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Biotecnologia agrícola e o acordo Mercosul-UE

Tratado abre importante janela de oportunidades para melhorar a aceitação da Europa a essa tecnologia

24 out 2019 - 04h11
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O consumo mundial de milho deve atingir 1,191 bilhão de toneladas em 2026, alta de 25% sobre o resultado de 2016. Na Ásia, a demanda deve crescer 53%; nas Américas, 38%; na África, 7%; e na Europa, 2%. É o que aponta estudo da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), com base em dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês).

Entre junho de 2018 e junho deste ano, presidindo a Aliança Internacional do Milho (Maizall), visitei diversos países e participei de reuniões em órgãos internacionais decisivos como Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), Organização Mundial da Saúde (OMS) e Organização Mundial do Comércio (OMC). Neste período, pude constatar que o incremento da produção global de milho - imprescindível para atender à demanda mundial - passa pela necessidade de expansão da biotecnologia no campo como tecnologia indispensável para promover redução de custos, ganhos de produtividade e melhoria de renda para o produtor, bem como viabilizar a oferta global de alimentos de qualidade a preços equilibrados para o consumidor.

É de fundamental importância estimular a produção global de milho como política destinada a garantir a segurança alimentar do planeta, já que o grão, entre outras coisas, é o principal insumo para a indústria de carnes, que tem tendência de demanda elevada para as próximas décadas. O mesmo estudo Farsul/USDA destaca que só o consumo mundial de carne bovina, por exemplo, deve chegar a 62 milhões de toneladas em 2026, alta de 11% sobre o consumo de 2016.

A Maizall reúne as entidades representativas dos mais importantes países produtores e exportadores de milho: Brasil, EUA e Argentina. Juntos, os três representam cerca de 50% da produção global do grão e detêm perto de 70% do comércio mundial do cereal. Nominalmente, a aliança é formada pela Abramilho, Conselho de Grãos dos Estados Unidos, Associação dos Produtores de Milho dos Estados Unidos e Associação Argentina dos Produtores de Milho e Sorgo.

Resistência europeia

Em meu mandato, apurei que a Europa permanece como o principal foco de resistência à adoção da biotecnologia agrícola. Há um forte componente ideológico nessa aversão, que requer contrapontos baseados em argumentos científicos sobre a segurança dos Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) e de outras novas tecnologias, como a edição genômica.

Na Europa, tive a oportunidade de conversar com produtores locais. Eles querem usar a biotecnologia, mas questões regulatórias e obstáculos políticos os impedem. O posicionamento europeu acerca da biotecnologia agrícola é crucial porque a negativa europeia tem forte influência sobre outras regiões. Lavouras de milho na África, por exemplo, estão sendo dizimadas por pragas, problema que seria eliminado se as plantações fossem de variedades transgênicas.

O acordo Mercosul-UE, que criará uma gigantesca corrente comercial entre os dois blocos - especialmente de produtos agrícolas e alimentícios - abre uma importante janela de oportunidades para melhorar a aceitação da Europa à biotecnologia. O fato de uma multinacional europeia ter se tornado a detentora do maior portfólio global de sementes transgênicas também pode contribuir para melhorar a receptividade da Europa.

É preciso, ainda, adotar políticas governamentais de equivalência regulatória de OGMs entre países produtores e consumidores, que facilitem o livre-comércio internacional. Recente relatório da ONU alerta que mais de 820 milhões de pessoas ainda passam fome no mundo. A biotecnologia na agricultura é comprovadamente uma ferramenta eficaz e segura para ajudar no combate a este flagelo. E isso passa por mais Ciência e diálogo e menos estereótipos e preconceitos.

*VICE-PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS PRODUTORES DE MILHO (ABRAMILHO), FOI PRESIDENTE DA MAIZALL E DA SOCIEDADE RURAL BRASILEIRA (SRB)

Estadão
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