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Bolsa Família: Entenda a decisão de Gilmar Mendes e como ela mexe com a PEC da Transição

Ministro determinou que despesas com programas sociais, como o Bolsa Família, ficarão fora do teto de gastos do governo

19 dez 2022 - 12h53
(atualizado às 16h46)
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Reportagem do 'Estadão' mostrou que governo transfere R$ 83,9 milhões do Bolsa Família para investir em propaganda
Reportagem do 'Estadão' mostrou que governo transfere R$ 83,9 milhões do Bolsa Família para investir em propaganda
Foto: Agência Senado/ Divulgação / Estadão

A decisão do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, determinando que as despesas com programas sociais como o Auxílio Brasil - que será rebatizado de Bolsa Família - fique fora do teto de gastos tira a pressão de Lula (PT) para que o presidente eleito aprove a PEC da Transição, dando mais segurança caso o governo eleito precise optar pelo plano B para financiar o pagamento de R$ 600: abrir um crédito extraordinário por medida provisória (MP) para bancar o programa.

Por outro lado, o despacho também abre caminho a Câmara dos Deputados tente reduzir o valor da proposta.

A decisão de Gilmar ocorre em meio à dificuldade do governo eleito em negociar a PEC da Transição na Câmara, pela pressão do Centrão por cargos na Esplanada dos Ministérios em troca de apoio à proposta. A PEC, porém, deve continuar a ser o plano A do novo governo, afirmou nesta segunda-feira o futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Veja, abaixo, o que é a decisão de Gilmar Mendes e como ela mexe com a PEC da Transição.

Por que o ministro Gilmar Mendes determinou que o Bolsa Família fique fora do teto de gastos?

Gilmar Mendes atendeu a um pedido da Rede Sustentabilidade, partido que apoiou Lula nas eleições deste ano.

Na prática, o que essa decisão permite?

Essa decisão reduz a pressão sobre o governo eleito para a aprovação da PEC da Transição travada na Câmara a menos de duas semanas da posse de Lula. Ela dá mais segurança jurídica para uma outra alternativa de financiamento do programa: a abertura de crédito extraordinário por medida provisória (MP). A equipe de Lula temia essa alternativa diante da possibilidade de quebrar regras fiscais. A decisão de Gilmar, portanto, dá mais segurança ao governo eleito de que conseguirá viabilizar sua principal promessa de campanha.

Por que o governo eleito enfrenta impasses na negociação da PEC da Transição na Câmara?

A PEC virou um impasse entre Lula e Lira, que se reuniram no domingo, 18, em Brasília - embora os dois tenham interesse na aprovação da proposta. Lula, para aumentar as despesas de 2023 e cumprir promessas de campanha. Lira, para destravar as verbas do orçamento secreto deste ano e ter poder de barganha nos recursos que serão liberados com a PEC. O presidente da Câmara é candidato a novo mandato à frente da Casa. A disputa está marcada para 1.º de fevereiro de 2023.

Nos bastidores, os partidos do Centrão calculam não ter ainda os 308 votos necessários para a aprovação da proposta. Nos bastidores, muitos têm condicionado o apoio à PEC da Transição, sem mudanças, a uma farta distribuição de cargos na Esplanada.

Lira, por exemplo, calcula conseguir 90 votos do Centrão. Ele tenta emplacar o deputado Elmar Nascimento (BA), líder do União Brasil, no Ministério de Minas e Energia. Relator da PEC da Transição, Elmar foi chamado neste sábado, 17, para uma conversa com Lula. Há cobranças do Centrão por pastas com visibilidade e recursos, como Cidades e Transportes, que serão recriadas, além de Saúde. Lula, porém, não aceita entregar Saúde, que ficará com a socióloga Nísia Trindade Lima, presidente da Fiocruz.

A decisão de Gilmar invalida a PEC da Transição?

Não. A PEC, se aprovada como está, vai permitir ampliar o teto em 145 bilhões para o programa social. A liminar de Gilmar, porém, permite abrir crédito extraordinário apenas para pagar o restante para completar os R$ 600 - valor avaliado em R$ 52 bilhões. Segundo explicou ao Estadão um técnico responsável pela redação da PEC, na prática, a decisão permitiria ao governo eleito "retirar" esse valor da PEC em 2023.

Governo eleito negocia a PEC da Transição na Câmara
Governo eleito negocia a PEC da Transição na Câmara
Foto: Pedro França/Agência Senado / Estadão

O governo eleito deve insistir na PEC da Transição mesmo com a decisão de Gilmar?

A PEC da Transição continua a ser o plano A do governo eleito, como declarou o futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Isso porque a decisão de Gilmar libera o futuro presidente para aumentar o Bolsa Família de R$ 400 para R$ 600, ampliando o valor previsto atualmente no Orçamento de 2023, fora do teto de gastos, mas não resolve outros gastos que Lula quer liberar com a aprovação da PEC, como o benefício extra de R$ 150 por criança de até seis anos, promessa de Lula os recursos para recompor as áreas de saúde e educação e a construção de obras públicas no próximo mandato.

Aliados de Lula reforçam que o presidente eleito não vai desistir da PEC, apesar da decisão de Gilmar. O despacho poderá ser submetido aos outros ministros do Supremo no ano que vem, o que aumenta a incerteza sobre o desfecho, além de não contemplar acomodar outras promessas eleitorais e que Lula não quer apenas garantir as despesas para o Bolsa Família, mas depende da PEC para recompor outros gastos no Orçamento, como saúde, educação e investimentos.

A decisão de Gilmar pode ir a plenário do STF?

Pode, mas esta segunda, 19, é o último dia do STF em 2023. Portanto, para isso, teria de haver uma sessão extraordinária ainda nesta segunda, até 24h, ou só no ano que vem.

Como a decisão de Gilmar repercutiu entre os líderes do Centrão?

A decisão do ministro do STF também provocou irritação entre líderes do Centrão, que reclamam da interferência do Supremo no assunto no momento em que os parlamentares usam a PEC para forçar Lula a fazer uma negociação com o Congresso. O despacho de Gilmar se soma a uma outra insatisfação dos parlamentares, que é o julgamento do orçamento secreto na Corte. "O Supremo poderia se reunir esta semana ainda e votar o Orçamento de 2023. Se reúnem lá os 11, votam o Orçamento e estamos liberados", ironizou Ricardo Barros.

No Senado, aliados de Bolsonaro querem usar a decisão para aumentar a pressão contra o STF, incluindo tentativas de abrir processos de impeachment contra ministros e limitar o poder decisório da Corte. "O Senado é a única instituição que pode tomar alguma medida e, para doença grave, só remédio amargo", disse o senador Plínio Valério (PSDB-AM), que pediu a colegas pra se reunirem em Brasília ainda nesta segunda-feira e discutir estratégias.

Estadão
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