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BID se coloca à disposição para contribuir com nova regra fiscal, diz Ilan Goldfajn

Presidente do banco afirma que organismo pode dar o seu apoio apresentando a experiência da América Latina e Caribe

19 jan 2023 - 05h11
(atualizado às 07h56)
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Logotipo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) durante evento no Panamá. 13/3/2013. REUTERS/Carlos Jasso
Logotipo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) durante evento no Panamá. 13/3/2013. REUTERS/Carlos Jasso
Foto: Reuters

DAVOS - O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) está disposto a contribuir com o debate para uma nova âncora fiscal no Brasil. Depois de se reunir com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, o recém-empossado presidente do BID e ex-presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, disse que o organismo pode dar o seu apoio apresentando a experiência da América Latina e Caribe.

O objetivo de Haddad é iniciar o debate sobre a nova regra fiscal do País, que substituirá o teto de gastos, já em fevereiro. Dentre os organismos que pretende ouvir, além de economistas e especialistas, estão atores como o BID e o Fundo Monetário Internacional (FMI). "O BID tem uma expertise em várias áreas do que tem sido feito na região, que coisas deram certo, que coisas deram errado. E, obviamente, se coloca à disposição de todos os países para apresentar a experiência regional", diz Ilan, em entrevista ao Estadão/Broadcast, durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos.

O BID também quer contribuir nas agendas social, na redução de desigualdade de renda e de gênero, e ambiental, suportando o Brasil, sobretudo, na proteção à Amazônia, segundo ele. Depois de uma ala do Partido dos Trabalhadores (PT) agir para derrubar a sua candidatura, Ilan diz que a relação com o ministro Haddad e o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva "está muito boa". Ele é o primeiro brasileiro eleito para comandar o BID. Abaixo, os principais trechos da entrevista:

O senhor teve reuniões com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, em Davos. Quais foram os principais pontos debatidos?

Eu tive reuniões com vários líderes da região: Brasil, México, da América Central, e esse é um lugar que você consegue reunir todo mundo e escutar da região quais são as necessidades, as agendas e definir as prioridades em conjunto. De um lado, as questões sociais, onde trabalhar com a questão da pobreza, como podemos proteger as partes mais vulneráveis e ajudar na questão da desigualdade, não só de renda, mas de gênero. Do outro lado, há uma percepção global, aí não é só dos países da região, sobre a questão ambiental, o aquecimento global, da necessidade de agir enquanto dá tempo, as metas de descarbonização, que são globais. Eu acho que a região faz parte disso e eu vejo cada vez mais as sociedades demandando um olhar para essas questões. Então, a gente tem de trabalhar nisso.

E especificamente em relação ao Brasil?

Além da descarbonização, temos de olhar a questão da Amazônia e aí a conversa com a Marina é natural. Como é que nós podemos trabalhar juntos para a preservação da Amazônia de uma forma sustentável, que mantenha a população. O BID tem a estrutura natural para fazer isso, tem um olhar regional, tem o mandato para trabalhar a questão do clima, da preservação florestal, da biodeversidade, tem, inclusive, a iniciativa Amazonas com recursos disponíveis para olhar os projetos e juntar diferentes atores.

O governo diz que vai abrir o debate sobre a nova âncora fiscal em fevereiro e quer ouvir todos, incluindo o BID. Como o banco pode contribuir?

O BID tem uma expertise em várias áreas do que tem sido feito na região, coisas deram certo, coisas deram errado. E, obviamente, se coloca à disposição de todos os países para apresentar a experiência regional.

Qual a sua visão sobre o pacote de medidas econômicas anunciado por Haddad? É factível?

Não cabe a mim comentar questões nacionais. Eu estou aqui como presidente do BID tentando pensar nas questões regionais, de mandato, e me colocar à disposição de todos os países, inclusive, do Brasil.

O ministro Haddad disse que o BID pode financiar projetos sustentáveis. Já há contratos em vista? Qual o montante a ser liberado para iniciativas brasileiras?

A carteira do Brasil é uma das maiores do BID até porque é um dos maiores países da região. Tem projetos em todas as áreas e, certamente, sustentáveis e continua sendo prioridade. Tem projetos de clima, de infraestrutura tanto física quanto digital. Isso tudo faz parte da prioridade e será um prazer colaborar com o Brasil e com toda a região. O Fórum é um lugar ideal para falarmos dessas prioridades e escutar quais são as demandas.

E como está a relação com o ministro da Fazenda e o governo após os problemas enfrentados na sua candidatura ainda durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro?

A relação sempre foi muito boa durante todo o processo. Tanto que, no final, a eleição deu um mandato relativamente robusto, com mais de 80% dos votos, ganho no primeiro turno quando havia até cinco turnos possíveis, com apoio claro do Brasil. A relação sempre foi e continua muito boa. As agendas têm bastante intersecção.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, afirmou que o Estado vai estrear no mercado de green bonds com o apoio do BID. Como se dará essa parceria? Qual o potencial?

O BID tem uma expertise em instrumentos financeiros que ajudam ao financiamento verde, de alguma forma trazendo o seu apoio, mas também o apoio dos outros parceiros que estão dispostos a ajudar. Tem vários países e a tesouraria do BID pensa em como gerar instrumentos para facilitar esses investimentos. É uma discussão contínua, não começou na minha gestão nem vai parar aqui.

Estadão
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