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Boeing desiste de comprar divisão de aviação comercial da Embraer

25 abr 2020 - 12h43
(atualizado em 26/4/2020 às 08h00)
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Empresa americana, que vem sofrendo crise gerada por problemas no 737 MAX e efeitos da pandemia sobre mercado de aviação, disse que brasileira não "atendeu condições necessárias". Negócio era avaliado em US$ 4,2 bilhões.A gigante aeroespacial Boeing anunciou oficialmente neste sábado (25/04) que desistiu do acordo bilionário para adquirir a divisão de aviação comercial da brasileira Embraer.

Foto: DW / Deutsche Welle

O negócio havia sido desenhado pelas duas empresas em 2018 e era avaliado em 4,2 bilhões de dólares. Pelo acordo, a Boeing e a Embraer seriam parceiras em duas joint-ventures. A principal delas, envolvendo a área de aviação comercial da Embraer, seria controlada pelos americanos, que teriam 80% de participação. Os 20% restantes permaneceriam sob controle da companhia brasileira.

As empresas tinham até a meia-noite de sexta-feira para fechar o acordo em termos técnicos, mas ao longo da semana já surgiram especulações de que o negócio enfrentaria problemas.

Em comunicado, a Boeing responsabilizou a Embraer pelo cancelamento, afirmando que "exerceu seu direito de rescindir (o contrato) após a Embraer não ter atendido as condições necessárias", sem especificar que condições eram essas.

"Há vários meses temos mantido negociações produtivas a respeito de condições do contrato que não foram atendidas, mas em última instância, essas negociações não foram bem-sucedidas. O objetivo de todos nós era resolver as pendências até a data de rescisão inicial, o que não aconteceu", disse Marc Allen, presidente da Boeing para a parceria com a Embraer e operações do Grupo.

Apesar do tom da nota, outros fatores parecem ter desempenhado um papel decisivo na decisão da Boeing. No momento, a aeroespacial americana enfrenta a maior crise da sua história, que envolve problemas com sua aeronave 737 MAX e a retração vertiginosa no mercado de aviação causada pela pandemia de covid-19.

O preço das ações da Boeing desabou por causa da dupla crise. No final de 2019, suas ações estavam avaliadas em 1.820 reais. Na última sexta-feira, não passavam de 716 reais.

A Boeing chegou a pedir um auxílio de 60 bilhões de dólares ao governo americano para que a indústria aeronáutica americana consiga superar a crise. Tudo isso despertou dúvidas sobre se a companhia teria capacidade para pagar os 4,2 bilhões de dólares pelo setor de aviação civil da Embraer.

A própria Embraer também sofreu com os efeitos da pandemia, que provocaram revisão de pedidos. No final do ano passado, cada ação da companhia estava avaliada em 109 reais. Na última sexta-feira, não passavam de 32,50 reais. Dessa forma, o valor da Embraer em bolsa ficou até mesmo abaixo dos preços estipulados no acordo.

Além disso, o negócio enfrentava resistência na União Europeia. Ao longo de dois anos, as duas empresas venceram a resistência de acionistas, do governo brasileiro (que tinha a prerrogativa de vetar o negócio), do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e até mesmo da Justiça (que chegou a suspender a fusão). Mas órgãos regulatórios da UE ainda não haviam dado seu aval até agora e a Comissão Europeia chegou a abrir uma investigação aprofundada sobre o tema, devido a uma potencial ameaça à competição nos preços e desenvolvimentos de produtos no setor da aviação.

Pelos termos negociados do acordo, a Boeing ficaria com 80% da joint-venture a ser criada com a divisão e a Embraer poderia vender sua parte restante posteriormente. Se tivesse sido concluído, a Embraer ainda ficaria com os negócios de defesa e jatos executivos.

O negócio era visto como estratégico pelas duas empresas. Para Boeing, permitiria entrar com peso no mercado de jatos regionais. Também poderia concorrer nessa área com a europeia Airbus, que adquiriu em 2017 uma linha de jatos regionais da canadense Bombardier.

As negociações ainda contemplavam a criação de uma segunda joint-venture voltada para a produção da aeronave de transporte militar Embraer C-390 Millennium, com participação de 51% da Embraer e 49% da Boeing. Com o abandono do negócio, esta joint-venture também naufragou, mas a empresa americana ainda afirma que pretende manter um acordo para a comercialização e manutenção conjunta da aeronave.

JPS/ots

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