City Hatchback é um Fit alongado e rebaixado (e anda bem)
Veja nossas primeiras impressões ao volante do inédito Honda City Hatchback, que estreia no Brasil com a missão de substituir o amado Fit
O inédito Honda City Hatchback já está à venda no Brasil e tem uma missão espinhosa: substituir o bem-amado Fit, que saiu de linha. Todo mundo gostava do Fit. Quer dizer, quase todo mundo, pois o carro já estava vendendo menos e a Honda o considerava obsoleto. A ideia do City Hatchback é boa: tira de linha um carro quase de nicho e coloca em seu lugar um forte concorrente num dos segmentos mais populares do mundo.
Já tivemos uma experiência de um dia (sem pernoite) com o City Hatchback para as primeiras impressões ao volante. Ele é menor do que o New City sedã, mas é maior do que o aposentado Honda Fit. Tem maior comprimento, maior largura e maior distância entre-eixos. Dá para cruzar as pernas no banco de trás (tenho 1,82 m), pois o espaço ficou bem maior. Ele também é mais baixo e tem um tantinho a menos de vão livre do solo. Não é exagero dizer que o City Hatchback é um Fit alongado e rebaixado (não pelo design, mas pela proposta).
Esta afirmação não desmerece o carro. Mas também não sinaliza um hatch empolgante. A Honda tinha o compromisso de não deixar os donos de Fit totalmente órfãos. Não foi muito difícil, pois o Fit era um monovolume compacto que muitos confundiam com um hatchback. Sua proposta não era a esportividade – característica que podemos identificar em hatches como o Volkswagen Polo e o Fiat Argo. Pelo contrário. O Fit fez sucesso por sua versatilidade. O City Hatchback seguiu o mesmo caminho, porém com franca vantagem em relação ao modelo que saiu de linha.
Começamos pelo design. Por ser mais baixo e mais largo, o City Hatchback tem mais presença nas ruas. Chama atenção por onde passa (pelo menos enquanto é uma novidade). As laterais dos faróis e das lanternas são alongadas para se conectar com o vinco que fica um pouco abaixo da linha de cintura do carro. Mas não é só boniteza. Tem o aspecto prático também. O City Hatchback tem o centro de gravidade mais baixo do que o do Fit, por isso tende a ser mais estável nas curvas.
O entre-eixos mais longo, entretanto, poderia tirar um pouco da destreza em curvas mais fechadas. Mas, de novo, não estamos falando de um carro esportivo e sim de um carro prático. Como seu desempenho é relativamente limitado pela potência do motor 1.5 aspirado (126 cavalos), o City Hatchback se saiu bem tanto nas ruas como na estrada. Em velocidades acima de 140 km/h, porém, pneus mais largos do que os 185/55 R16 ajudariam a deixar o carro mais firme. Normal.
O motor também melhorou. Com partes em alumínio, injeção direta e duplo comando de válvulas, a Honda deixou seu motor 1.5 de 4 cilindros mais potente (10 cv com etanol e 11 cv com gasolina) e mais econômico. O torque subiu um pouco e agora é de 155 Nm. Junto com o motor vieram aprimoramentos no câmbio CVT de 7 marchas. Ele tem modos Eco e Sport (acionados em locais diferentes) e respostas mais rápidas, além de aletas para trocas de marchas manuais no volante de direção.
O modo Eco é acionado por um botão no console central e deixa o carro no modo mais econômico, com algum prejuízo no desempenho. A diferença não nos pareceu muito perceptível para o modo Drive normal. No modo Sport, entretanto, o carro se transforma, pois há uma forte redução de marcha e aumento significativo no regime de rotações do motor. Rodando em Drive, o motor do City Hatchback trabalha entre 1.800 e 2.200 rpm na velocidade de 100 a 120 km/h. Se o motorista dirigir de forma suave (e econômica), já na 4ª marcha o câmbio CVT pode operar no regime de overdrive (com foco na economia e não no desempenho), mas é na 6ª e na 7ª que o Overdrive é mais claro.
Basta puxar a alavanca de câmbio para trás (ao mesmo tempo apertando o botão de destrave) para que o conta-giros pule de 2.000 para 3.500 rpm e o ronco do motor invada a cabine. É possível controlar os impulsos do City Hatchback no modo Sport pelo pedal do acelerador ou pela borboleta do câmbio. No pé, o motor trabalha sempre em regimes elevados e o consumo vai subir. Uma vez acionada a borboleta, entretanto, o carro vai entender que você quer ter o controle total e vai fixar a marcha até a próxima troca manual.
