Campos Neto diz que parte do movimento do câmbio não tem respaldo em fundamentos, BC pode seguir atuando
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta terça-feira que parte da depreciação recente do real não é justificada pelos fundamentos econômicos e ressaltou que o país tem um volume grande de reservas internacionais que permite ao BC seguir atuando no câmbio sempre que achar necessário.
"O que vimos recentemente, inclusive, que nossa moeda voltou a sofrer mais que os pares, em um momento que nós entendemos que tem uma fragilidade externa que propicia esses movimentos de ataque. Nós entendemos que parte do movimento não era justificada pelos fundamentos", disse Campos Neto em participação no evento "Cenários Brasil 2021", promovido pela corretora Empiricus.
"O Brasil tem um volume de reservas bastante grande. Podemos continuar atuando na forma como entendemos que é o mais razoável sempre para preservar o que entendemos que são condições de liquidez, sempre comparando, também, com o que entendemos que são os fundamentos do Brasil."
O dólar fechou em alta de mais de 1% nesta terça-feira, mas encerrou a sessão abaixo de 5,70 reais, patamar superado ao longo do dia em meio a uma forte pressão de compra que levou o Banco Central a vender mais de 2 bilhões de dólares à vista no mercado.
Essas vendas serão liquidadas em 4 de março, num total de 2,095 bilhões de dólares. É o maior valor para um só dia desde a venda de 2,175 bilhões de dólares liquidada em 28 de abril do ano passado.
Num período de quatro pregões, o BC vai liquidar a colocação de 5,175 bilhões de dólares no mercado à vista, volume não visto em cerca de um ano.
Em sua fala, Campos Neto também destacou o aumento dos preços das commodities, em meio ao processo de recuperação pós-pandêmico, mas ponderou que a correlação entre commodities e moedas tem sido um pouco diferente do habitual.
"O que nós temos hoje é commodities subindo bastante, mas as moedas de mercados emergentes, nessa última pernada de subida de commodities, elas não apreciaram como usual. Não só não apreciaram as moedas de mercados emergentes, como não apreciaram as moedas de países produtores de commodities."
Segundo Campos Neto, um dos fatores que explicam esse deslocamento é a percepção de fiscal pior.
"A grande pergunta é 'será que estamos vivendo o fim desse ambiente de liquidez mundial acentuado?' Nós não sabemos, mas o que dá para dizer é que o mercado está reprecificando essas condições de liquidez mundial, isso tem um efeito grande no mundo emergente".
IMUNIZAÇÃO DA POPULAÇÃO
Campos Neto também expressou otimismo com o processo de vacinação da população contra a Covid-19, dizendo acreditar que o número de imunizantes disponíveis ao público será maior que a demanda a partir do mês de abril.
"Nós entendemos, pelas novas comunicações das empresas farmacêuticas, que nós vamos ter um grande número de vacinas disponíveis a partir de abril, até muito mais vacinas do que a demanda", pontuou.
Ao comentar a presença da nova variante da Covid-19 em diferentes Estados do país, o presidente do BC destacou que tanto o número de mortes quanto de casos da Covid-19 acelerou e que isso implicou a discussão sobre novos lockdowns no país.
"Nós entendemos, para o nosso cenário, que isso é temporário (sobre lockdown), que nós temos um esquema de vacinação que vem acelerando. Acreditamos que até junho vamos ter quase todo o grupo de risco vacinado", afirmou.
INFLAÇÃO DOMÉSTICA
O presidente do BC também afirmou que, quando comparada a inflação do Brasil com a de outros mercados emergentes, o país destaca-se na de alimentos, com alta bastante acentuada, explicada em parte pela depreciação cambial, alta de commodities e recuperação da demanda doméstica, que foi impulsionada pelos programas governamentais.
"Para garantir que esse choque seja temporário, precisamos manter a credibilidade das políticas fiscais, monetária. Isso é muito importante. Com a piora da pandemia, a incerteza fiscal passou a preocupar ainda mais", disse.
De acordo com ele, "é necessário e urgente uma resposta institucional". "Entendemos que essa é uma parte central e que o desafio fiscal é muito grande. Nós precisamos de uma resposta à altura", disse, complementando que, sob a ótica da política monetária, o BC trabalhará para entregar as metas de inflação no horizonte relevante.
Em 12 meses até janeiro, a inflação ao consumidor acelerou para 4,56%, ante 4,52% em dezembro, segundo o IBGE.