60% da renda da produção orgânica do País vem da exportação
Em 2012, o Butão anunciou a meta de tornar-se, até 2030, o primeiro país com agricultura 100% livre de agrotóxicos. Para o Brasil, os objetivos da produção orgânica são bem mais modestos: ampliar internamente um mercado que hoje é mais valorizado no exterior.
Estima-se que haja quase um milhão de hectares de cultivo orgânico no País, além da produção extrativista orgânica na região Norte, informa o engenheiro agrônomo Alexandre Harkaly, diretor executivo do IBD, certificadora brasileira credenciada pela Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura Orgânica.
Do total produzido, 95% está nas propriedades de pequenos e médios produtores, e 60% (em valor) é exportado. As commodities, como açúcar e café, são quase que totalmente negociadas com países estrangeiros, enquanto todas as frutas, verduras e legumes são vendidos internamente. Conforme Harkaly, o Brasil é considerado pelos principais importadores de orgânicos (Estados Unidos, União Europeia e Japão) como o país de maior potencial de produção orgânica para exportação.
No Brasil, as hortaliças orgânicas são restritas aos pequenos produtores, diferentemente do que ocorre com o açúcar orgânico. “A Usina São Francisco, em Sertãozinho/SP, produz quase metade do açúcar orgânico do mundo. Há pequenos produtores de açúcar mascavo, mas que desaparecem frente às quantidades citadas de açúcar orgânico”, diz.
No mundo, estima-se que os orgânicos movimentem mais de US$ 50 bilhões por ano. Mas o Brasil não aproveita plenamente essa oportunidade. De acordo com Harkaly, a fim de aumentar o mercado interno, é preciso que os consumidores saibam claramente o que significa um produto orgânico.
A cultura orgânica não busca apenas a sustentabilidade social, mas também a econômica e a social. Ou seja, além de eliminar o uso de agrotóxicos e adubos químicos, o cultivo protege a fauna, as águas, o ar, a biodiversidade, o solo e até as relações entre patrões e empregados. “Dá para escrever um livro sobre as vantagens do orgânico para a humanidade e para o planeta”, diz Harkaly. “Ao saber disso, a população prestará mais atenção aos orgânicos, e o mercado deverá se ampliar”, completa.
Certificação
Segundo o engenheiro agrônomo José Pedro Santiago, membro do Grupo Gestor do IBD, a certificação garante ao mercado que o produto com o selo orgânico é realmente produzido segundo as normas oficiais da agricultura orgânica, expressas na Lei 10.931.
Ele diz que o procedimento de certificação é simples, ágil, empresarial, informatizado e não é burocrático, embora seja exigente. Inicialmente, após a primeira inspeção, o produtor passa por um período de conversão para o sistema orgânico, que varia de um a dois anos pela lei brasileira, ou de dois a três anos para os mercados europeu, norteamericano e japonês.
“Só depois que o produtor tiver feito as mudanças necessárias para se tornar orgânico, o que é verificado nas inspeções, recebe o Certificado Orgânico do IBD e poderá vender seus produtos como orgânicos”, explica. A renovação da certificação é sempre anual, seja para mercado interno ou para exportação.