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Brasileiros deixaram de fazer 15,9 milhões de viagens na pandemia

Pesquisa do IBGE mostra que as viagens internacionais foram as mais afetadas; em 2021, Estado de São Paulo foi o destino mais procurado

6 jul 2022 - 10h10
(atualizado às 11h04)
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Os brasileiros deixaram de fazer cerca de 15,9 milhões de viagens nos dois anos de pandemia de covid-19. O cálculo considera como parâmetro o número de viagens em 2019, 20,934 milhões, antes do choque provocado pela crise sanitária no País. No ano de 2020, esse total despencou a 13,578 milhões, descendo ainda mais em 2021, para 12,337 milhões.

Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) - Turismo 2020-2021, divulgados nesta quarta-feira, 6, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Foto: iStock

O número de viagens feitas em 2021 foi 41% menor que em 2019, ano pré-pandemia. A proporção de domicílios brasileiros em que algum morador viajou minguou de 21,8% em 2019 para 13,9% em 2020, recuando novamente em 20921 a apenas 12,7%. Em números absolutos, o total de lares com ao menos um viajante no ano desabou de 15,441 milhões em 2019 para 9,867 milhões em 2020, para apenas 9,093 milhões em 2021. Ou seja, ninguém viajou no ano passado em 87,3% das casas brasileiras.

"No Brasil, 2021 foi pior em relação ao turismo do que em 2020, aprofundou essa perda", observou Flávia Vinhaes, analista do IBGE.

O IBGE não calcula o quanto essa redução nas viagens significou para a economia do País, mas projeções da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) apontam para uma perda muito significativa. Dados publicados pela confederação em março apontavam para um prejuízo total de R$ 485,1 bilhões para o setor de março de 2020 a janeiro deste ano.

Viagens internacionais foram mais afetadas

A pandemia impactou proporcionalmente mais as viagens internacionais, cuja participação foi reduzida de uma fatia de 3,8% no total de viagens em 2019 para 2% em 2020 e somente 0,7% no ano de 2021.

"A gente imagina que isso seja atribuído às restrições sanitárias, suspensão de voos, fechamento de várias cidades. É possível que esse indicador retrate bastante as consequências da crise sanitária nas viagens internacionais", disse Vinhaes.

A finalidade da viagem, se pessoal ou profissional, oscilou em patamares semelhantes ao longo dos últimos três anos, encerrando 2021 com 85,4% delas particulares e 14,6% profissionais.

Falta de dinheiro ainda foi maior empecilho

A falta de dinheiro ainda é o principal motivo para a ausência de viagens, mencionado por um terço (33,3%) dos domicílios em 2020 e 30,5% dos lares em 2021. No entanto, em 2019, a falta de recursos financeiros era apontada por quase metade das casas, exatos 49,2%, para justificar ninguém ter viajado naquele ano.

"Realmente nós observamos um deslocamento de domicílios para a classe de rendimentos mais baixa. Isso a gente viu também na pesquisa de rendimentos do IBGE", disse Vinhaes. "Mas esse motivo (falta de dinheiro) não foi mais atribuído que em 2019 para não realizar viagem. Então, a preocupação com a covid foi uma preocupação que superou a questão financeira para não realizar viagem", completou.

A pandemia figurou como uma razão em si para a ausência de viagens nos últimos dois anos, contabilizada na opção "Outro motivo", que ganhou a adesão de cerca de um quinto dos domicílios como justificativa para não haver viajantes em casa em 2020 (19,0% os lares sem viagens) e 2021 (20,9% desses domicílios sem viagens).

"Aqui vale sublinhar que a categoria 'Outro' ficou superdimensionada por causas relacionadas à crise sanitária como necessidade de afastamento social, impossibilidade de pegar voos ou mesmo por ter sido infectado pelo vírus no período investigado", informou o IBGE.

Outras justificativas apontadas para a ausência de viagens foram a falta de necessidade de viajar (mencionada por 19,2% dos lares sem viagens em 2020 e 20,8% em 2021); falta de tempo (9,6% em 2020 e 8,3% em 2021); falta de interesse (8,2% em 2020 e 7,6% em 2021); não ser prioridade (7,9% em 2020 e 8,9% em 2021); e problemas de saúde (2,8% em 2020 e 3,0% em 2021).

Um terço dos lares mais ricos teve morador em viagem em 2021

Apesar das condições desfavoráveis apresentadas pela pandemia, cerca de um terço (33,1%) dos lares mais ricos, aqueles com renda per capita de quatro ou mais salários mínimos mensais, teve algum morador que viajou em 2021. Por outro lado, entre os domicílios mais pobres, com renda per capita abaixo de meio salário mínimo, apenas 7,7% registraram alguma viagem de morador no período.

