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Campos Neto: Arcabouço fiscal está na direção certa, mas não há relação mecânica com juro

'O arcabouço tira um pouco do risco de cauda sobre um aumento da dívida rapidamente', afirmou o presidente do BC

19 abr 2023 - 15h07
(atualizado às 16h45)
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Durante evento, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, explicou que não há relação mecânica entre o arcabouço fiscal e a política monetária, mas que o projeto é uma “grande contribuição”.
Durante evento, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, explicou que não há relação mecânica entre o arcabouço fiscal e a política monetária, mas que o projeto é uma “grande contribuição”.
Foto: José Cruz/Agência Brasil / Estadão

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quarta-feira, 19, que o projeto de novo arcabouço fiscal enviado na terça-feira pelo governo ao Congresso como positivo, mas lembrou que não há relação mecânica entre as medidas fiscais e a condução da política monetária, que depende da evolução das expectativas de inflação.

"Parece (o projeto) mais ou menos em linha com o que vimos antes. É uma boa indicação de que estamos avançando na direção certa. O arcabouço tira um pouco do risco de cauda sobre um aumento da dívida rapidamente", avaliou, em participação em reunião com investidores em Londres, organizada pelo European Economics & Financial Centre (EEFC).

Campos Neto ainda destacou que é necessário ver as expectativas de inflação melhorando. "Eventualmente, as expectativas de inflação vão melhorar." O presidente do BC ponderou que é preciso acompanhar a tramitação da proposta. "Há incerteza sobre como será aprovado e em qual velocidade", disse.

Ele ainda voltou a dizer que não há relação mecânica entre o projeto e a política monetária, mas que é uma "grande contribuição", assim como outras reformas seriam um sinal positivo, como a tributária. "Qualquer coisa que melhora o canal de expectativas, nos ajuda."

Inflação

O presidente do BC afirmou ainda que o índice geral de inflação foi afetado pelas mudanças de impostos que ocorreram no preço da energia, telecomunicações e da gasolina. Ele acrescentou que em um cenário de expectativas de inflação muito maiores do que a meta no horizonte, mesmo com uma desaceleração da economia ocorrendo, é preciso olhar para essa dinâmica de forma mais cuidadosa.

Campos Neto comentou as críticas sobre a taxa de juro real no Brasil ser maior do que em muitos países. O presidente da autarquia argumentou que na comparação com países como México e Chile não há tanta diferença e que não é possível compará-la com a de países desenvolvidos, porque há dinâmicas diferentes de inflação e dos canais de ação da política monetária.

Ele admitiu, porém, que a taxa brasileira é maior do que a de alguns outros países do mundo, mas destacou que essa diferença tem diminuído ao longo dos anos.

Metas de inflação

Campos Neto reforçou que a autoridade monetária não decide sobre a meta de inflação, mas disse que a recomendação do BC é de que uma mudança "não deveria ser feita". "Não decidimos sobre meta, mas nossa recomendação é de que não deveria ser feita mudança."

Segundo ele, a avaliação é de que uma mudança de meta aumentaria o prêmio de risco. Com base em pesquisas e no comportamento do mercado hoje, a interpretação é de que um aumento da meta levaria a um avanço ainda maior das expectativas de inflação. "Hoje a interpretação é de que mudança de meta não daria flexibilidade em política monetária", disse, acrescentando, que, no longo prazo, a mudança traria prejuízo.

O presidente do BC ainda lembrou que, independente do efeito produzido, uma eventual mudança de meta não traria impacto imediato sobre a política monetária, já que sua condução precisa avaliar primeiro a evolução das expectativas de inflação.

Em relação à condução de política monetária, Campos Neto ressaltou que o mandato do BC é colocar a inflação na meta. "Queremos fazer isso e é o melhor que podemos fazer pelo Brasil. O Brasil tem um mecanismo muito forte de indexação e é ainda mais importante impedir isso", disse, lembrando que a inflação alta prejudica mais as classes mais pobres.

Hoje, a meta de inflação está em 3,25% para 2023 e 3,00% para 2024 e 2025, com banda de 1,5 ponto porcentual para mais ou para menos. Em uma verdadeira ofensiva contra a taxa Selic de 13,75%, o governo federal tem questionado também o nível das metas, que são definidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

Estadão
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