibilidade para assegurar que esse dinheiro venha para o Brasil, porque é isso que vai equilibrar a taxa de câmbio, é isso que vai nos fazer crescer com dinheiro privado", afirmou.

Ainda sobre o câmbio, Campos Neto reconheceu que houve recentemente uma desvalorização maior do real frente ao dólar em relação a seus pares, movimento que atribuiu a diversos fatores, incluindo a baixa taxa de juros num ambiente com muita liquidez, que tende a fazer com que mais agentes façam operações de "hedge" (proteção) com a moeda.

Ele também citou a maior negociação de minicontratos por operadores domésticos, a questão do "overhedge" após mudanças regulatórias e a fragilidade fiscal do país.

O real cai 28,1% ante o dólar em 2020, em termos nominais, pior desempenho entre as principais divisas.

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