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Campo tido como 'última esperança' da OGX tem potencial incerto

Tubarão Martelo é o único campo em fase de desenvolvimento pela empresa

30 out 2013 - 18h23
(atualizado às 18h24)
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Com o pedido de recuperação judicial da OGX - empresa de petróleo e gás do conglomerado de Eike Batista -, uma das últimas possíveis fontes de produção de petróleo para a empresa é seu campo de Tubarão Martelo.

O campo, único em fase de desenvolvimento pela empresa, se tornou um dos principais alvos de expectativas do mercado em torno da OGX, após a empresa desistir da exploração de outros na Bacia de Campos (Tubarão Areia, Tubarão Gato e Tubarão Tigre) - que haviam sido exaltados como altamente promissores, mas acabaram não sendo viáveis comercialmente.

A expectativa da OGX é começar a produção de Tubarão Martelo até o final deste ano - plano, em princípio, que será mantido mesmo com o pedido de recuperação judicial desta quarta-feira, segundo a empresa.

Em reportagem nesta semana, o jornal Financial Times chamou o campo de a "última esperança" para Eike, que tenta tornar a operação viável comercialmente para facilitar a conversa com seus credores.

No entanto, a incógnita em torno do pagamento das dívidas da OGX - e do próprio potencial desse campo - desperta incerteza no mercado.

"O que tenho ouvido (no mercado) é que a empresa se tornou uma interrogação", diz à BBC Brasil Adriano Pires, da consultoria em energia Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). "(O campo) pode dar algum alento, mas a empresa simplesmente não está gerando caixa."

Produtividade

Em agosto, a OGX obteve a licença de exploração ambiental para os blocos que incluem o campo de Martelo, a 95 km da costa brasileira, e em outubro anunciou a certificação dessas reservas.

Mas essa certificação, feita pela consultoria DeGolyer & MacNaughton, prevê reservas equivalentes a apenas um terço dos 285 milhões de barris que haviam sido estimados em abril de 2012 pela própria OGX. A OGX ressalta, porém, que o levantamento inicial fora feito com base em informações preliminares e que não podem ser comparados com estimativas posteriores.

De qualquer maneira, há dúvidas quanto à produtividade possível do campo.

"A OGX espera obter uma produtividade melhor no Campo de Tubarão Martelo em comparação com o de Tubarão Azul, que trouxe resultados significativamente inferiores", disse à BBC Brasil por e-mail Gretchen French, analista da agência de rating Moody's.

"O campo pode se tornar uma fonte importante de produção e fluxo de caixa para a empresa, mas a OGX precisa de dinheiro para conseguir desenvolver o campo. E ainda há muitos riscos operacionais e geológicos e desafios para levar o campo à (fase de) produção", agrega.

Entre esses riscos estão o tempo necessário para conseguir resultados no local - alguns estimam esse prazo em anos -, num momento em que a empresa não tem de onde tirar dinheiro para investir na produção.

"A dúvida é como financiar a exploração desse campo", explica Walter de Vito, analista de petróleo da Tendências Consultoria. "Até para isso a OGX precisaria de refinanciamento (de suas dívidas) de curto prazo - algo difícil, se nos colocamos nos lugar dos credores, que podem não querer pôr mais dinheiro sob o risco de não obter retorno."

Crise

A atual crise da OGX veio da incapacidade de pagar suas dívidas e manter a confiança dos investidores após não conseguir produzir petróleo nos níveis esperados inicialmente.

No início de outubro, a empresa deixou de pagar US$ 45 milhões em juros de suas dívidas e teve 30 dias para renegociá-las.

Na última terça-feira, a empresa anunciou que as negociações foram infrutíferas. O pedido de recuperação judicial foi apresentado à Justiça e, a partir do momento que seja aceito, a OGX terá 180 dias para fazer a reestruturação de suas dívidas e apresentar uma proposta de pagamento aos credores.

Caso seja acatado o pedido, este será o maior processo de recuperação judicial de que se tem notícia por uma empresa na América Latina.

Nesse cenário, a exploração do Campo de Tubarão Martelo é vista por muitos como a "última tacada, ainda que não seja uma tábua de salvação", diz De Vito.

"Se o campo se mostrasse produtivo, talvez gerasse uma disposição diferente dos credores, apesar da situação delicada da empresa e de toda incerteza envolvendo a Bacia de Campos (onde outros campos não deram os resultados esperados)."

Ao mesmo tempo, há dúvidas com relação a um acordo de US$ 850 milhões, que parece longe de ser finalizado, com a petroleira malaia Petronas, que envolve 40% do bloco onde se encontra o Campo de Tubarão Martelo. Em agosto, a Petronas condicionou o acordo à reestruturação da dívida da OGX.

Com tudo isso, algumas corretoras consultadas pela BBC Brasil disseram ter baixas expectativas quanto à capacidade da OGX em obter resultados de curto prazo no campo.

Adriano Pires, do CBIE, diz que há incertezas também quanto ao que aconteceria com o Campo de Martelo se confirmada a recuperação judicial - se, por exemplo, esse ativo ficar indisponível e se as licenças de exploração e produção da OGX seriam perdidas.

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