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Campos Neto diz que é grande a possibilidade de inflação de 2023 e 2024 ficar dentro da meta

Segundo presidente do BC, últimos dados do IPCA foram bons; ele diz ainda que queda da Selic não deve afetar o câmbio

21 nov 2023 - 18h38
(atualizado às 18h53)
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Banco Central tem o controle da inflação como uma das principais funções
Banco Central tem o controle da inflação como uma das principais funções
Foto: André Dusek / Estadão / Estadão

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta terça-feira, 21, que há uma "possibilidade grande" de a inflação ficar dentro da meta neste e no próximo ano. "A inflação está convergindo. Os dois últimos dados (de projeções do mercado) foram bons e os núcleos de serviços tiveram comportamento bom. Preços administrados mostraram um pouco de volatilidade, mas isso está relacionado ao preço de petróleo", citou durante o evento "Fórum de Brasília", organizado pela Arko Advice.

Comentando a notícia de que alguns Estados decidiram aumentar suas alíquotas de ICMS, Campos Neto projetou que o movimento deve ter um impacto de 10 a 20 pontos-base sobre a inflação, mas alertou que é preciso fazer os cálculos com mais calma.

Durante o evento, ele também afirmou que a continuidade da queda da Selic não deve afetar o câmbio. De acordo com o presidente do BC, o diferencial de juros no Brasil ainda é bastante elevado na comparação com o dos Estados Unidos, que está perto de suas máximas históricas.

O executivo destacou que as projeções de crescimento têm sido revisadas para cima, não só pelo mercado, mas também por órgãos do governo, como o próprio BC. Citou que o Ministério da Fazenda revisou hoje suas estimativas e que os bancos também já estão reestimando o crescimento potencial do Brasil.

Campos Neto afirmou que o esforço do governo na área fiscal tem ajudado a instituição a conduzir sua política de afrouxamento monetário. "A área fiscal é o grande desafio e a questão que os analistas focam mais."

Na avaliação do banqueiro central, o governo fez esforço fiscal muito grande para aprovar o novo arcabouço, mesmo sendo em um momento de saída da pandemia de coronavírus. "A gente acha que isso foi um esforço muito válido e tem ajudado a gente no processo de queda de juros", comemorou.

O mercado financeiro, de acordo com ele, tem algum ceticismo em relação ao cumprimento das metas.

"Acho que hoje o tema é menos se vai atingir a meta ou não e mais a responsabilidade sobre o arcabouço que foi criado", defendeu, acrescentando que, historicamente o Brasil tem gasto estrutural mais alto, um orçamento engessado e que o nível de despesas elevado é antigo, não apenas deste governo.

De acordo com ele, essas despesas elevadas não são necessariamente um grande problema se o País crescer, mas é preciso levar em consideração que esses dados estão no foco dos analistas de mercado.

Inflação global

O presidente do Banco Central disse ainda que há uma crença no mundo de que há um processo de desinflação global em curso. De acordo com ele, é preciso ter atenção aos riscos existentes em torno dessa crença.

"Esperava-se que mercado de trabalho ficasse mais 'folgado', e isso não ocorreu", disse ele, acrescentando que, em todos os lugares do mundo, o mercado de trabalho está igual ou ainda mais apertado do que no período pré-pandemia. Por isso, de acordo com ele, a desinflação não virá de um mercado com mão-de-obra com muito espaço.

Da mesma forma, segundo o presidente do BC, o nível de poupança das famílias está parecido ou melhor do que à crise sanitária. "A poupança não ficará negativa e não vai frear o aumento de preços", previu. Ele lembrou que o preço do petróleo vinha caindo, mas que, diante das tensões geopolíticas, esse movimento foi interrompido. O valor da commodity, observou Campos Neto, tem se comportado bem, mas, no mínimo, passará por um momento de alguma volatilidade. Apenas um acordo para o fim do conflito no Oriente Médio, segundo o presidente do BC, levaria mais calma ao mercado de petróleo.

Campos Neto comentou mais uma vez que a frequência de desastres naturais tem apresentado uma curva de crescimento quase exponencial. Ele reforçou que há uma relação direta entre desastres naturais e oscilação dos preços dos alimentos.

Ele comentou que a fragmentação de cadeias globais tem custo alto para as empresas. Além disso, salientou que, apesar do movimento de alta dos juros nos Estados Unidos, não foi detectada uma redução dos preços dos imóveis no País.

Sobre o aumento da dívida, inclusive em países mais ricos, ele ressaltou que a necessidade de rolagem nessas economias deve retirar a liquidez de nações emergentes e do setor privado. O presidente do BC repetiu que o movimento nas economias internacionais está muito sincronizado desde a pandemia, com a entrada e, agora, saída de estímulos para a atividade.

Estadão
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