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CEO da Espaçolaser, Magali Leite destrincha trajetória de origem humilde a executiva

Para ela, ainda falta que mulheres tenham referências no mundo dos negócios; ela é uma das apenas cinco à frente de empresas na B3

24 jun 2024 - 05h00
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Com 30 anos de experiência, Magali Leite está terminando uma segunda graduação, agora em Contabilidade
Com 30 anos de experiência, Magali Leite está terminando uma segunda graduação, agora em Contabilidade
Foto: Divulgação

Com nove meses dentro da empresa, Magali Leite, de 52 anos, assumiu o cargo executivo mais alto na Espaçolaser, se tornando diretora-executiva, em março deste ano. Apesar disso, ela não considera que sua ascensão foi inesperada. Era natural, por seu perfil como executiva e as exigências que o momento da companhia pediam.

“A minha experiência é muito ampla, não só de áreas que eu já liderei, mas de setores onde eu atuei. Então, eu entro em junho de 23 para endereçar esses desafios, mas, sobretudo, eles enxergaram ali que eu tinha potencial para uma eventual evolução dentro da estrutura do negócio. E aí, talvez tenha sido por isso que a escolha na saída do CEO anterior tenha sido tão natural. Eu já vim bastante preparada para isso”, afirma em entrevista ao Terra.

Não foi como se Magali tivesse saltado de uma posição qualquer para o cargo de CEO, ela já entrou na Espaçolaser como diretora-financeira (CFO). Ainda assim, a executiva conta que precisou de ousadia para demonstrar que queria - e tinha capacidade - para se tornar o principal nome da empresa.

“A maioria das mulheres não tem essa ousadia, digamos, de mostrar que está pronta para a cadeira. E, principalmente, a gente não sabe muito bem como fazer isso”, diz.

Agora, como uma executiva de sucesso que cresceu por seus próprios méritos, Magali quer ser referência para outras mulheres. Ela é uma das cinco que estão à frente de empresas listadas na B3 - a bolsa de valores brasileira. O número, apesar de histórico, ainda é muito pouco. “A nossa jornada ainda é um pouco mais longa”, considera.

Confira a entrevista completa com Magali Leite:

Pode contar sobre o início da sua trajetória no mundo dos negócios?

Eu nasci em Brasília, mas passei uma parte da minha vida no Rio de Janeiro. Uma origem simples, uma família de classe média baixa. E desde que eu me entendo por gente, a minha mãe sempre me colocou a ideia de ser independente. Talvez porque ela não fosse. Então, ela me direcionou a fazer curso técnico, já para eu ter alguma profissão, e como a gente não tinha muito recurso, a família entendia que eu tinha um potencial, mas não sabia como desenvolver isso, como explorar. Eu estudei em escola pública a vida toda, mas eles pagaram o curso de inglês para mim. Isso é uma coisa que eu faço questão de manter atualizada até hoje como reconhecimento do esforço que a família toda fez para eu poder estudar inglês. Meus irmãos, por exemplo, não estudaram.

A gente não tinha referência, não tinha modelo a seguir. Tudo foi meio por descoberta individual. E quando eu tinha 16 anos, eu passei num programa de estágio para Casa da Moeda de nível médio. E ali eu fui tomando pé do que era uma possibilidade de carreira no curso dos negócios. Eu fui para lá, e eu já ganhava muito bem, eu já era uma pessoa de sucesso na família com 16 anos.

Depois, eu fui para a faculdade de Economia. Fiz dois anos, mas não me identifiquei muito, e fui fazer Letras, por gostar de literatura. Mas no meio da faculdade de Letras, eu já trabalhava na mesa de operações da Globopar, holding do grupo Globo, e cuidava de todos os negócios do grupo. Já estava na área financeira, estudando Letras. Quando eu terminei, o meu chefe na época me falou para eu fazer uma especialização na área de Economia. Fiz uma pós em Análise de Conjuntura Econômica e depois um MBA.

Mas na pandemia, como eu estou atuando muito como conselheira e em muitos conselhos você precisa de um background de finanças, pensei “vou pegar os créditos todos que eu tenho de Economia e de Letras e vou fazer uma faculdade de Contabilidade”. Então, neste ano eu me formo em Contabilidade na FIPECAFI, aos 53 anos.

Como veio a proposta para a Espaçolaser?

Eu tenho uma trajetória muito longa, de mais de 30 anos de carreira. E eu sempre fiz escolhas profissionais onde eu entrava nas empresas num momento de mais intensidade do negócio. Eu vim para cá em junho de 23 como CFO e diretora de relações com investidores. Minha atuação principal no começo foi resolver as questões de estrutura de capital do negócio, revisar oportunidades de eficiência operacional possíveis para colocar a companhia num outro patamar de resultado e também ajudar na atualização da tese da companhia junto aos investidores que já existem e junto a novos potenciais investidores.

