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Brasil se descola de emergentes e é economia mais arriscada

Moeda americana sobe mais de 47% no ano no País; real é a moeda que mais se desvaloriza ante o dólar entre os principais emergentes

14 mai 2020 - 05h12
(atualizado às 08h10)
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O Brasil passou nas últimas semanas a ser um país mais arriscado para o estrangeiro investir, se descolando de outros emergentes. Isso porque, se a crise econômica causada pela pandemia do novo coronavírus é uma realidade para todos, os ruídos políticos, além de serem muito mais intensos aqui, ajudaram a elevar as preocupações sobre a recuperação da atividade e em relação às contas fiscais brasileiras.

Notas do dólar e do real são dispostas em corretora de câmbio. 10/09/2015. REUTERS/Ricardo Moraes.
Notas do dólar e do real são dispostas em corretora de câmbio. 10/09/2015. REUTERS/Ricardo Moraes.
Foto: Reuters

Resultado: o risco-país subiu bem mais na economia doméstica que em outras regiões e o real é a moeda que mais se desvaloriza ante o dólar entre os principais emergentes. Com a tendência de os juros reais se tornarem negativos aqui nos próximos meses, a avaliação de estrategistas e economistas ouvidos pelo Estado/Broadcast é que o Brasil vai ficar ainda mais distante do radar dos grandes investidores internacionais.

Uma das medidas da piora da percepção sobre o perfil de risco do Brasil é o comportamento recente do Credit Default Swap (CDS) de cinco anos do País, um derivativo que protege contra calotes na dívida soberana. Só este ano, o CDS do Brasil já disparou 255%. Como comparação, na América Latina, o do México avançou 175% e o do Chile teve aumento de 140% no mesmo período.

Entre emergentes de outras regiões, o da África do Sul subiu 137%, o da Turquia ganhou 112% e o da Coreia do Sul, 55%. Nesta lista Argentina e Venezuela estão excluídos, por estarem em situação de default, o que fez o valor do CDS explodir e travar. No câmbio, o dólar já subiu 48% no Brasil este ano, enquanto no México avançou 29%, na Turquia, 17% e na África do Sul, 32%.

Antes da crise do coronavírus e da piora do ambiente político, investidores viam o Brasil com chance de voltar à classificação grau de investimento, como mostravam as taxas do CDS no começo de janeiro, que operavam na casa dos 95 pontos, no menor nível em 10 anos. Em abril, as taxas chegaram a superar 400 pontos, o mesmo nível que o Brasil tinha no começo de 2016, pouco antes do impeachment de Dilma Rousseff. Nesta quarta-feira, o CDS é negociadas no nível de 355 pontos, alta de 25 pontos apenas em um dia, segundo cotações da IHS Markit.

Crise política afeta o mercado

"Estamos cada vez mais pessimistas sobre as perspectivas com o Brasil", afirma o economista sênior em Londres para América Latina da consultoria Pantheon Macroeconimics, Andres Abadia. Para ele, a forma como o presidente Jair Bolsonaro está lidando com a pandemia, minimizando seus riscos, e o aumento dos conflitos políticos gerados pelo presidente, só vão tornar o cenário de recuperação ainda mais difícil após o pico da pandemia do coronavírus passar. "As condições econômicas no Brasil estão se deteriorando rapidamente", afirma ele.

"Este é o pior momento para uma crise política no Brasil", afirma a analista de moedas do banco alemão Commerzbank, You-Na Park-Heger. O país deve enfrentar uma forte recessão por causa do choque causado pela pandemia do coronavírus e o aumento do ruído político só ajuda a elevar as dúvidas sobre o quão rápido o Brasil vai conseguir sair deste quadro. "As taxas de juros reais derreteram para quase zero", acrescenta.

Com esse quadro, a analista do Commerzbank prevê que o dólar pode já no mês que vem, em que ela espera novo corte de juros pelo BC, bater em R$ 6,05, nível inédito no país. O ambiente de juro baixo, economia enfraquecida e risco político devem manter o investidor estrangeiro afastado e a moeda americana acima de R$ 5,70 até o final do ano, prevê o banco alemão. "O real permanece para nós como uma das moedas de país emergente com o maior risco de piora."

Juro real negativo

Para um ex-diretor do BC, não há porque o estrangeiro vir para o Brasil neste momento, pois o País está caminhando para um juro real negativo e, quando, se faz o ajuste pelo prêmio de risco, a comparação com outros países fica bem pior. Ele lembra que, somente este ano, já saíram do Brasil pelo canal financeiro US$ 33 bilhões até o último dia 8, segundo dados do BC, dos quais quase US$ 7 bilhões somente no mês passado.

O economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, também destaca que o Brasil está se movendo rapidamente para um "território não explorado" de taxas de juros reais em direção a zero. Para ele, a comunicação do Banco Central, incluindo a ata da última reunião de política monetária, aponta para mais um corte de juros no país no mês que vem, de até 0,75 ponto porcentual.

Queda no PIB

Ramos observa que a própria diretoria do BC alerta para a tendência de prêmios de risco mais altos no país, por conta da fragilidade fiscal da economia brasileira e a incerteza sobre o prosseguimento do controle de gastos. O Goldman prevê queda de 3,5% no PIB do Brasil este ano, mas outros bancos americanos veem desempenho ainda pior. O JPMorgan e o Bank of America estimam contração de ao menos 7% em 2020.

A piora das contas públicas e a economia enfraquecida devem seguir limitando o fluxo de capitais para o Brasil ao longo deste ano, avalia o Itaú Unibanco ao reduzir esta semana a previsão de desempenho do PIB brasileiro este ano para queda de 4,5%.

Estadão
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