Gigante argentino El Tejar concentra suas atenções no Brasil
O grupo argentino El Tejar já era o maior produtor de soja do Brasil desde 2011. Mas agora, uma década após chegar ao País, vestirá de vez a camisa. Em 24 de abril, oficializou o novo CEO, o brasileiro Luiz Kauffmann. Um dia depois, informou que a sede administrativa da companhia será transferida de Buenos Aires para São Paulo. Nada mais natural, já que mais de 60% de suas atividades se encontram aqui.
O novo CEO, que já comandou os grupos Medial, Aracruz e os negócios da família Biagi – tradicionais produtores de cana-de-acúcar de Ribeirão Preto (SP)-, não é o único brasileiro na diretoria da empresa. Desde novembro de 2012, o economista Marcello Mascotto Iannalfo, ex- Trip Linhas Aéreas, atua como diretor financeiro do grupo.
Uma década
O braço brasileiro do El Tejar, a empresa local O Telhar, instalada aqui desde 2003, investiu mais de US$ 400 milhões no País. Só no Brasil, El Tejar conta com 21 unidades produtoras no Mato Grosso, que integram o total de 700 mil hectares na América do Sul. Ao todo, gera mais de 1,1 mil empregos diretos no País.
A área de produção no Brasil não é revelada, mas se estima que o grupo tenha aqui pelo menos 250 mil hectares de soja plantados. Em 2011, a produção total em território nacional atingiu 670 mil toneladas do grão. Para João Carlos Kopp, consultor em comercialização de grãos, é fácil entender a concentração das atividades da companhia no Brasil. “Tem muito mais espaço para plantar. Só no Mato Grosso, há mais cinco de milhões de hectares de área de pastagem degradadas e que podem ser recuperadas. No Rio Grande do Sul, as plantações de soja já estão perto do porto de Rio Grande, onde nunca se pensou que se pudesse plantar soja”, avalia.
Com grande poder de investimento, o grupo se expandiu de forma rápida e certeira no Brasil. Para isso, pagou um preço alto - e faturou arrendamentos da concorrência. A estratégia é revelada pela própria empresa, em seu site: “Escolher as melhores terras regionais para a produção de commodities traduz-se em altos níveis de produtividade desde o primeiro momento e permite uma constante apreciação do valor dessas terras”.
Nessa investigação de terras, a El Tejar usa imagens de satélites e dados climáticos para mapear completamente o local e traçar um panorama de sua produtividade. “Acreditamos que a nossa metodologia para identificar e avaliar os campos nos ajuda a minimizar o alto custo de arrendar ou comprar erroneamente terras menos produtivas”, explica.
Saída
Fundado em 1987, na província de Buenos Aires, o grupo El Tejar, um dos maiores produtores de grãos do mundo, chegou a possuir mais de 300 mil hectares de área plantada na Argentina. Devido a instabilidades no país de Cristina Kirchner, no entanto, a empresa reduziu sua atuação para 30 mil hectares no último ano.
Por lá, a seca que ocorreu durante a safra de 2008/2009 e o subsequente aumento dos aluguéis de terra levaram o grupo a perder rentabilidade. Em 2011/2012, a área já havia caído para 180 mil hectares. A alta de preços forçou uma mudança de rumo: a empresa passou a priorizar terras próprias em vez de arrendamentos. Na província de Santa Fé, por exemplo, o preço do aluguel pulou de US$ 150 em 2001 para US$ 650 no ano passado, segundo o jornal La Nación.
Abertura
Além de Argentina e Brasil, a companhia também opera no Uruguai e na Bolívia. Capitalizada por fundos de investimento em 2006 e 2009, ensaiou um IPO no ano passado que ainda não se materializou. A expectativa do mercado, porém, é que as mudanças recentes conduzam a El Tejar para uma abertura de suas ações na Bolsa.
Procurado pelo Terra, o grupo El Tejar não concedeu entrevista. De acordo com a assessoria de imprensa, a política de comunicação corporativa ainda não foi definida completamente.