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Cielo deixa a Bolsa após 15 anos com menos de 20% do mercado e amplia desafio de controladores

Com a compra de 736,9 milhões de ações, Bradesco e Banco do Brasil realizaram na B3 a deslistagem da companhia; operação movimentou R$ 4,3 bilhões

15 ago 2024 - 08h46
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A Cielo se despedirá da Bolsa após 15 anos com uma nova perda de participação de mercado, ampliando o desafio que os bancos controladores da companhia, Bradesco e Banco do Brasil, enfrentarão após o fechamento de capital ser concluído. As instituições consideram que, fora da B3, a Cielo terá uma flexibilidade maior em mudar sua estratégia, o que deve não só reverter a perda de terreno como ajudar os dois bancos a avançar junto às pequenas e médias empresas (PMEs).

Na quarta-feira, 14, os dois bancos realizaram na B3 o leilão da oferta pública de aquisição (OPA) para a deslistagem da companhia. Com a compra de 736,9 milhões de ações, movimentaram R$ 4,3 bilhões, e obtiveram quórum acima do necessário para pedir à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a conversão do registro que permitirá o fechamento do capital da empresa.

A operação foi desenhada para que a Cielo possa reagir a um mercado em que o preço deixou de ser a maior arma competitiva, dando lugar à oferta integrada que coloca a conta bancária dos comerciantes dentro das maquininhas.

Este foi o caminho de Stone e PagBank, que desenharam suas ofertas bancárias após crescerem em maquininhas, e seguido pela Rede, do Itaú Unibanco, que deixou a Bolsa em 2012. No ano passado, a Rede tomou a liderança de mercado da Cielo, após concluir a integração à área de pequenas e médias empresas de seu controlador.

Bancos consideram que, fora da B3, Cielo terá uma flexibilidade maior em mudar sua estratégia
Bancos consideram que, fora da B3, Cielo terá uma flexibilidade maior em mudar sua estratégia
Foto: Gabriela Biló/Estadão / Estadão

No segundo trimestre deste ano, a participação de mercado da Cielo caiu para 19,9%, contra 22,3% no mesmo período do ano passado. A rival Rede ficou com 22,8%, mantendo a liderança que conquistou exatamente um ano antes, mesmo tendo perdido parte de seu espaço para rivais como Getnet e Stone. O PagBank ainda não divulgou os números do segundo trimestre.

"Não é segredo que a Cielo tem sofrido para proteger sua fatia de mercado no segmento de pequenas e médias empresas, que é o mais rentável", afirmou o analista Eduardo Rosman, do BTG Pactual, em relatório enviado a clientes na quarta-feira passada, 7. "Apesar de ter expandido sua força de trabalho, o desempenho da companhia tem sido abaixo do esperado."

Maior, mas menos representativa

Quando desembarcou na Bolsa, em 2009, a Cielo dividia o mercado com a Rede, sendo que ambas tinham outros nomes: eram Visanet e Redecard, respectivamente. À época, imperava o processamento fechado, o que significava que a Visanet só processava cartões com a bandeira Visa, e a Redecard, os da Mastercard.

O duopólio foi quebrado pelo Banco Central, e a partir de 2010 as maquininhas passaram a aceitar múltiplas bandeiras. Ao longo da década seguinte, rivais como a então PagSeguro, hoje PagBank, entraram no negócio, empresas como a Getnet cresceram, e novatas como a Stone surgiram. Gradualmente, a fatia de mercado das antigas líderes caiu.

Para defender seu espaço, as duas deflagraram a chamada "guerra das maquininhas", reduzindo os preços cobrados dos comerciantes. A Cielo foi uma das líderes do processo, mas também foi uma das primeiras a levantar a "bandeira branca" após a pandemia da covid-19, em 2021, quando a alta dos juros tornou a estratégia inviável.

A herança da guerra foi a queda das margens das companhias. Em 2009, a Cielo teve margem Ebitda de 67,6%, número que encolheu para 29,3% no segundo trimestre deste ano.

Ao longo de 2022, a empresa recuperou mercado, o que fez suas cotações na Bolsa subirem. No entanto, perdeu fôlego com a aceleração das ofertas integradas entre maquininha e banco das concorrentes. O marco dessa mudança foi a tomada da liderança de mercado pela Rede. Na visão de analistas, listada, a Cielo não conseguiria se integrar aos dois bancos adequadamente.

Solução

O "alinhamento de astros" aconteceu no começo deste ano, após a troca na presidência do Bradesco, que levou Marcelo Noronha ao comando do banco. Especialista no mercado de cartões e conhecedor da Cielo, Noronha chegou a um denominador comum com a gestão de Tarciana Medeiros, do BB, ela própria egressa do varejo bancário, para tirar a empresa da B3 e manter a sociedade.

O varejo, que atende às pequenas e médias empresas, é chave para o futuro da Cielo. A empresa reforçou no último ano a equipe comercial, que trabalha nas redes dos dois bancos de olho nesse estrato de clientes, que é mais rentável. Para os dois bancos, a maquininha da Cielo é uma ferramenta poderosa para garantir a gestão do caixa e o crédito das pequenas empresas, atividade também rentável.

"Nós esperamos entrar em dinâmica melhor para Cielo e para os dois bancos", disse Noronha na semana passada. No Bradesco, a retomada do crédito para as PMEs tem acontecido gradualmente, e a Cielo é vista como uma ferramenta importante.

"Com o leilão da Cielo, nós teremos uma oferta de maior valor para as micro, pequenas e médias empresas", afirmou o vice-presidente de Gestão Financeira e de Relações com Investidores do BB, Geovanne Tobias.

Oferta pública de aquisição

O leilão da oferta pública de aquisição da Cielo encerrou com a aquisição de 736.857.044 de ações ordinárias de emissão da companhia, que representam 27,1% do seu capital social, segundo a empresa. As ações foram adquiridas pelo preço unitário de R$ 5,82, totalizando R$ 4.288.507.996,08.

A liquidação do leilão ocorrerá na sexta-feira, 16. Considerando a aquisição realizada no leilão, as ofertantes passarão a deter, em conjunto, 93,4% do seu capital social da Cielo.

As ações da Cielo deixam de ser negociadas no Novo Mercado a partir desta quinta-feira, 15, sendo negociadas no segmento "Básico", segundo a B3.

A Cielo afirma que os acionistas que não alienaram as suas ações durante o leilão e desejarem vendê-las às ofertantes poderão fazer isso por meio de negociações na B3, até a data da efetiva conversão de registro da companhia ou durante o período de três meses seguintes ao leilão — ou seja, até 14 de novembro de 2024./Com Amélia Alves

Estadão
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