Capital externo à espera do crescimento
Após histórico de decepções com PIB, recuperação efetiva da economia se tornou um fator crucial para retorno de investidor estrangeiro
A aprovação da reforma da Previdência na Câmara dos Deputados, em julho, não foi suficiente para animar o investidor estrangeiro a retornar ao País, como se esperava. Agora, a expectativa é que o crescimento econômico - e não o fim da tramitação do projeto - possa atrair fluxos de investimentos. Ainda assim, não se espera uma enxurrada de recursos, dada a desaceleração global da economia e a consequente aversão ao risco.
Desde o começo do ano, analistas esperavam que estrangeiros injetassem capital no País, animados com o perfil liberal do ministro da Economia, Paulo Guedes. Isso, no entanto, não se concretizou até agora. Ao contrário: o movimento do investidor internacional tem sido de saída do Brasil.
Apenas na Bolsa, R$ 30,9 bilhões já deixaram o País no acumulado do ano. A participação do estrangeiro na B3 até outubro é de 45,7%, número que chegou a 52,8% em 2015 e, então, começou a recuar. "O investidor global não veio até agora. Parece que havia um pouco de desconhecimento por parte do estrangeiro em relação ao que seria o governo Bolsonaro", diz Carlos Sequeira, chefe de pesquisa de ações para América Latina do BTG.
A aprovação da Previdência na Câmara foi incapaz de atrair o investidor internacional porque, naquele momento, a aversão ao risco era alta, efeito da guerra comercial entre China e EUA. O aval do Senado à proposta também não deve animar os estrangeiros, já que esse final era esperado.
Por isso, a aposta do mercado na recuperação mais concreta da economia é que deve favorecer o retorno do capital. "É possível que (o investimento) comece a vir ainda neste ano. Estamos no ponto da virada, já que, desde setembro, a melhora da economia tem chamado atenção", acrescenta Sequeira.
Grande parte dos analistas do mercado, no entanto, aponta que ainda faltam alguns ingredientes para que o estrangeiro se anime.
Após o histórico de decepções com o PIB, a concretização do crescimento - e não apenas a expectativa de que ele virá - se tornou um dos fatores cruciais para o retorno do capital internacional. "Há uma percepção de que o Brasil está no caminho certo, mas isso ainda precisa se traduzir em crescimento", afirma Claudio Jacob, diretor da B3.
Para a economista-chefe da BNP Paribas Asset Management, Tatiana Pinheiro, além da capacidade de recuperação econômica, a consolidação fiscal também é essencial.
"A reforma da Previdência tirou da frente o problema de insolvência fiscal no curto prazo, mas não é suficiente. Eles (estrangeiros) não vão esperar todas as reformas (antes de aportarem no Brasil), mas ainda estão monitorando o encaminhamento fiscal", diz.
"Nossas questões domésticas pesam mais do que as internacionais", acrescenta ela, divergindo de muitos analistas, para os quais o cenário global é um dos maiores desafios.
Cenário internacional. A desaceleração do mundo e o risco de uma recessão tem deixado o investidor mais cauteloso e feito com que ele busque proteção nos países mais ricos, segundo Roberto Padovani, economista-chefe do banco Votorantim.
Padovani destaca que a vinda do capital estrangeiro pode dar estabilidade ao câmbio e, portanto, confiança ao consumidor e ao empresariado. "Ajudaria a termos um crescimento mais acelerado", diz ele, que não imaginava que os investidores internacionais demorariam tanto para retornar ao País.
Enquanto o estrangeiro não vem, o investidor doméstico tem feito a Bolsa avançar rapidamente ao migrar seus recursos da renda fixa (com rentabilidade previsível, como o Tesouro Direto) para a variável (como ações), em decorrência da queda da taxa básica de juros.
"A Bolsa hoje cresce porque tem troca de alocação do brasileiro, que está substituindo o estrangeiro (no mercado de ações)", diz Fábio Ramos, do UBS.
Segundo o Bank of America, R$ 400 bilhões de investidores locais ainda devem migrar para a renda variável em busca de um retorno melhor. "O estrangeiro deve vir quando o País crescer. Até lá, ainda tem muito recurso doméstico para ir para a Bolsa", diz David Beker, chefe de economia do banco.