Além disso, no grupo de lares de mais baixa renda, 35,1% das viagens pessoais foram para tratamento de saúde e apenas 14,3% para lazer. Nos domicílios de renda mais elevada, 57,5% das viagens foram para lazer, e somente 4,4% tinham como finalidade um tratamento de saúde.

Considerando todas as viagens pessoais de 2021 pesquisadas pelo levantamento, 35,7% eram de lazer, 32,5% tinham como objetivo visitar parentes ou amigos, 19,6% eram para tratamento de saúde, 2,9% eram para um evento familiar ou de amigos, 2,8% eram para realização de compras pessoais e 6,5% mencionaram outro motivo.

Gastos com viagens

A pesquisa investigou pela primeira vez os gastos das famílias com turismo. Os custos totais de pernoite em viagens nacionais caíram de R$ 11 bilhões em 2020 para R$ 9,8 bilhões em 2021. Os maiores dispêndios no ano passado ficaram concentrados nos Estado de São Paulo (R$ 1,8 bilhão), Bahia (R$1,1 bilhão) e Rio de Janeiro (R$1,0 bilhão).

O gasto médio dos moradores dos domicílios com pernoite em viagens nacionais desceu de R$ 1.388 em 2020 para R$ 1.331 em 2021, mas o dispêndio per capita diário subiu de R$ 180 para R$ 204.

O Estado de São Paulo foi o destino mais procurado em 2021, sediando 20,6% das viagens realizadas, seguido por Minas Gerais (destino de 11,4% das viagens) e Bahia (9,5%).

O principal tipo de hospedagem das viagens feitas no ano passado foi casa de amigo ou parente (42,9%). Os hotéis, resorts ou flats foram destino de 14,7% dos viajantes, e as pousadas atraíram 6,4% (embora essa modalidade tenha alcançado dois dígitos no Rio de Janeiro e em Santa Catarina). Os imóveis por temporada, incluindo os alugados em plataformas como Airbnb, responderam por 4,4% das hospedagens, e os imóveis próprios, 3,4%.

"Contrariamente ao que ocorreu na pesquisa que foi a campo em 2019, os resultados de 2020 e 2021 mantiveram o mesmo perfil de hospedagem para todas as classes de renda, com predominância da hospedagem em casa de amigo ou parente se sobrepondo às demais. Em 2019, para domicílios com renda domiciliar per capita de 4 salários mínimos ou mais, a opção hotel ou flat havia representado parcela maior das hospedagens", observou o IBGE.

Em 2019, no pré-pandemia, o principal tipo de hospedagem nas viagens profissionais era o hotel ou flat (45,5%), seguido de casa de amigos ou parentes (15,5%). Em 2021, 38,8% dessas viagens tinham como hospedagem outro tipo de local (que inclui imóvel do trabalho ou do patrão), e apenas 28,3% eram hotel ou flat e 20,7%, casa de amigo ou parente.

"Isso é bem provável que seja efeito da pandemia. Vários hotéis fecharam ou diminuíram disponibilidade de quartos para manter o distanciamento social", disse Flávia Vinhaes, analista da pesquisa do IBGE.

Praia é a preferência de quem viaja

Destinos de sol e praia foram a escolha de 48,7% das viagens pesquisadas em 2021, seguidos por natureza, ecoturismo ou aventura, com 25,6% das menções, e cultura e gastronomia, com 16,0%. O IBGE ressalta que houve um aumento na procura por destinos de natureza, ecoturismo ou aventura (que respondia por 20,5% das viagens em 2020).

"Essas viagens de ecoturismo e aventura resguardavam mais os viajantes em relação ao distanciamento social", lembrou Vinhaes.

No ano de 2021, 57,2% das viagens de 2021 foram em carro particular ou de empresas, 12,5% em ônibus de linha e 10,2% de avião.

Segundo a analista da pesquisa, é fundamental colher as informações sobre o módulo de turismo em 2022 na Pnad Contínua para confirmar se houve mudança estrutural no setor ou apenas conjuntural, decorrente dos impactos da pandemia de covid-19. Ela lembra que a adoção de ferramentas digitais para a realização de reuniões à distância "evita deslocamentos", por exemplo. No entanto, uma eventual recuperação do emprego e da renda da população poderia ter uma repercussão na demanda turística.

"Precisamos acompanhar para ver se esses dois anos foram muito atípicos por conta da pandemia ou se houve mudança no setor", concluiu.

Estadão
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