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Brasileiros buscam até empréstimos para financiar apostas

29% das pessoas que buscaram empréstimos nos últimos 12 meses fizeram ao menos um depósito em casas de apostas

7 out 2024 - 06h20
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Resumo
Mercado de apostas online cresce no Brasil, preocupando especialistas devido ao endividamento e vício de apostadores.
Foto: Freepik

Nos últimos anos, o mercado de apostas online no Brasil tem experimentado um crescimento explosivo. Cerca de 15% da população brasileira joga ou já jogou nas famosas bets. Só no ano passado, os brasileiros gastaram mais de R$ 50 bilhões em apostas online, segundo dados do Banco Central – este valor corresponde a mais do que o balanço das exportações brasileiras de carne bovina do ano inteiro, que movimentou cerca de R$ 45 bilhões, sendo o Brasil um dos maiores exportadores do alimento no mundo. 

Dados inéditos levantados pela Klavi, empresa especializada na coleta e inteligência de dados provenientes de contas bancárias através de compartilhamento voluntário de dados, revelam um cenário preocupante: 29% das pessoas que buscaram empréstimos nos últimos 12 meses fizeram ao menos um depósito em casas de apostas durante o mesmo período. O valor médio gasto em apostas por essas pessoas foi de R$ 1.113,09, mas há casos extremos, com 5% dos apostadores gastando mais de R$ 4 mil reais. Em situações ainda mais alarmantes, alguns indivíduos chegaram a fazer depósitos superiores a R$ 50 mil em apostas antes de recorrerem a empréstimos.

Quanto aos valores dos empréstimos solicitados por essas pessoas, a Klavi revela que a maioria busca quantias relativamente baixas, variando entre R$ 500 e R$ 4.000 reais. Esses números indicam uma relação preocupante entre o comportamento de apostas e a necessidade de crédito, sugerindo que, para muitos, o custo do jogo pode estar diretamente relacionado à busca por auxílio financeiro.

Nesse sentido, Bruno Moura, Diretor de Negócios e Marketing da Klavi, ressalta que este cenário é um cenário preocupante. "Isso é um reflexo de uma crise financeira crescente. Esse comportamento não apenas coloca em risco a saúde financeira dos indivíduos, mas também evidencia a necessidade urgente de uma abordagem mais proativa e responsável por parte das instituições financeiras e regulatórias", pondera.

Segundo o Datafolha, o gasto mensal dos apostadores é de R$ 263. Além do mais, 17% dos que recebem Bolsa Família apostam. Destes, um terço gasta mais de R$ 100 por mês com apostas esportivas. Se olharmos para o mundo, o Brasil só perde para os Estados Unidos e Reino Unido em volume de apostas, superando Índia e Itália. De todos os apostadores, 49% pertencem à classe C e 37% à classe B. Deles, 61% são homens e 39% mulheres, segundo o instituto.

"Esse cenário é particularmente inquietante quando consideramos que muitos dos apostadores são beneficiários de programas sociais, como o Bolsa Família. Isso indica que, para alguns, a promessa de um grande prêmio está levando a decisões financeiras precipitadas e arriscadas, que podem ter consequências devastadoras no longo prazo", ressalta Bruno Moura.

Endividamento e vício

Estudo realizado pela Hibou Pesquisa e Insights revela que 2/3 dos entrevistados afirmaram participar de jogos de apostas, sendo a maioria preferindo loterias (47%), seguido de apostas online (11%) e jogos como o "tigrinho" (8%) ainda sendo menos populares. Curiosamente, 2/3 dos participantes jogam com o objetivo principal de ganhar dinheiro, e metade gasta entre 50 e 100 reais mensais, indicando um hábito de apostas relativamente moderado. Além disso, 48% dos jogadores relataram ter ganhos em modalidades como loteria e bingo, com valores sacados que variam entre 100 e 1.000 reais.

No entanto, a pesquisa da Hibou também aponta preocupações significativas. Embora 91% dos apostadores nunca tenham enfrentado problemas de segurança ou fraude, 16% admitiram ter sofrido dificuldades financeiras devido às apostas, a ponto de venderem bens ou pedirem dinheiro emprestado. Além disso, 2/3 dos entrevistados conhecem alguém que já se endividou por causa dos jogos. Essa realidade reforça a percepção de que, para os não jogadores, o vício é uma preocupação real, com 88% acreditando que jogar vicia, especialmente em jogos como o "tigrinho", considerado o mais perigoso e que, segundo 56% dos entrevistados, deveria ser proibido.

"É preciso urgentemente chamar a atenção para a necessidade de uma regulamentação mais rigorosa e de uma maior conscientização sobre os riscos associados às apostas. É essencial que o setor de crédito e as instituições financeiras estejam cientes dessa dinâmica para que possam tomar medidas que protejam os consumidores", reflete Bruno Moura.

Ele explica, ainda, que, nesse contexto, o Open Finance pode desempenhar um papel transformador. Com o compartilhamento seguro e controlado de dados financeiros, o Open Finance oferece uma oportunidade única para uma compreensão mais profunda do perfil financeiro dos consumidores e isso pode ajudar as instituições financeiras a identificar comportamentos de risco e fornecer soluções mais eficazes e personalizadas. 

"Por exemplo, ao ter acesso a um panorama mais detalhado da situação financeira dos clientes, os credores podem criar mecanismos de proteção e educação financeira, ajudando a evitar que os consumidores caiam em ciclos de endividamento associados ao jogo", finaliza.

(*) Homework inspira transformação no mundo do trabalho, nos negócios, na sociedade. É criação da Compasso, agência de conteúdo e conexão.

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