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Briga política de Lula contra o Banco Central é "estupidez completa", diz ex-ministro de Sarney

Em entrevista ao Terra, Maílson da Nóbrega avalia que é quase impossível que a hiperinflação se repita no Brasil

16 mai 2023 - 12h35
(atualizado em 17/5/2023 às 16h30)
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Maílson da Nóbrega, ministro da Economia no governo José Sarney, lançou o documentário 'O Dinheiro É Nosso'
Maílson da Nóbrega, ministro da Economia no governo José Sarney, lançou o documentário 'O Dinheiro É Nosso'
Foto: SEBASTIÃO MOREIRA/Estadão Conteúdo

Ex-ministro da economia no governo de José Sarney (1985 a 1990), Maílson da Nóbrega avaliou, em entrevista ao Terra, a briga política alimentada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra o Banco Central como "estupidez" e que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, não deve ceder à pressão. Disse, ainda, que a hiperinflação que abalou os brasileiros no início dos anos 1990 não tem espaço para se repetir no País.

"É quase impossível a hiperinflação se repetir [...] naquela época a gente pensava que a inflação tinha um papel no desenvolvimento. Essas coisas ficaram para trás. Mais que isso: pobre detesta inflação. Antigamente, pobre comprava essa ideia maluca de que inflação era boa para o desenvolvimento. Um governo que descuida da inflação perde a eleição", diz Maílson, que é sócio-fundador da Tendêncais Consultoria.

A declaração foi dada com exclusividade ao Terra durante o pré-lançamento do novo documentário do economista, O Dinheiro É Nosso, com produção de Louise Sottomaior, que traz depoimentos de diversas personalidades sobre temas ligados ao orçamento público, incluindo a crise fiscal, a reforma tributária e o orçamento secreto.

A hiperinflação foi um período de alta inflação descontrolada. Na época, o Brasil enfrentava uma crise econômica grave, com altos índices de inflação que atingiam níveis extremos, acima de 50% ao mês.

Durante esse período, os preços dos bens e serviços aumentavam rapidamente e o valor da moeda nacional diminuiu significativamente em relação a outras moedas estrangeiras. Durante o governo de Fernando Collor (1990 a 1992), medidas econômicas drásticas foram adotadas para tentar frear a crise, como o bloqueio dos ativos financeiros dos brasileiros e o confisco de poupanças.

Lula x BC

Maílson classifica como "estupidez completa" a briga pública e política de Lula contra Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, e as decisões tomadas pelo Comitê de Política Monetária (Copom) acerca da taxa Selic.

O presidente Lula tem se colocado, desde o início do mandato, no lado extremo oposto do Banco Central, criticando e questionando, publicamente, a decisão da autarquia em relação à taxa Selic, que está, há seis reuniões do Copom, a 13,75% ao ano.

"Ele não ganhou nada com isso, só gerou incertezas. Os juros futuros subiram, as expectativas de inflação pioraram e agora ele está se convencendo que não pode fazer nada, porque o Banco Central é independente e não vai se curvar a essa pressão", declara.

Maílson ainda defendeu a atuação de Campos Neto. "Ele tem muitas razões para permanecer no posto, apesar dos constrangimentos, das pressões e do desconforto", defende. 

"Ele tem que homenagear o avô. O Roberto Campos foi um dos criadores da lei do Banco Central, que nasceu independente [...] é uma questão de reputação profissional, ele tem que aguentar essas pressões porque ele sabe que a missão dele", diz Maílson da Nóbrega.

A Selic a 13,75%, portanto, é justificável na visão do ex-ministro. "A taxa de juros reflete nossas deficiências, nossos riscos. O Banco Central pode errar como outros bancos erram, mas neste momento a opinião dos especialistas é que ela [Selic] está ajustada", opinou.

"Crise fiscal vem da Constituição de 88"

Para Maílson, a Constituição de 1988 "foi um desastre do ponto de vista fiscal". Ele argumenta que, embora seja positiva institucionalmente e tenha ênfase nos direitos e garantias individuais, na economia criou novos monopólios e buscou criar um bem-estar social com modelos europeus. "Foi bem parecido com os europeus, sem se dar conta que ainda não éramos ricos como eles. Por exemplo, o Brasil gasta em programas sociais tanto quanto a Alemanha", completa.

"O Brasil gasta quase o dobro do que os Estados Unidos gastam em programas sociais. A gente não tinha condições para isso, o resultado foi aumentar a tributação usando incidências tributárias criadoras de distorções", aponta. 

O ex-ministro também critica a rigidez orçamentária, com gastos para a Saúde e Educação fixados nos gastos primários da União. "Isso é uma forma primitiva de definir prioridades porque 'castra', vamos dizer assim, a função do Congresso". O tema também é debatido em seu documentário recém-lançado.

Fonte: Redação Terra
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