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Campos Neto cita inflação global e diz que moedas digitais teriam impacto em política monetária

23 mar 2021 - 19h36
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O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta terça-feira que a atual conjuntura global de juros baixos, liquidez abundante e disponibilidade de vacinas faz o mercado precificar um aumento da inflação, mas minimizou risco de problemas decorrentes desse cenário.

 O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. 08/08/2019. REUTERS/Amanda Perobelli.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. 08/08/2019. REUTERS/Amanda Perobelli.
Foto: Reuters

"A gente, mais recentemente, teve alguns sinais de que o mundo enxerga que existem muitos programas de liquidez ao mesmo tempo", disse Campos Neto em participação, por meio de vídeo gravado, em congresso organizado pela Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs).

"Você já começa a ver a luz no fim do túnel, em termos de vacinação, então isso tem criado aí um ambiente onde o mercado começa a precificar um aumento de inflação na frente, mas nada que crie um grande problema."

Os rendimentos de títulos globais têm tido um rali neste ano por temores de inflação no mundo, o que por sua vez tem abalado os mercados financeiros. Nesta terça, o BC divulgou a ata da última reunião do Copom, que, para analistas, trouxe uma linguagem mais dura com a inflação do que o comunicado da decisão de juros da semana passada.

Em sua fala à Abecs, Campos Neto também disse acreditar que a sociedade demanda uma recuperação pós-pandemia mais sustentável e inclusiva. Ele afirmou que as economias caminham para um mundo imerso em "muito mais tecnologia", com mudanças nos padrões de consumo e produção.

"Se a gente pensar nas viagens que nós fazíamos para fazer apresentações e fazer eventos, provavelmente a gente ainda vai viajar, mas talvez não no padrão anterior, não sei, talvez vá existir um meio-termo porque a tecnologia se mostrou muito eficiente, fechando esse 'gap'."

Campos Neto destacou que a pandemia também foi uma propulsora do avanço da tecnologia de pagamentos, com mais pessoas precisando fazer pagamentos em casa.

MOEDA DIGITAL

Na esteira de discussões em curso por diversos banqueiros centrais, Campos Neto destacou que a autarquia já avançou em alguns debates acerca da criação de sua moeda digital, mas ressalvou que ainda há mais questionamentos que respostas referentes a esse processo.

"A gente entende que isso (criação de moedas digitais) tem várias consequências para a parte de política monetária, parte de meios de pagamento, inclusão financeira, mas acho que as grandes perguntas ainda estão no ar."

"E é importante que, nesse processo de confecção da moeda digital, os países tenham moedas digitais que sejam homogêneas, ou seja, que sejam interoperáveis", disse, mencionando que essas características permitirão o avanço na área de pagamento, bem como em operações financeiras para além das fronteiras, conhecidas pela expressão em inglês "cross border".

Apesar de não entrar em detalhes, Campos Neto especificou que a autoridade monetária entende, no caso doméstico, que uma eventual moeda digital não deverá ser remunerada, sob o risco de "desintermediar" o sistema financeiro, mas ser "uma extensão da moeda física".

O presidente do BC também disse que a autarquia tem avançado na discussão sobre o tema. "Não posso falar muito mais em relação ao que vem por aí, porque tem também outros projetos digitais que vêm junto com a moeda digital (e) que vão criar uma forte inovação nesse mercado, mas estamos caminhando nessa direção."

Em agosto de 2020, o BC formou um grupo de trabalho para discutir impactos de uma eventual emissão de moeda digital pela autoridade monetária.

À época, o BC afirmou que a chamada CBDC --"central bank digital currency" ou moeda digital de banco central-- é diferente de uma criptomoeda sem garantia nacional, como bitcoin, por ser uma nova forma de representação da moeda já emitida pelo BC do país em questão --fazendo, portanto, parte da política monetária.

Os principais bancos centrais do mundo estão avaliando a criação de moedas digitais que possam desempenhar um papel importante para tornar pagamentos internacionais mais rápidos e baratos em transações de grande escala e de consumidores.

Nos Estados Unidos, o chair do Federal Reserve (Fed, banco central do país), Jerome Powell, afirmou na segunda-feira que, apesar do atual desenvolvimento de pesquisa sobre o tema, o Fed não avançaria com planos para criação de uma moeda digital sem aprovação do Congresso norte-americano.

De acordo com Powell, a colaboração com a Iniciativa de Moeda Digital do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) concentra-se nos riscos e benefícios de uma moeda digital, e não em criar um protótipo.

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