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BNDES: Mercadante assume comando e fala em mudar a TLP e em elevar crédito para a indústria

Novo presidente afirmou não pretender que o banco de fomento dispute mercado com bancos privados

6 fev 2023 - 12h50
(atualizado às 15h01)
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RIO - Aloizio Mercadante assumiu nesta segunda-feira, 6, a presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Durante a cerimônia de posse, ele voltou a falar em mudanças na Taxa de Longo Prazo (TLP), que baliza os financiamentos da instituição de fomento. Em vigor desde 2018, a TLP segue as taxas de mercado, diferentemente da TJLP, que vigorou desde 1994 e era definida pelo governo federal.

Segundo Mercadante, eventual mudança na TLP será debatida com o Congresso Nacional. "Não queremos e não estamos reivindicando padrões de subsídio no Orçamento, como no passado", afirmou o no presidente do BNDES, em sua cerimônia de posse, na sede do banco, no Rio.

Mercadante voltou a criticar o nível da TLP. Segundo ele, a taxa está acima das verificadas no "custo da dívida pública". "Hoje, a TLP tem custo financeiro acima do custo da divida. Isso penaliza as pequenas e médias empresas", afirmou o novo presidente do BNDES.

Além de refutar a possibilidade de voltar a ter subsídios fiscais com os juros mais baixos do BNDES, Mercadante ressaltou que não pretende que o banco de fomento dispute mercado com os bancos privados.

"Não pretendemos ficar disputando mercado com o sistema financeiro privado. Queremos entrar na Febraban", afirmou Mercadante, em tom de brincadeira, dirigindo-se a Isaac Sidney, presidente da entidade que representa os bancos privados, que estava na plateia da cerimônia de posse.

Sede do BNDES, que fica no Rio de Janeiro
Sede do BNDES, que fica no Rio de Janeiro
Foto: FERNANDO FRAZÃO / AGÊNCIA BRASIL / Estadão

Contexto

A posse de Mercadante marca o início do que parece ser um novo ciclo de expansão do BNDES, após quase sete anos de encolhimento, desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). A guinada rumo à diminuição veio logo no afastamento de Dilma. Uma das primeiras medidas anunciadas pelo então recém-indicado ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, foi justamente uma espécie de "tapering" do BNDES, com a devolução antecipada de R$ 100 bilhões de sua dívida com a União.

O crescimento dessa dívida, motor do gigantismo do BNDES nos governos do PT, se deu à base de aportes bilionários do Tesouro Nacional como "funding" para o banco. Foram cerca de R$ 440 bilhões entre 2009 e 2014. No governo Jair Bolsonaro (PL), a aceleração do ritmo das devoluções também foi uma das primeiras medidas anunciadas pelo ex-ministro da Economia Paulo Guedes. Mesmo diante de uma pausa, por causa da crise causada pela covid-19, essa aceleração se manteria - em novembro passado, como antecipou o Estadão/Broadcast, o BNDES fez mais uma devolução, de R$ 45 bilhões; os R$ 24,1 bilhões que restaram deverão ser pré-pagos até novembro deste ano.

Ao mesmo tempo, o BNDES vendeu R$ 88,5 bilhões em ações de grandes empresas, que estavam alocadas em sua bilionária carteira de participações societárias, entre 2019 e 2022, e viu suas concessões de crédito tombarem. Em 2021, os desembolsos responderam por 0,74% do PIB, o menor nível da série histórica divulgada pelo BNDES, iniciada em 1995 - o auge, de 4,33%, foi atingido em 2010.

O tombo no crédito do BNDES se deveu tanto à queda da procura das empresas por financiamentos de longo prazo - afinal, os investimentos colapsaram na recessão de 2014 a 2016, e, na retomada, seguiram rateando - quanto a questões relacionadas às condições oferecidas. Em 2016, a diretoria comandada por Maria Silvia Bastos Marques mudaria a taxa de juros do BNDES. O desenho da nova taxa, a TLP, antecipado pelo Estadão/Broadcast no fim de 2016, aproximou os juros do banco de fomento dos cobrados pelo mercado. Era o fim do que economistas críticos chamavam de "meia-entrada" do mercado de crédito, a TJLP.

Por isso, o mercado financeiro segue atento para as possíveis mudanças que a nova gestão do BNDES, capitaneada por Mercadante, poderá fazer na TLP. Uma mudança mais profunda e uma expansão maior no crédito direcionado poderiam tirar potência da política monetária, segundo ex-diretores do Banco Central (BC) ouvidos pelo Broadcast na semana passada.

A mudança na TLP esteve na pauta da elaboração do programa de governo do hoje presidente Lula, no ano passado, ainda que sem muito destaque. Ao longo da campanha, a ex-ministra Míriam Belchior, que trabalhou com propostas para a infraestrutura no programa de governo da candidatura de Lula, e hoje é secretária-executiva da Casa Civil, fez críticas à TLP. O próprio Mercadante teceu suas críticas, em dezembro, no gabinete de transição de governo.

De lá para cá, o novo presidente do BNDES tem dito, sem detalhes, que os planos não incluem uma volta à TJLP, mas, sim, alguma forma de moderação na TLP - as declarações são mais claras no sentido de negar a possibilidade de voltar a recorrer a aportes do Tesouro, o que ligaria um alerta sobre a possibilidade de aumento nos subsídios fiscais implícitos. A chegada de Mercadante, petista histórico, ao BNDES dá peso político para o banco, o que poderia aumentar as chances de mudanças mais profundas, inclusive na TLP.

Mercadante tem dito que não há espaço fiscal para subsídios nos juros como antes. A questão é que, se o impulso que a nova gestão do banco pretende dar à "reindustrialização" da economia, como Mercadante também tem dito, for via condições mais vantajosas de crédito, uma simples moderação na TLP poderá ser insuficiente. O mesmo vale para o objetivo de impulsionar o crédito para empresas de menor porte. Para o mercado, como disse uma fonte em dezembro, sob condição do anonimato, ideal seria não haver nenhuma mudança, mas a eventual aplicação de redutores à TLP seria melhor do que a recriação de uma TJLP definida administrativamente pelo governo.

Reindustrialização

Ao mencionar o "desafio da "reindustrialização" na cerimônia de posse, Mercadante afirmou que "não se trata da velha indústria". "Trata-se da nova indústria: digital, descarbonizada, baseada em circularidade e, assim, intensiva em conhecimento. Essa nova indústria exigirá inovação e grandes investimentos na pesquisa aplicada", discursou o novo presidente do BNDES.

Segundo Mercadante, a participação da indústria nos desembolsos do BNDES era de 56% do total, em 2006, e caiu para 16%, em 2021. "Temos que reverter isso, isso não pode continuar", afirmou o presidente do BNDES.

Ao mencionar a nomeação de Rafael Lucchesi, diretor da Confederação Nacional da Industria (CNI), como presidente do Conselho de Administração do BNDES, Mercadante ressaltou que seu objetivo é "colocar a indústria no topo das ações estratégicas do BNDES".

O novo presidente do banco aproveitou para anunciar que o ex-ministro de Relações Exteriores e atual assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim, e Clemente Ganz, que foi diretor do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), serão indicados como membros do Conselho de Administração.

Mercadante aproveitou para ressaltar a nova ênfase em sustentabilidade. "Não haverá futuro se não preservamos a Amazônia e outros biomas", afirmou o novo presidente do BNDES, dirigindo-se à ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva, que estava na plateia da cerimônia de posse.

Estadão
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