Lagarta que causou perda bilionária na lavoura é investigada
Com prejuízos superiores a um bilhão de reais apenas em lavouras da Bahia, os ataques da lagarta Helicoverpa armigera estão no centro de uma polêmica que transcende os limites do estado nordestino. A aparição em grande escala da praga quarentenária, até então ausente do País, levou a uma série de cogitações. Entre elas, uma hipótese inusitada: bioterrorismo.
Conforme o secretário de Agricultura da Bahia, o engenheiro agrônomo Eduardo Salles, a suspeita fez o governo federal inserir a Agência Brasileira de Inteligência e a Polícia Federal no processo. Mas ele evita fazer afirmações definitivas sobre o assunto. “É uma praga exótica no país e que apareceu em seis estados. Então é, no mínimo, estranho”, diz.
Salles entende que o problema envolvendo a lagarta ainda é subestimado no País e que a produção nacional de alimentos pode ter a próxima safra comprometida ou até inviabilizada. Numa comparação com a pecuária, ele considera a ameaça da Helicoverpa armigera mais grave que a da febre aftosa.
Na Bahia, foram registrados ataques em lavouras de soja, algodão e feijão. Como resposta, o governo baiano liberou o uso do defensivo benzoato de emamectina - que acabou suspenso no início de junho pelo Ministério Público. Salles diz que a aplicação do produto é importante para baixar as populações da lagarta, seguida por ações de manejo integrado e controle biológico. Para a próxima safra, foi aprovada compra de uma semente chinesa resistente à praga.
Espécie
A espécie se alimenta de folhas e caules, mas tem preferência por brotos, inflorescência, frutos e vagens. Conforme a doutora em Entomologia Agrícola Karina Cordeiro Albernaz, trata-se de uma praga com alto potencial reprodutivo: cada fêmea oviposita de 1.000 a 1.500 ovos no ciclo de vida. “Os adultos podem se dispersar facilmente pelas lavouras ou mesmo migrar a grandes distâncias”, explica.
Esse hábito pôde ser comprovado neste ano em lavouras brasileiras. A Helicoverpa armigera foi oficialmente identificada em Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Bahia, Paraná e Distrito Federal. Também há relatos no Maranhão, Piauí, Mato Grosso do Sul e São Paulo. “Em Goiás, por exemplo, foi encontrada atacando tomate, feijão, tiguera de soja, soja, milho, milheto, sorgo e algodão”, cita.
Monitoramento
Como estratégias de manejo, Karina destaca o monitoramento da praga e da cultura para verificar ovos e lagartas, impedindo seu alastramento e evolução dos danos. Também podem ser utilizadas armadilhas com feromônio ou luminosas, além da destruição imediata de restos da cultura ou da liberação de inimigos naturais, como a microvespa Trichogramma sp. - já disponível em biofábricas brasileiras. Quanto aos inseticidas, ela recomenda seletividade, evitando a adoção unilateral em razão da facilidade com que a praga desenvolve resistência.
Por fim, Karina avalia que o bioterrorismo é pouco factível. “Acredito que houve demora na identificação correta da praga no País, que, com certeza, já estava presente há muito mais tempo”, afirma, acrescentando que as aplicações de inseticida ocorrem, muitas vezes, sem que o produtor saiba qual é a praga, qual a sua quantidade na lavoura e onde ela se encontra.