Bolsa cai 1,54% pressionada por Americanas e possível salário mínimo acima de R$ 1.320
Dólar avançou 0,83%, cotado a R$ 5,14, em dia de baixa liquidez, com feriado de Martin Luther King nos Estados Unidos
O temor com a exposição dos bancos às Americanas levou o Ibovespa à terceira queda seguida nesta segunda-feira, 16, em um dia de redução dos preços de commodities e de baixa liquidez devido ao feriado de Martin Luther King Jr., que fechou as Bolsas nos Estados Unidos. O principal índice de referência da B3 encerrou a sessão em 109.212,66 pontos, em baixa de 1,54%, na maior contração diária desde o último dia 3 (-2,08%), quando o ministro Carlos Lupi havia defendido a revogação da reforma da Previdência. Com o resultado, o índice apagou os ganhos do ano e cai 0,48% no acumulado de 2023.
Em baixa desde o início da sessão devido às preocupações em torno da varejista e ao aumento das expectativas de inflação e juros apuradas no relatório Focus, o Ibovespa tocou a mínima de 108.802,91 pontos (-1,91%) em meados da tarde, minutos após o Broadcast divulgar que o governo estuda aumentar o salário mínimo acima dos R$ 1.320 previstos no Orçamento. A informação renovou no mercado as preocupações com as contas públicas, mesmo depois de o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), ter defendido em Davos uma "retomada econômica com sustentabilidade fiscal".
"Basicamente, o que refletiu hoje foi a questão do aumento do salário mínimo acima do que já está no Orçamento e o efeito sistêmico da recuperação judicial das Americanas, com o mercado preocupado principalmente com Americanas", diz o sócio e economista da Valor Investimentos Gabriel Meira. "Com a questão de a dívida da Americanas ter batido perto de R$ 40 bilhões e da recuperação judicial, o mercado está bem receoso quanto a um efeito sistêmico."
Os papéis da varejista derreteram 38,41% no pregão de hoje, após o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) ter concedido na sexta-feira, 13, 30 dias corridos para a empresa entrar com pedido de recuperação judicial. Com a crise na Americanas, os maiores bancos credores da empresa fecharam em baixa e puxaram as perdas do Ibovespa. As units do BTG Pactual caíram 3,38%, enquanto as do Santander cederam 4,41%. Também tiveram baixas Bradesco (-2,21% ordinárias, -3,07% preferenciais) e Itaú Unibanco (-1,08% ). O índice setorial financeiro da B3 caiu 1,73% e acumula perda de 0,52% em 2023.
A queda dos preços de commodities no mercado internacional também penalizou a Bolsa brasileira, enquanto o mercado acompanha a situação sanitária na China após o abandono da política de Covid Zero no país. Após saltar mais de 8% na semana passada, o petróleo Brent para março fechou em baixa de 0,96%, a US$ 84,46 o barril. Em meio à redução dos preços do óleo, os papéis da Petrobras tiveram baixas de 2,16% (preferenciais) e 2,49% (ordinárias), acompanhados por pares como 3R Petroleum (-0,27%).
A redução dos preços do minério de ferro - que cedeu 4,31% na Dalian Commodity Exchange, na China, a US$ 123,71 a tonelada - também levou a perdas de mineradoras e siderúrgicas durante a sessão. A Vale encerrou o dia em baixa de 1,67%, acompanhada por Gerdau (-1,67%), CSN Mineração (-1,66%) e Usiminas (-0,90%). "Resvalou pelo Brasil essa queda das commodities, levando todo o setor a trabalhar em queda. Isso porque a preocupação agora é quanto à política da China frente aos novos casos de mortes de covid", diz o especialista de renda variável da Blu3 Dennis Esteves.
Para o operador de renda variável da B. Side Investimentos Lucas Mastromônico, o dia foi marcado por um cenário que impediu a materialização dos vetores positivos que sustentaram as altas da Bolsa brasileira na semana passada. "Hoje é feriado nos EUA, com liquidez muito reduzida, o que acabou aumentando o peso dos fatores internos, e o interno está muito preocupado. O que estava puxando as altas do Ibovespa eram as commodities e a entrada de recursos estrangeiros, dois fatores que não temos hoje", avalia.
Após uma baixa de 2,48% na semana passada, o dólar encerrou a sessão desta segunda-feira, 16, em alta de 0,83%, cotado a R$ 5,1486. Apesar da alta deste pregão, o dólar ainda acumula baixa de 2,49% em janeiro.
"O dólar subiu contra outras moedas emergentes hoje, em que tivemos quedas das commodities. E houve essa questão do salário mínimo", afirma o head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, ressaltando que a alta de hoje não é expressiva. "Temos que lembrar que o dólar caiu em sete dias seguidos, de R$ 5,45 até mínima de R$ 5,05. Então, tem uma realização após essa queda forte".