Comprar um carro hoje vale a pena? Especialista dá as dicas
Veja tudo que você precisa considerar ― inclusive a possibilidade de alugar em vez de comprar.
Comprar um carro ou fazer o upgrade para um modelo mais novo é o desejo de muita gente. Pode simbolizar uma conquista pessoal, um ganho de status ou a constituição de patrimônio. Mas planejar essa aquisição envolve duas etapas que deveriam caminhar juntas: a primeira que é conseguir comprar o carro e a segunda, que parece óbvia, mas tem todos calculam bem, que é mantê-lo, visto que novas despesas surgirão!
"Ter um automóvel representa um compromisso de médio prazo, geralmente é preciso de 2 a 5 anos para adquirir um veículo, seja para juntar o dinheiro e pagar à vista, seja para financiar o valor e quitá-lo a prazo. Por isso, o primeiro passo envolve a análise da capacidade de pagamento, quando se observa todas as demais despesas existentes no orçamento pessoal, antes que se comprometa com a parcela ou a poupança durante o período", explica a planejadora financeira Karoline Cinti.
Se sua opção é comprar o carro a prazo, no seu orçamento precisará caber tanto o valor da parcela do financiamento, quanto os outros custos que virão com ele: registro, IPVA e taxas, combustível, manutenção e seguro, se for o caso. Todos esses gastos estão diretamente relacionados ao tipo, ano e condições do veículo. Portanto, simular o cenário como um todo, irá ajudar na definição do modelo do carro que se encaixa no seu bolso.
Para exemplificar quanto um carro pode vir a custar por mês, podemos pensar em um modelo que custe R$ 40.000,00. Sem considerar a parcela, ele já dará cerca de R$ 718,00 de despesas mensais (considerando R$ 400,00 de combustível, R$ 50,00 de estacionamento, R$ 134,00 de seguro e mais R$ 134,00 de IPVA, calculados com base em 4% do valor do veículo), sem contar manutenções, depreciação, lavagem, pequenos acidentes e multas. No orçamento de alguém com renda de R$ 4.000,00, só os custos básicos já representam 18% da receita, agora se for contar os adicioanis, a despesa com o carro pode levar ao endividamento quem não se preparou para isso.
Já para a compra à vista, a mesma análise se faz necessária, porém para que seja feita uma reserva mensal de valor equivalente aos custos que teria com financiamento. É claro que essa é uma opção para quem consegue esperar, mas se mostra vantajosa sob o ponto de vista financeiro, por não pagar juros no financiamento, ter o poder de negociação e receber rendimentos durante o período de poupança. Esse caso se mostra muito vantajoso quando se consegue bons rendimentos em aplicações financeiras.
No entanto, nos últimos tempos temos nos deparado com um cenário muito raro, principalmente, em relação aos preços de carros seminovos e usados.
De 3 anos para cá, o carro zero km ficou 31% mais caro, enquanto o usado subiu cerca de 22% durante os 2 anos de pandemia, segundo a Fipe e KBB Brasil respectivamente.
Então, se você tivesse a opção de fazer um upgrade no início de 2020 financiando o valor faltante, ou de esperar e poupar para comprar à vista agora, talvez não fosse possível, pois nesse período o valor investido indexado pela Selic, não teria rendido o suficiente para a compra do mesmo veículo, dada a variação do preço dele que foi muito fora da curva.
Isso porque investimentos com base na Selic, renderam 4,25% em 2020 e 9,25% em 2021, não acompanhando o aumento dos preços. Portanto, dependendo da taxa do financiamento, nesse caso bastante particular, até poderia ter valido a pena financiar lá em 2020. Talvez ele acabasse custando o mesmo valor com os juros, mas pelo menos já estaria sendo usado.
Mas imagina-se que esse movimento não se manterá para sempre, em algum momento essa alta deve ser controlada e os preços inflados tendem a reduzir. E assim voltamos com a certeza que comprar à vista compensa muito mais.
Mas independentemente da compra ser feita à vista ou a prazo, Karoline Cinti reforça que é importante lembrar que ter um veículo está custando caro, então buscar outras alternativas deveria estar no radar.
O transporte público não é uma opção que atende sua necessidade? Então, talvez o carro que você chama pelo aplicativo já seja o suficiente. Atendo muitos clientes que se queixam de pagar R$ 500,00 por mês com as corridas, e cogitam a compra de um veículo com esse valor de parcela. Para eles eu calculo quanto custa o carro desejado, mais todos os gastos envolvidos com manutenção, combustível, seguro, taxas, e o preço de revenda daqui alguns anos, e assim a gente decide se os R$ 500,00 valem a pena ou não.
Muitos deles gastariam esse valor considerando só a gasolina e o seguro. Nos casos em que não é necessário se locomover por longas distâncias para trabalhar todos os dias com o veículo, pode compensar muito usar o transporte por aplicativo. Mas até para casos em que há a necessidade, podemos pensar em alternativas, como o ônibus fretado ou divisão de gastos com colegas de trabalho que têm carro e moram próximo.
Se o ponto é economia, sempre podemos encontrar alternativas para fazer uma melhor gestão.
E alugar, pode ser uma opção?
O aluguel de veículo está se tornando muito atrativo, pois atualmente as locadoras têm opções que oferecem praticidade, com todos os custos embutidos na parcela do aluguel. Para quem valoriza a comodidade, roda muitos quilômetros no mês e já compraria um carro zero km de qualquer forma, pode valer a pena. No mais, ao comparar, a compra ainda é a melhor opção.
De forma geral, o ponto mais importante a ser considerado é se há espaço no orçamento para incluir todos os custos e sustos. Mas também se ao optar pela compra, os outros objetivos da lista ainda poderão ser realizados. Digo isso porque em grande parte dos casos que eu vejo, o custo com o carro representa uma parcela tão significativa dos orçamentos, que praticamente inviabiliza viagens, compra de imóveis, estudos, entre outros itens de desejo.
Karoline finaliza com alertas importantes "analise bem a importância dessa aquisição para você, a utilidade do bem, se há uma opção mais em conta e os impactos no orçamento. Não se esqueça que imprevistos podem acontecer, portanto é imprescindível ter uma reserva financeira para lidar com eles. Toda compra é um processo de decisão e quando se trata de um alto valor, precisa ser bem pensada e calculada. Atenção para não acabar agindo por impulso e comprando um carro que não conseguirá manter.
No fim das contas, a decisão é sempre individual, mas sabendo o que considerar, como calcular, esperando o momento certo e conhecendo suas prioridades, a chance de acertar é muito maior.
(*) Mari Ferreira é especialista em educação financeira, consultora, palestrante, criadora de conteúdo e autora do livro “Tostão Furado: Do Zero à Liberdade Financeira”.