Campos Neto diz que governo acerta ao perseguir meta fiscal, mesmo que mercado não acredite
Nova regra fiscal do governo estabelece uma meta de déficit primário zero em 2024
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse nesta sexta-feira, 29, que o governo acerta ao perseguir as metas fiscais definidas pelo novo arcabouço, mesmo que o mercado não acredite que o alvo será alcançado, ressaltando que eventual abandono desse objetivo indicaria que o compromisso com as contas públicas "não é sério" e pode desorganizar o mercado.
Em evento promovido pela 1618 Investimentos, em São Paulo, Campos Neto afirmou que a política macroeconômica no Brasil se baseia em câmbio flutuante, metas de inflação e controle fiscal, e a perda de controle em um desses componentes impacta os outros.
"É uma decisão muito acertada do governo persistir na meta, ainda que o mercado não acredite, que o mercado entenda que é difícil, e tentar outras formas além das que foram propostas para atingir a meta. A gente tem trabalhado com o governo, estamos bastante alinhados nesse sentido", disse.
Campos Neto notou que o governo tem que "arrecadar bastante" para atingir as metas traçadas, projetando ser necessário um ganho adicional de receitas de 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2024, 1,5% do PIB em 2025 e 1,7% do PIB em 2026.
"Às vezes a meta é difícil, pode levar um pouquinho mais de tempo para atingir a meta, mas se você faz um arcabouço e desiste da sua meta antes do primeiro teste, significa que você não é sério sobre aquela dimensão fiscal, e pode desorganizar os preços de mercado", acrescentou, ao dizer que ancorar a política monetária sem uma ancoragem fiscal "pode ser custoso".
A nova regra fiscal do governo estabelece uma meta de déficit primário zero em 2024, objetivo que exige esforço de ajuste fiscal significativo e apenas será alcançado se o Congresso aprovar medidas para ampliar a arrecadação, o que tem gerado questionamentos de analistas de mercado.
Na apresentação, o presidente do BC disse que o mercado tem errado "consistentemente" as previsões de crescimento da atividade, o que pode sugerir que o país está agora com um crescimento estrutural mais alto. Segundo ele, o mercado também "erra bastante" as previsões para a trajetória da Selic.
Ele reafirmou que as expectativas de inflação no Brasil ainda estão acima da meta, destacando que "ainda temos trabalho a fazer".
Campos Neto disse que a inflação de serviços começou a desacelerar e os últimos indicadores nessa área vieram um pouco melhores, "mas estamos acompanhando ainda".