Carrefour Brasil compra Grupo Big por R$7,5 bi e ação dispara
O Carrefour Brasil anunciou nesta quarta-feira acordo para a compra do Grupo BIG por 7,5 bilhões de reais, expandindo presença em regiões como o Nordeste e o Sul do país e ampliando a liderança em varejo alimentar, o que fez as ações dispararem.
O acordo foi feito entre o Carrefour Brasil, a Advent International e a Brazil Holdings, controlada pelo Walmart. As negociações começaram no inicio do ano, após o Advent adiar planos de IPO do BIG e foi contatado pelo Carrefour.
O Carrefour Brasil estima como sinergia contribuição adicional líquida ao Ebitda de 1,7 bilhão de reais anuais a partir de três anos após a conclusão, estimada para 2022.
Entre as sinergias esperadas estão ganhos de densidade de vendas e alinhamento de margens, receitas com oferta de serviços financeiros e aceleração digital, além de otimização de custos e na cadeia de suprimentos.
O Grupo BIG detém o ativo imobiliário de 181 lojas (47% do total) e 38 outras propriedades, somando cerca de 7 bilhões em valor imobiliário, segundo análise citada em fato relevante.
A compra do Grupo BIG, terceiro maior varejista alimentar do Brasil, adiciona 387 lojas à rede de 489 unidades do Carrefour. Também se espera que adicione mais de 15 milhões de clientes à base de mais de 45 milhões de clientes do Carrefour.
Analistas do Bradesco BBI, citando dados da consultoria Nielsen, estimam que a participação de mercado do Carrefour passará de cerca de 13% para cerca de 19%.
Em coletiva de imprensa, o diretor presidente do Carrefour Brasil, Noël Prioux, afirmou que as operações do BIG não têm muita sobreposição com os negócios do grupo francês no Brasil.
"Temos presença geográfica complementar e os formatos também são diferentes", disse o executivo, que espera aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para o negócio.
Em comunicado, Prioux ressaltou que a negócio também expande a atuação em formatos, com adição do modelo do Sam's Club, por meio de um contrato de licenciamento com o Walmart.
Assumindo as sinergias a valor total, e um período de três anos a ser capturado, analistas do BTG Pactual calculam uma ação de 12 reais na ação do Carrefour ou valor presente líquido da empresa de 25 bilhões de reais.
Às 15:25, a ação do Carrefour subia 14%, a 21,97 reais, destaque do Ibovespa, que avançava 0,9%. Na máxima, chegaram a 22,40 reais. Em 2021, Carrefour sobe cerca de 13%. No mesmo horário, a ação do rival GPA caía 1%.
"Nossa primeira conclusão é que esse negócio é bom para o Carrefour, dada a avaliação atraente, sinergias significativas e novos caminhos de crescimento", afirmou o Bradesco BBI estimando que o negócio represente acréscimo de até 20% nos lucros no ano três, e que fortalecerá a posição do Carrefour na Região Sul, notoriamente difícil para os players nacionais se expandirem.
"Acreditamos também que a aquisição deve acalmar algumas das preocupações que os investidores têm sobre o aumento da concorrência, especialmente no segmento de 'cash & carry', dado o ressurgimento do BIG após sua aquisição pela Advent."
DINHEIRO, AÇÕES
A estrutura da operação prevê que o Carrefour Brasil comprará ações ordinárias representando 70% do capital do Grupo BIG por 5,25 bilhões de reais, em dinheiro e, após aprovação de acionistas, os outros 30%.
No âmbito da incorporação, cada ação ON do Grupo Big será substituída por ações do Carrefour Brasil, sendo emitido um total de 116.822.430 papéis, que não poderão ser transferidos pelos vendedores por até 6 meses.
Segundo o diretor vice-presidente de Finanças do Carrefour Brasil, Sébastien Durchon, as ações do Carrefour serão avaliadas a 19,26 reais cada para a parcela da operação ligada à troca.
A companhia explicou que, caso situações específicas ocorram, os vendedores poderão converter a operação para que a aquisição se dê toda em dinheiro por 7,5 bilhões de reais. A operação considerou um o valor do negócio em 7 bilhões de reais.
O Bradesco BBI estimou que o Carrefour pagará um múltiplo equivalente a cerca e 14 vezes o Ebitda projetado para o BIG em 2020, embora com a inclusão das sinergias esperadas, esse múltiplo recue para apenas 3,2 vezes- o que se compara com um múltiplo EV/Ebitda de 7,2 vezes do Carrefour.
"Mesmo que assumíssemos que apenas metade das sinergias serão alcançadas, o múltiplo ainda seria um atraente 5,2 vezes."
Assim que concluída a operação, o Grupo Carrefour terá 67,7% de participação do Grupo Carrefour Brasil (ante 71,6% hoje) e a Península Participações terá 7,2%, enquanto a Advent e o Walmart, através de entidades afiliadas, terão juntos 5,6%.
LUCRO DE MAIS DE 300%
O fundo de private equity Advent teve lucro de mais de 300% com o investimento no BIG, antiga operação do Walmart, depois de assinar o negócios com o Carrefour Brasil.
Segundo dados públicos, desde que comprou 80% do BIG por um valor próximo a zero há dois anos e meio, a Advent gastou cerca de 1,6 bilhão de reais na rede. O resultado final recebido pela Advent ficara em torno de 6,6 bilhões de reais - considerando o valor pago pelo Carrefour Brasil e o resultado de vendas de 800 milhões de reais em imóveis já realizadas pelo BIG.
Desde então, o Advent mudou a marca Walmart para BIG e Bompreço, com mais força regional, e reformulou a operação da rede de atacarejo Maxxi, transformando o mix de produtos voltado para pequenos lojistas para o consumo das famílias. O Advent também focou no crescimento da rede de clubes de compras Sam's Club, que atende as classes A e B.
Quando vendido pelo Walmart, o Sam's Club tinha 25 lojas no Brasil, e deve chegar a 45 até o fechamento do negócio com o Carrefour, afirmou Wilson Rosa, sócio do Advent responsável pelos investimentos em varejo.
"Fizemos uma reestruturação bem sucedida e rápida" disse Rosa, citando o crescimento do Ebitda da operação de 127 milhões de reais em 2018 para 928 milhões no ano passado.
O Walmart deve receber cerca de 1,5 bilhão de reais pela fatia no BIG, ainda longe de zerar o prejuízo de 4,5 bilhões de dólares registrado quando a operação no país foi vendida.