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Pandemia pode colocar contas do Brasil no azul só em 2033

Estudo de instituto do Senado mostra ainda que rombo de 2020 deve ser de R$ 912,4 bi

15 jun 2020 - 05h12
(atualizado às 07h31)
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BRASÍLIA - Os gastos para minimizar a crise provocada pela pandemia da covid-19 e a perda de receitas com a desaceleração da economia levarão União, Estados e municípios a registrar um rombo de R$ 912,4 bilhões em 2020, segundo estimativa da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado a ser revelada nesta segunda-feira, 15. Só nas contas do governo central, que reúne Tesouro, INSS e Banco Central, o déficit deve ser de R$ 877,8 bilhões.

A turbulência deixará cicatrizes pelos próximos anos. No cenário atual da IFI, o Brasil só voltará a ter contas no azul em 2033. Caso isso se confirme, serão quase duas décadas de rombos sucessivos desde o primeiro ano de déficit, em 2014. Significaria também que os próximos dois presidentes da República teriam seus mandatos integralmente marcados por desequilíbrio nas contas públicas.

Crise do coronavírus deixará cicatrizes pelos próximos anos
Crise do coronavírus deixará cicatrizes pelos próximos anos
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil / Estadão Conteúdo

O diagnóstico acende um alerta para a sustentabilidade fiscal do País. A dívida bruta como proporção do PIB, indicador observado por investidores para analisar a capacidade de um governo de honrar seus compromissos, dará um salto para 96,1% em 2020, mais de 20 pontos acima do verificado no ano passado (75,8%). A previsão é que em 2022 a dívida ultrapasse a marca de 100% do PIB, mas isso pode ser antecipado para este ano caso o desempenho da economia piore ainda mais.

A IFI projeta uma queda de 6,5% no PIB este ano, mas o tombo pode chegar a 10,2% em um cenário mais pessimista. Já em 2021, o crescimento deve ser de 2,5%, insuficiente para recuperar a economia integralmente após o baque provocado pelo novo coronavírus. A estimativa da IFI é que o País retome o patamar pré-crise apenas em 2023.

Com um cenário fiscal "cada vez pior", o diretor executivo da IFI, Felipe Salto, afirma que a atuação do governo precisa ser "intensa e eficiente". "O governo precisa sinalizar como vai conduzir a economia e as contas públicas depois da tempestade. Ao mesmo tempo, quanto mais ineficiente for a atuação neste período de crise, piores as consequências pro crescimento a partir de 2021."

O governo tem sido alvo de críticas pela demora na liberação de crédito às empresas, sobretudo pequenas e médias, que sofrem mais com a crise. Ao mesmo tempo, o Congresso ainda não aprovou o texto que vai permitir à equipe econômica prorrogar o prazo máximo de suspensão de contratos de trabalho na crise - medida aguardada por empresas como alternativa à demissão de funcionários.

O temor é que a falta de agilidade prolongue a crise. "Se a crise se estender para além de 2020, é possível que ações adicionais sejam necessárias, o que pioraria as projeções para 2021", diz o relatório da IFI.

Explosão da dívida

Sem perspectiva de reequilíbrio nas contas nos próximos anos, o País verá sua dívida bruta chegar a 117,6% do PIB em 2030 nos cálculos da instituição. O patamar é considerado elevado para países emergentes como o Brasil.

Segundo o diretor da IFI, a aprovação de reformas estruturais ou eventual aumento na carga tributária podem melhorar o cenário projetado.

Para ele, a chamada PEC emergencial, que inclui propostas como possibilidade de redução de jornada e salários de servidores, pode auxiliar na contenção de gastos. O texto, no entanto, está parado no Senado. A equipe econômica também tem apostado na retomada do debate da reforma tributária, o que melhoraria o ambiente de negócios brasileiro.

Estadão
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