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Comprar um carro hoje vale a pena? Especialista dá as dicas

Veja tudo que você precisa considerar ― inclusive a possibilidade de alugar em vez de comprar.

2 abr 2022 - 04h00
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Foto: Adobe Stock

Comprar um carro ou fazer o upgrade para um modelo mais novo é o desejo de muita gente. Pode simbolizar uma conquista pessoal, um ganho de status ou a constituição de patrimônio. Mas planejar essa aquisição envolve duas etapas que deveriam caminhar juntas: a primeira que é conseguir comprar o carro e a segunda, que parece óbvia, mas tem todos calculam bem, que é mantê-lo, visto que novas despesas surgirão!

"Ter um automóvel representa um compromisso de médio prazo, geralmente é preciso de 2 a 5 anos para adquirir um veículo, seja para juntar o dinheiro e pagar à vista, seja para financiar o valor e quitá-lo a prazo. Por isso, o primeiro passo envolve a análise da capacidade de pagamento, quando se observa todas as demais despesas existentes no orçamento pessoal, antes que se comprometa com a parcela ou a poupança durante o período", explica a planejadora financeira Karoline Cinti.

Se sua opção é comprar o carro a prazo, no seu orçamento precisará caber tanto o valor da parcela do financiamento, quanto os outros custos que virão com ele: registro, IPVA e taxas, combustível, manutenção e seguro, se for o caso. Todos esses gastos estão diretamente relacionados ao tipo, ano e condições do veículo. Portanto, simular o cenário como um todo, irá ajudar na definição do modelo do carro que se encaixa no seu bolso.

Para exemplificar quanto um carro pode vir a custar por mês, podemos pensar em um modelo que custe R$ 40.000,00. Sem considerar a parcela, ele já dará cerca de R$ 718,00 de despesas mensais (considerando R$ 400,00 de combustível, R$ 50,00 de estacionamento, R$ 134,00 de seguro e mais R$ 134,00 de IPVA, calculados com base em 4% do valor do veículo), sem contar manutenções, depreciação, lavagem, pequenos acidentes e multas. No orçamento de alguém com renda de R$ 4.000,00, só os custos básicos já representam 18% da receita, agora se for contar os adicioanis, a despesa com o carro pode levar ao endividamento quem não se preparou para isso. 

Já para a compra à vista, a mesma análise se faz necessária, porém para que seja feita uma reserva mensal de valor equivalente aos custos que teria com financiamento. É claro que essa é uma opção para quem consegue esperar, mas se mostra vantajosa sob o ponto de vista financeiro, por não pagar juros no financiamento, ter o poder de negociação e receber rendimentos durante o período de poupança. Esse caso se mostra muito vantajoso quando se consegue bons rendimentos em aplicações financeiras.

Comprar um carro hoje vale a pena? Especialista dá as dicas:

No entanto, nos últimos tempos temos nos deparado com um cenário muito raro, principalmente, em relação aos preços de carros seminovos e usados.

De 3 anos para cá, o carro zero km ficou 31% mais caro, enquanto o usado subiu cerca de 22% durante os 2 anos de pandemia, segundo a Fipe e KBB Brasil respectivamente.

Então, se você tivesse a opção de fazer um upgrade no início de 2020 financiando o valor faltante, ou de esperar e poupar para comprar à vista agora, talvez não fosse possível, pois nesse período o valor investido indexado pela Selic, não teria rendido o suficiente para a compra do mesmo veículo, dada a variação do preço dele que foi muito fora da curva. 

Isso porque investimentos com base na Selic, renderam 4,25% em 2020 e 9,25% em 2021, não acompanhando o aumento dos preços. Portanto, dependendo da taxa do financiamento, nesse caso bastante particular, até poderia ter valido a pena financiar lá em 2020. Talvez ele acabasse custando o mesmo valor com os juros, mas pelo menos já estaria sendo usado.

Mas imagina-se que esse movimento não se manterá para sempre, em algum momento essa alta deve ser controlada e os preços inflados tendem a reduzir. E assim voltamos com a certeza que comprar à vista compensa muito mais.

Mas independentemente da compra ser feita à vista ou a prazo, Karoline Cinti reforça que é importante lembrar que ter um veículo está custando caro, então buscar outras alternativas deveria estar no radar.

O transporte público não é uma opção que atende sua necessidade? Então, talvez o carro que você chama pelo aplicativo já seja o suficiente. Atendo muitos clientes que se queixam de pagar R$ 500,00 por mês com as corridas, e cogitam a compra de um veículo com esse valor de parcela. Para eles eu calculo quanto custa o carro desejado, mais todos os gastos envolvidos com manutenção, combustível, seguro, taxas, e o preço de revenda daqui alguns anos, e assim a gente decide se os R$ 500,00 valem a pena ou não. 

Muitos deles gastariam esse valor considerando só a gasolina e o seguro. Nos casos em que não é necessário se locomover por longas distâncias para trabalhar todos os dias com o veículo, pode compensar muito usar o transporte por aplicativo. Mas até para casos em que há a necessidade, podemos pensar em alternativas, como o ônibus fretado ou divisão de gastos com colegas de trabalho que têm carro e moram próximo.

Se o ponto é economia, sempre podemos encontrar alternativas para fazer uma melhor gestão.

E alugar, pode ser uma opção?

O aluguel de veículo está se tornando muito atrativo, pois atualmente as locadoras têm opções que oferecem praticidade, com todos os custos embutidos na parcela do aluguel. Para quem valoriza a comodidade, roda muitos quilômetros no mês e já compraria um carro zero km de qualquer forma, pode valer a pena. No mais, ao comparar, a compra ainda é a melhor opção.

De forma geral, o ponto mais importante a ser considerado é se há espaço no orçamento para incluir todos os custos e sustos. Mas também se ao optar pela compra, os outros objetivos da lista ainda poderão ser realizados. Digo isso porque em grande parte dos casos que eu vejo, o custo com o carro representa uma parcela tão significativa dos orçamentos, que praticamente inviabiliza viagens, compra de imóveis, estudos, entre outros itens de desejo.

Karoline finaliza com alertas importantes "analise bem a importância dessa aquisição para você, a utilidade do bem, se há uma opção mais em conta e os impactos no orçamento. Não se esqueça que imprevistos podem acontecer, portanto é imprescindível ter uma reserva financeira para lidar com eles. Toda compra é um processo de decisão e quando se trata de um alto valor, precisa ser bem pensada e calculada. Atenção para não acabar agindo por impulso e comprando um carro que não conseguirá manter.

No fim das contas, a decisão é sempre individual, mas sabendo o que considerar, como calcular, esperando o momento certo e conhecendo suas prioridades, a chance de acertar é muito maior.

(*) Mari Ferreira é especialista em educação financeira, consultora, palestrante, criadora de conteúdo e autora do livro “Tostão Furado: Do Zero à Liberdade Financeira”.

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