Brasil tem recorde de 30% dos desempregados em busca de trabalho há mais de 2 anos
O mercado de trabalho no País chegou ao quarto trimestre de 2021 com proporção recorde de desemprego de longo prazo: mais de 30% dos cerca de 12,1 milhões de desempregados estavam em busca de uma vaga havia dois anos ou mais, maior porcentual de pessoas nessa situação em toda a série histórica iniciada em 2012, segundo levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
"Em que pese a melhora no dinamismo da ocupação, o aumento do tempo de permanência no desemprego mostra que a situação do mercado de trabalho continua desafiadora", apontou a Carta de Conjuntura publicada nesta segunda-feira, 28, pelo Ipea.
No primeiro trimestre de 2021, entre todos os desempregados, 23,5% estavam procurando trabalho há dois anos ou mais. No segundo trimestre, essa proporção subiu a 25,7%, aumentando a 28,9% no terceiro trimestre, até atingir o patamar de 30,3% no quarto trimestre do ano passado.
"O que acaba acontecendo é um efeito composição. As pessoas menos qualificadas, aquelas que já estão há muito tempo (desempregadas), cada vez elas ficam sobrando mais no mercado de trabalho. Todo mundo que está mais bem qualificado vai começando a conseguir um emprego, então o estoque de desempregados vai caindo. Mas esse grupo de pessoas de baixa qualificação, que já não estão conseguindo vaga de emprego há bastante tempo, eles vão permanecendo quase que intactos", justificou a técnica de planejamento e pesquisa Maria Andréia Parente Lameiras, uma das autoras do estudo do Ipea.
Além disso, o emprego sem carteira assinada cresceu mais do que o trabalho com carteira em relação a um ano antes, frisou o Ipea. O estudo tem como base os microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A taxa de desemprego no País foi de 11,1% no trimestre terminado em dezembro de 2021, subindo ligeiramente a 11,2% no trimestre encerrado em janeiro de 2022. O Ipea ressalta que está em curso uma recuperação mais forte do emprego formal, mas "a maior parte das novas vagas ainda está sendo gerada nos segmentos informais da economia".
"No último trimestre móvel, encerrado em janeiro de 2022, segundo a Pnad Contínua, enquanto o montante de trabalhadores com carteira avançou 9,3%, na comparação interanual, os contingentes de ocupados sem carteira e por conta própria se expandiram 19,8% e 10,3%, respectivamente", apontaram os pesquisadores do Ipea no texto.
Segundo o estudo, a expectativa para o restante do ano é de manutenção do processo de recuperação do mercado de trabalho. No entanto, "o ritmo desta retomada deve arrefecer, tendo em vista a perspectiva de um crescimento menos acentuado da ocupação em 2022, refletindo um desempenho mais moderado da atividade econômica", apontaram os pesquisadores.