Por quê? Porque a companhia abriu capital em 2021, uma companhia de varejo. Ela executou a tese que ela prometeu para o mercado, mas não executou na visão do mercado com todas as nuances que se esperavam. A ação ficou muito descontada, porque, além disso, vários investimentos foram feitos no momento em que a Selic estava a 2% e depois a gente conviveu muito tempo com uma Selic perto de 14%. A Espaçolaser é uma companhia que tem uma alavancagem, não é uma alavancagem que quebra a companhia, mas é uma alavancagem importante. Então, o custo de capital do negócio ficou muito alto e a companhia tomou uma decisão, na minha opinião, muito acertada de, na pandemia, honrar todos os seus compromissos e não desligar nenhum dos seus 6, 7 mil colaboradores. Isso tem um preço. Saímos bastante sofridos desse momento.

E é aí que eu chego, em 2023, para ajudar a endereçar todas essas questões, voltar a falar com os investidores no sentido de que é um bom momento para reestruturar a dívida da companhia, que foi um processo que levou quase nove meses. Nós temos um sindicato de credores. Quando eu cheguei, eram sete instituições financeiras, muito importante na cena do mercado financeiro brasileiro. E traçamos um plano de como fazer isso e esse plano necessariamente ia demandar trazer novos credores para a gente não diminuir a posição de caixa da companhia. Então, se precisasse fazer algum movimento de mudança entre esses credores, a gente teria dois novos que entrariam com dinheiro novo para não precisar a companhia diminuir a posição de caixa dela. Isso é um trabalho bastante sofisticado, é um trabalho complexo e é um trabalho que requer muito da reputação não só da companhia, mas principalmente do profissional que está liderando esse processo. Os bancos esperam que quem vai falar lá com eles e quem vai liderar esse tipo de estrutura seja conhecido, tenha uma reputação que corrobore todos os planos com os quais a gente se compromete. 

E o conselho e o CEO da época entenderam que o meu perfil era muito aderente a todos esses desafios.

E a mudança para CEO?

A minha experiência é muito ampla, não só de áreas que eu já liderei, mas de setores onde eu atuei. Isso faz com que eles tenham enxergado em mim uma pessoa com um perfil bastante aderente a um novo momento da companhia. Eu entro em junho de 23 para endereçar esses desafios, mas, sobretudo, eles enxergaram ali que eu tinha potencial para uma eventual evolução dentro da estrutura do negócio. E aí, talvez tenha sido por isso que a escolha na saída do CEO anterior tenha sido tão natural. Eu já vim bastante preparada para isso.

Mas nem tudo é só você estar preparada. A maioria das mulheres não tem essa ousadia, digamos, de mostrar que está pronta para a cadeira. E, principalmente, a gente não sabe muito bem como fazer isso. Outro dia eu estava até falando com uma outra pessoa, e a pessoa perguntou assim: ‘Mas como você fez isso uma vez que a pessoa ainda estava aqui, ainda estava ocupando a cadeira?’. Eu falei: ‘Olha, tem que ser profissional, tem que ser assertivo, tem que ser elegante. Não podemos correr o risco de estar fazendo isso de uma maneira onde você vá ultrapassar algumas barreiras ali da boa convivência profissional, mas a gente sim tem como deixar claro que quer e que está pronto.’

Isso é uma arte. E é uma arte que a gente não constrói de uma hora para outra na carreira. Exige bastante autoconhecimento, exige bastante de fazer uma leitura muito apurada do entorno do ambiente onde essa estrutura funciona. Eu tenho pares, e todos eles já estavam aqui quando eu cheguei. Então, a gente tem que respeitar que, uma vez que você vai fazer esse movimento, o papel dos pares passa a ser diferente. Eu tinha chegado em junho, já estava construindo uma relação de confiança com eles. Eu tive o privilégio de estar trabalhando com pessoas que são muito maduras e que têm um interesse genuíno pelo que é melhor para a companhia. E foi muito importante esse apoio deles, porque eles enxergaram em mim, com tão pouco tempo que eu tinha de companhia, a pessoa que estava preparada para esse desafio, para esse momento do negócio, onde eles já conheciam mais do que os desafios que eu ia encarar aqui nessa cadeira. 

Sobre o preço das ações da Espaçolaser na B3, tem alguma coisa que vocês se arrependam dessa entrada na bolsa? Consideram que foi precipitada? 

É difícil julgar as decisões que foram tomadas num momento muito diferente da companhia. Eu gosto muito da tese do negócio em si e do potencial que o nosso negócio tem. Nós sabemos que o nosso produto ainda é muito subpenetrado. Estamos falando de algumas categorias de clientes que a gente está explorando bastante e desenvolvendo, que são os clientes de uma faixa etária mais baixa, são as pessoas mais jovens, a gente está falando do público masculino. E eu acho que essa cabeça existia ali na época do IPO, sim. 

Mas IPO para ninguém que abriu capital em 2021 foi fácil. Se a gente olhar, acho que 80%, 90% das companhias que abriram capital em 2021, as ações estão muito descontadas e a gente está falando de teses e de momentos de negócio muito diferentes do nosso. Então, não é um fenômeno que atingiu só a Espaçolaser. 

