'CEP Digital': conheça o projeto que colocou mais de 20 mil casas no radar de entregadores
Parceria entre Google, NaPorta e Gerando Falcões dá visibilidade a lares nas favelas de São Paulo
Não ter um Código de Endereçamento Postal, o CEP, torna complexa uma tarefa que deveria ser fácil. Seja para pedir um delivery, solicitar um carro por aplicativo, receber uma encomenda ou até mesmo enviar a localização exata de onde você mora. Para 20 mil endereços em favelas de São Paulo, essa realidade mudou com o projeto 'CEP Digital', que identifica o ponto exato de lares por meio de georreferenciamento.
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A iniciativa acontece em parceria entre o Google, a ONG Gerando Falcões e a NaPorta, que, como o nome sugere, é especializada em fazer entregas em favelas, áreas rurais, comunidades ribeirinhas e outras regiões com restrições, que muitas vezes deixam de ser atendidas por empresas do ramo. A ideia, conta Sanderson Pajeú, surgiu por acaso.
Em entrevista ao Terra, o fundador da NaPorta conta que, durante as operações de entrega de sua empresa em favelas de São Paulo, era comum que entregadores demorassem quatro vezes mais para deixar uma encomenda em uma casa sem endereçamento formal – ou seja, que tonh apenas um CEP geral, muitas vezes referentes a uma rua próxima da entrada da comunidade ou correspondentes a toda região.
Por mais que fosse preciso procurar pela "casa da dona Maria, depois do bar do João, próximo da árvore na frente do muro verde", o cliente recebia sua entrega pela NaPorta. Mas não ter a casa reconhecida no mapa impacta em outras frentes da vida, no cotidiano.
Nisso, a NaPorta começou a ter o Google como investidor e descobriu que a empresa tinha uma tecnologia que auxiliava nesse processo de padronização de um código postal. Eles, então resolveram dar escala aos testes e, assim, o 'CEP Digital' foi para as ruas.
Como funciona a tecnologia
A tecnologia é totalmente gratuita aos moradores. O 'cliente', como conta Sanderson, são prefeituras e órgãos públicos. Nessa toada, Santo André foi a primeira prefeitura a validar oficialmente o endereço digital como um endereço válido em todos os serviços públicos.
"Então, o morador ali não precisa mais do endereço só para comprar online. Ele pode usar o endereço para cadastrar o filho na creche, para pedir uma remédio, para cadastrar no posto, para se cadastrar no PAT e se candidatar a vagas de emprego, para coleta de lixo, todos os serviços municipais, públicos, eles conseguem utilizar", comenta.
Para Sanderson, depois do CPF, o CEP acaba sendo o conjunto de números mais importante de uma pessoa. Representa seu lugar como cidadã no mundo, seu direito à moradia.
E as descobertas em torno da importância do endereço digital seguem surgindo. No início do ano, por exemplo, o projeto estava estudando áreas de favelas no Rio Grande do Sul, e muitas delas em cidades que ficaram debaixo d'água nas enchentes que atingiram o estado em maio.
"Se a gente tivesse feito o mapeamento antes da catástrofe, os socorristas conseguiam saber exatamente onde as casas estavam, mesmo por cima da água. Conseguir mapear tem um valor muito grande", acrescenta.
Placa a placa
Quando uma região é mapeada, todas as casas recebem uma placa, similar àquelas que endereçam ruas. É o dia mais solene, comenta Sanderson. Só que o que vem escrito é o código do CEP Digital daquela residência.
Além disso, é feito todo um trabalho junto à comunidade para sensibilizar os moradores sobre a importância da iniciativa e explicar de que forma ter esse dado pode ser benéfico para eles no cotidiano. Cada placa também possui um QR Code, que direciona a pessoa a uma página com mais explicações sobre o projeto.