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Cedae quer contratar 70% de seu consumo de eletricidade no mercado livre para reduzir gasto em 30%

Estatal de saneamento do Rio segue responsável pela captação e pelo tratamento de água, operação intensiva no consumo de energia elétrica; conta de luz de 2021 foi de cerca de R$ 1 bilhão

22 nov 2022 - 18h54
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RIO - A Cedae, estatal fluminense de saneamento, que segue responsável pela captação e pelo tratamento de água após a concessão dos serviços no Rio, deverá lançar, ainda este ano, licitação para comprar energia elétrica no mercado livre, afirmou nesta terça-feira, 22, o presidente da empresa, Leonardo Soares. O executivo acha possível que, já em 2023, o mercado livre responda por cerca de 70% do consumo da empresa. Dependendo dos preços obtidos na licitação, a medida poderia resultar numa redução de 30% nos gastos com eletricidade.

A energia elétrica é um dos principais insumos da Cedae. Em 2021, a conta de luz ficou em torno de R$ 1 bilhão ao ano. Economizar com esse item é, portanto, fundamental para a estatal se adequar a uma nova realidade, trazida pelo processo de desestatização dos serviços de saneamento no Estado do Rio. No novo modelo proposto pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que desenhou a desestatização, os serviços de água e esgoto foram separados entre "produção" - captação e tratamento - e "distribuição".

A distribuição de água tratada, a coleta e o tratamento do esgoto, além da relação comercial com os clientes, são concedidos a operadores privados - no Rio, três consórcios, cada um liderado por algumas das principais empresas do setor, levaram as quatro áreas de concessão, nos leilões realizados em abril e dezembro de 2021. A captação e o tratamento da água, fornecida aos operadores privados, seguem com a estatal. Além do Rio, o BNDES testou esse modelo na desestatização do saneamento em Alagoas, a primeira após a aprovação do novo marco regulatório do setor, em 2020.

O presidente da Cedae, Leonardo Soares, trabalhar para tornar a empresa mais enxuta, cortando custos
O presidente da Cedae, Leonardo Soares, trabalhar para tornar a empresa mais enxuta, cortando custos
Foto: Pedro Kirilos/Estadão / Estadão

"Deixamos de ser uma empresa que atende no 'B2C' (business-to-consumer, ou seja, um negócio que atende o cliente final) e passamos a ser 'B2B' (business-to-business, ou seja, um negócio que atende a demanda de outras empresas). Captamos a água, tratamos e vendemos para as novas concessionárias para que elas possam fazer a distribuição. Esse é o nosso novo modelo de negócios. De lá para cá, refizemos todo o nosso plano de negócios", resumiu Soares, em entrevista durante uma visita às unidades operacionais da Cedae, incluindo a Estação de Tratamento de Água (ETA) do Guandu, considerada a maior do mundo.

O plano de negócios passa por reduzir custos, tornando a operação mais enxuta, porque, no novo modelo, a receita da Cedae vai despencar. Antes das concessões, a receita anual da empresa era de cerca de R$ 6 bilhões ao ano, segundo Soares. Nesta terça-feira, 22, o executivo estimou que, sob o novo modelo, o valor cairá para pouco mais de R$ 3 bilhões. Em fevereiro, Soares disse ao Estadão que o valor poderia descer até R$ 2,2 bilhões ao ano.

Além da contratação de energia no mercado livre, a Cedae pretende publicar, no primeiro trimestre do próximo ano, o edital para selecionar o operador de uma parceria público-privada (PPP) para implementar um plano de eficiência energética. O plano inclui, além de medidas para redução do consumo de eletricidade, a construção de uma usina de energia fotovoltaica, que ficará ligada ao Sistema Interligado Nacional (SIN) e também fornecerá para a Cedae.

Somadas, as ações para cortar os gastos com eletricidade poderão levar a economia a 40%, como já havia mostrado o Estadão em fevereiro.

Funcionários

Outro insumo cujos gastos precisam ser adequados é o quadro de pessoal. O plano de negócios concluído no início deste ano indica que, mais enxuta, a Cedae precisará de entre 2,5 mil e 3 mil funcionários, disse Soares. Atualmente, a estatal tem cerca de 3,2 mil empregados. Antes das concessões, eram em torno de 5 mil - as reduções mais expressivas foram em 2020 e 2021, quando foi aberto um plano de demissão voluntária (PDV).

Funcionário da Cedae nos subterrâneos da Elevatória do Lameirão, infraestrutura construída nos anos 1960, para levar a água produzida na ETA do Guandu até a zona sul da capital fluminense, num trajeto de pouco mais de 40 quilômetros de dutos
Funcionário da Cedae nos subterrâneos da Elevatória do Lameirão, infraestrutura construída nos anos 1960, para levar a água produzida na ETA do Guandu até a zona sul da capital fluminense, num trajeto de pouco mais de 40 quilômetros de dutos
Foto: Pedro Kirilos/Estadão / Estadão

Segundo Soares, a diretoria da Cedae ainda não decidiu se fará novos PDVs, para chegar aos números indicados no plano de negócios. A empresa está passando a limpo a administração de horas extras dos empregados, que, segundo o executivo, seriam excessivas.

Além disso, o modelo mais enxuto prevê a geração de receitas com novas atividades, como a prestação de serviços de análise laboratorial de qualidade de água para terceiros, que poderão exigir número maior de funcionários do que o previsto no plano de negócios. Somente após avaliar os efeitos dessas duas ações a diretoria da Cedae chegará a uma conclusão final sobre o tamanho ideal do quadro de funcionários.

Estadão
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