Nós temos um trabalho muito intenso de conversa, de atualização dos nossos fundamentos junto a investidores, e o primeiro trimestre de 2024 representou uma sequência de seis trimestres onde a gente está apresentando resultados extremamente importantes para o mercado. Então, a gente entende, sim, que é uma questão de tempo. A ação estava, de certa forma, num processo ali onde não estava entre um trabalho de decisão dos principais investidores, onde ela não estava tendo a visibilidade que a gente gostaria, mas a gente já entende que a nossa agenda está tomando um corpo, está tomando um nível de intensidade que não tínhamos que eu cheguei aqui. 

O que fez a Espaçolaser atingir um público tão grande, em uma área tão nichada, como você mencionou?

A gente tem uma série de atributos que nos qualificam e nos sustentam numa posição diferenciada do mercado. Não é à toa que a Espaçolaser é a maior player do mundo de depilação a laser. Nós temos quase 870 lojas e nós atuamos em cinco países. A tecnologia da Espaçolaser é muito diferenciada. O que tem de longe o maior valor que a gente entrega para o nosso cliente é o nível da jornada que a gente desenvolveu ao longo desses 20 anos de companhia. 

Todo mundo que vem experimentar o nosso laser fica ao longo de alguns anos fazendo várias partes do corpo. Primeiro porque sabe que realmente a gente entrega uma solução que faz uma diferença muito grande na pele do cliente. A gente não está só cauterizando um pelo. A gente está tratando a pele desse cliente. A qualidade do toque da pele dele, o livramento que a gente faz de todos os problemas dermatológicos, como, por exemplo, o dermatite na pele desse cliente, ela fica no longo prazo.

É por isso que a nossa última campanha chama ‘Eu Faço Espaçolaser’. A gente não está falando de qualquer laser, a gente não está falando de qualquer produto, a gente está falando de uma qualidade realmente muito diferenciada. É muito difícil alguém ter condição de entrar nesse mercado e investir e chegar no ponto em que a gente está, porque isso você não constrói no curto prazo e nem se constrói com pouco investimento. Essa é uma história aqui de um investimento de longo prazo onde valores substanciais foram, sim, investidos, porque a gente acredita muito no futuro desse negócio.

E sobre ser uma mulher executiva, qual o maior desafio que você viveu?

O desafio maior é a gente construir uma trajetória sem ter muita referência de outras mulheres nessas posições. Pela primeira vez na Bolsa Brasileira a gente tem cinco mulheres CEO de empresas. A gente tem quase 400 empresas listadas na Bolsa Brasileira. É muito pouca, a nossa representatividade ainda é muito baixa. E é uma preocupação minha, uma preocupação dessas outras mulheres que estão nessas posições, falo constantemente com várias delas, frequento muitos fóruns, porque eu entendo que o nosso papel também é vocal, ele também é de ajudar a inspirar outras mulheres, porque a gente não teve muita referência nesse sentido.

Eu tenho uma filha que vai fazer 15 anos e eu ainda vejo ali nos núcleos onde ela frequenta as meninas ainda num processo de competição entre elas. Não está ainda no ponto que a gente gostaria de uma sororidade verdadeira entre as mulheres, porque a gente ainda não está investindo em criar nossas filhas como a gente gostaria que o mercado fosse no futuro. Então, eu acredito que por isso a nossa jornada ainda é um pouco mais longa, mas a gente tem que brigar por processos onde a gente consiga acelerar a inclusão da mulher. 

Eu ainda sou a única mulher em muitos fóruns que eu frequento, mas eu ao longo da minha carreira inteira eu vivi momentos onde você precisava ou ser muito dura no combate às coisas que eu ouvia e que eram muito difíceis de engolir ali, porque está num ambiente extremamente masculino, ou a gente também tem a opção de se anular e de ficar quieta e de responder com competência. Eu oscilei muitas vezes ao longo da minha vida, muitas vezes eu rebati coisas de uma maneira às vezes até agressiva, mas a gente sabe que talvez não seja a melhor forma de fazer esse processo.

Mas hoje eu me apoio em muitas pessoas que têm também essa bandeira, que estão trabalhando para colocar a mulher no lugar devido, não só a mulher, mas todas as minorias subrepresentadas, principalmente as mulheres negras, a gente sabe da dificuldade que é muito maior para elas, elas representam boa parte da liderança familiar hoje. É por isso que eu tenho um orgulho enorme em trabalhar no Espaçolaser, que é composta por 96% de mulheres nas suas lojas, o nosso C-level [cargos da chefia] é representado por 80% de mulheres. Ainda é um processo onde a gente sabe que está muito sozinho, porque não tem outra empresa com as nossas características no mercado, mas a gente tem muito orgulho disso. Acho que é uma luta de todo mundo.

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Fonte: Redação Terra
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