Em nenhum dos casos o City Hatchback é um carro empolgante para guiar. Mas é agradável. E essa sensação vem de alguns aspectos muito bem trabalhados pela Honda. Começa pela posição de dirigir, que é ótima e ainda oferece ajustes de altura e de profundidade do volante. Passa pelos novos bancos, que são muito mais ergonômicos do que os dos antigos City e Fit. E termina no volante de direção, que é primoroso, com excelente empunhadura.
Ficamos com a sensação de que o City Hatchback (assim como o New City sedã) tem carroceria, estrutura e ergonomia para proporcionar maiores emoções, se um dia a Honda decidir equipá-lo com um motor mais potente, adicionar freios a disco na traseira, endurecer a suspensão e adotar pneus maiores e mais largos. É um carro que permite sonhos de consumo que vão além do pacato modelo familiar que se vê nas concessionárias.
Ainda como um mimo aos fãs do aposentado Fit, o City Hatchback traz o sistema Magic Seat nos bancos. Com uma combinação de quatro configurações que nenhum outro hatch oferece (Utility, Tall, Longo e Refresh), ele pode se transformar numa cama ou abrigar uma prancha de surf. Além disso, com o banco traseiro rebatido, sua capacidade de volume sobe para 1.168 litros (o que é mais do que os 1.045 do Fit).
É também uma forma de compensar o porta-malas pequeno, de apenas 268 litros, que é quase 100 litros a menos do que os 363 oferecidos pelo Fit (que era um carro menor). De qualquer forma, a Honda lembra que sua medição de porta-malas é mais próxima do real, feita com cubos, que não cobrem todas as reentrâncias do bagageiro, enquanto há montadoras que divulgam a capacidade do porta-malas como se ele estivesse cheio de água, ou seja, ocupando todos os minúsculos espaços. Os dois modos de medição têm seus méritos.
Em comparação com o antigo Fit, o Honda City Hatchback ganhou 7 cm na distância entre-eixos e 5,4 cm na largura. Por dentro, o carro oferece 6 cm a mais na região dos ombros. As rodas têm bom diâmetro (16”), mas visualmente, no City Hatchback, passam a impressão de serem menores.
Mecanicamente, o City Hatchback é igual ao novo City sedã. A potência máxima (126 cv com gasolina ou etanol) só é atingida a 6.200 rpm (200 a mais do que no Fit). O torque máximo (155 Nm com etanol e 152 com gasolina) surge um pouco antes, a 4.600 rpm (200 a menos do que no Fit), mas é aí que se nota a falta que faz o turbocompressor. Afinal, a 4.600 giros o motor já está berrando em altos níveis e tirou todo o conforto acústico da cabine.
Com o novo motor de alumínio, o Honda City Hatchback faz 13,3 km/l de gasolina na cidade e 14,8 na estrada. Quando abastecido com etanol, o City Hatchback faz 9,1 km/l na cidade e 10,5 na estrada. Com o motor de 4 cilindros, aspirado, a Honda oferece um carro praticamente sem vibrações, o que seria mais difícil conseguir num motor 1.0 turbo de 3 cilindros.
Em termos de segurança, o carro é bem equipado, com seis airbags de série e o sistema Honda Sensing: controle de cruzeiro adaptativo (piloto automático), sistema de frenagem para mitigação de colisão, sistema de permanência de faixa e ajuste automático do farol alto e baixo. A suspensão traseira é por eixo de torção.
Apesar de a conectividade Android e Apple ser feita com cabo, o sistema rapidamente espelha o celular na tela de 8”. A multimídia é bastante intuitiva. Há também carregamento de celular por indução, o que obrigou a Honda e melhorar os porta-objetos do console central. Apesar de o carro ter duas entradas USB na parte dianteira, sentimos falta de uma porta para conexão na parte de trás. O quadro de instrumentos é analógico e tem excelente design.
O Honda City Hatchback é vendido em apenas duas versões: EXL por R$ 114.200 e Touring por R$ 122.600. A garantia do novo City é de três anos, sem limite de quilometragem. Segundo a Honda, se o mercado mostrar necessidade de novas versões, o City Hatchback pode ampliar a gama (para cima ou para baixo).
Os números
Motor: 1.5 flex
Potência máxima: 126 cv a 6.200 rpm (g/e)
Torque máximo: 155 Nm a 4.600 rpm (e)
Câmbio: 7 marchas CVT
Comprimento: 4,341 m
Largura: 1,748 m
Altura: 1,498 m
Entre-eixos: 2,600 m
Vão livre: 144 mm
Peso: 1.170 kg
Carga útil: 435 kg
Pneus: 185/55 R16 R16
Porta-malas: 268 litros
Tanque: 39 litros
0-100 km/h: 10s8
Velocidade máxima: 175 km/h
Consumo cidade: 13,3 km/l (g)
Consumo estrada: 14,5 km/l (g)
Emissão de CO2: n/d