Brasileiro gasta menos com viagens ao exterior, e talvez isso seja o 'novo normal'
Segundo dados do BC, gastos dos brasileiros em países estrangeiros estão 15% abaixo do período anterior à pandemia
Os brasileiros vêm gastando menos em viagens ao exterior do que o faziam antes da pandemia da covid-19, e isso, segundo o chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha, pode ser uma "nova realidade" ou um "novo normal". Embora a economia em geral já esteja em uma situação normal frente ao período anterior à covid, o saldo financeiro com viagens ainda destoa do padrão pré-pandemia, ainda que venha se recuperando gradualmente.
A conta de viagens internacionais - que contabiliza os gastos dos brasileiros lá fora - registrou um déficit de US$ 784 milhões em abril, ante um resultado deficitário de US$ 703 milhões no mesmo mês de 2022. Segundo Rocha, antes da pandemia, o déficit nessa conta costumava se situar acima de US$ 1 bilhão. Tradicionalmente, o gasto de brasileiros no exterior é maior do que o dinheiro que entra na economia brasileira com o turismo estrangeiro. Essa receita, disse Rocha, em abril, já estava em um patamar mais parecido com o pré-pandemia, com US$ 452 milhões. Mas as despesas dos brasileiros no exterior ainda se situavam 15% abaixo do "normal" antes da covid.
Rocha ponderou que, para uma análise mais detalhada, é preciso verificar os dados do Ministério do Turismo e da Embratur, que mostraram retomada do turismo receptivo no início do ano, coincidindo com o carnaval. "É uma possibilidade que tenhamos uma nova realidade com menor gasto com viagens no pós-pandemia. O gasto de brasileiros no exterior não se estabilizou, vemos um crescimento gradual, mas é possível que não volte ao pré-pandemia", afirmou.
Ainda na rubrica de serviços das transações correntes, o chefe de Departamento do BC fez menção a uma mudança metodológica que deve começar a afetar mais daqui para a frente as contas de serviços e renda secundária, que é o monitoramento específico de jogos e apostas online, em sites internacionais.
Na conta de serviços, a atividade impacta a linha de serviços culturais, pessoais e recreativos, cujo resultado passou de superávit de US$ 39 milhões em abril de 2022 para déficit de US$ 168 milhões no mês passado.
Na renda secundária, que contribuiu para a piora do resultado em conta corrente em abril, as apostas e jogos online reverteram o dado de outras transferências de superávit de US$ 50 milhões para rombo de US$ 228 milhões na comparação interanual.
Buraco nas contas
Em relação às contas externas como um todo, o resultado no primeiro quadrimestre de 2023 foi um déficit de US$ 13,7 bilhões. É o melhor para o período desde 2017, segundo Rocha, quando o déficit no período foi de US$ 8,7 bilhões.
Esse resultado, disse, é influenciado pelo superávit comercial. "Temos tido resultados muito bons e a balança comercial da balança de pagamentos teve superávit de US$ 19,4 bilhões no primeiro quadrimestre, o que é o maior resultado da série histórica do BC para esse período."
Ele acrescentou que o número foi influenciado pelo resultado das exportações brasileiras, que foram as maiores da série para o quadrimestre.
Já no período de 12 meses encerrados em abril, o déficit corrente foi de US$ 54,2 bilhões, equivalente a 2,8% do PIB. "É um déficit em um patamar ainda baixo e plenamente financiável", disse, frisando que o resultado ainda é pior que o do mesmo período do ano anterior.
Levando-se em conta apenas o mês de abril, o resultado das transações correntes ficou negativo em US$ 1,680 bilhão. No mesmo mês de 2022, o resultado foi um superávit de R$ 100 milhões.