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Biogás pode ser chave para bioeconomia na Amazônia, aponta estudo

Segundo o Instituto Escolhas, combustível produzido com matéria orgânica poderia substituir soluções mais poluentes, como térmicas a diesel, ou que requerem destruição da biodiversidade, como hidrelétricas

11 ago 2020 - 12h27
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RIO - A bioeconomia tem sido apontada como uma solução para a preservação da floresta amazônica e se torna cada dia mais presente na pauta dos investidores. Mas para desenvolvê-la será necessário levar eletricidade a regiões de difícil acesso, onde as soluções mais óbvias ou são poluentes (térmicas a diesel) ou requerem a destruição da biodiversidade local, como hidrelétricas ou parques eólicos e solares.

Um estudo inédito do Instituto Escolhas aponta o biogás como a melhor opção para a região, por se tratar de um combustível produzido com matéria orgânica, facilmente encontrada na floresta, e que após processado pode se transformar em biometano, um substituto eficiente do gás natural.

"O biometano é excelente rota para estimular a produção de biogás", diz o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Thiago Barral, um dos agentes ouvidos para a elaboração do estudo inédito do Instituto Escolhas: "Do lixo ao luxo: Biogás na agenda da bioeconomia da Amazônia".

Para Barral, o biogás poderá concorrer perfeitamente com outras fontes nos leilões de energia do governo - já tendo participado de dois, em 2006 e 2016 -, e na forma de biometano poderia substituir as importações de diesel, o que reduziria as emissões de gases poluentes em 85%.

Composto principalmente de metano e dióxido de carbono, o biogás é produzido com produtos e resíduos orgânicos agrossilvopastoris, resíduos agrícolas, estercos animais, esgoto doméstico e resíduos sólido urbanos (RSU). Dependendo da matéria prima, é possível também produzir biofertilizantes, que também poderiam reduzir a importação de fertilizantes químicos usados no setor agrícola no Brasil.

"O aproveitamento do biogás na Amazônia é uma agenda em que todos ganham. Ganha a população, que vai dar um destino para o lixo que hoje entope os lixões das cidades amazônicas, e ganham as atividades econômicas, que sem a energia não conseguem se desenvolver. É uma agenda em que todos saem ganhando, promove o desenvolvimento econômico e resolve um grave problema social", avalia Sergio Leitão, diretor-executivo do Instituto Escolhas.

'Estufa a céu aberto'

O Brasil ainda é tímido na produção de biogás, mais presente em países como Estados Unidos e China, que com a Europa concentram 90% da produção global, ou 30 bilhões de metros cúbicos normais (Nm³). Cada Nm³ equivale a 2,07 quilowatts-hora de energia ou 0,69 litro de diesel. Em 2019, a produção brasileira nas 521 plantas em operação foi de 1,3 bilhão de Nm³, sendo 76% a partir de RSU e Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs). O estado do Amazonas ficou com apenas 2% desse total.

De acordo com a Associação Brasileira de Biogás e Biometano (ABiogás), o potencial brasileiro na produção de biogás é de quase três vezes o que produzem os líderes mundiais, ou 84,6 bilhões de Nm³/ano, como informa no estudo. "A Amazônia é uma estufa a céu aberto. É uma capacidade de produção de biomassa gigantesca. A oferta de matéria orgânica é muito maior do que na Região Sul, que vem investindo na produção de biogás", explica o presidente da ABiogás, Alessandro Gardemann.

O combustível poderia ajudar a desenvolver, por exemplo, o cultivo de peixes nativos, ou turbinar a venda de produtos locais como açaí, cacau e castanha, cujo valor é bem mais alto do que a soja, como expôs recentemente o pesquisador sênior do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo Carlos Nobre, em uma apresentação no Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cbeds).

De acordo com Nobre, o valor anual da produção de carne e soja é de R$ 604,00 por hectare, enquanto pode chegar a R$ 12,3 mil para açaí, cacau e castanha.

No caso dos peixes, a comercialização atualmente é feita sem nenhuma estrutura ou beneficiamento, como explica a coordenadora da área de captação de recursos do Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás), Aline Scarpetta. "Nessas regiões, quem pesca tem que vender seus produtos em prazo de tempo muito curto, porque não há sistemas de refrigeração nas áreas isoladas. Ou seja, eles ficam reféns de um mercado sem espaço para negociação e com valores baixos", explicou.

O desenvolvimento do biogás poderia também ajudar a desconcentrar a economia amazonense, altamente localizada na capital, Manaus, que detém 78,9% do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado. "Para desconcentrar, é preciso promover a interiorização das iniciativas a partir da bioeconomia. Mas para isso é preciso ter oferta de infraestrutura, o que inclui o fornecimento de energia elétrica, podendo ser obtido por meio do aproveitamento dos recursos renováveis disponíveis", defende o estudo do Instituto Escolhas.

Formado por nomes como o ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda Bernard Appy; o ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e diretor presidente da Instituição Insper, Marcos Lisboa; o ex-diretor de Políticas Públicas do Greenpeace no Brasil Sergio Leitão; a ex-ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira; entre outros, o Instituto Escolhas é uma associação sem fins econômicos que tem por objetivo produzir estudos e análises que contribuam para a construção de soluções que viabilizem o desenvolvimento sustentável.

Estadão
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