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CNI: 'Indústria não pode ser sacrificada pelo ajuste fiscal'

27 mai 2015 - 06h26
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João Fellet - @joaofellet

Robson Andrade | Foto: ABr
Robson Andrade | Foto: ABr
Foto: BBC Mundo / Copyright

Enviado especial da BBC Brasil à Cidade do México

A indústria brasileira está "pronta para contribuir" com os esforços de ajuste fiscal do governo, mas não concorda com alguns rumos que essa política tem seguido, disse à BBC Brasil o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade.

Em entrevista na segunda-feira na Cidade do México, onde integra a delegação que acompanha a visita de Estado da presidente Dilma Rousseff ao país, Andrade afirmou que o Brasil precisa do ajuste fiscal promovido pelo governo para voltar a crescer, mas criticou a revisão de políticas que favorecem a indústria.

"Nós da indústria estamos prontos a contribuir, mas não (concordamos) com tirar as condições que a indústria colocou como sendo necessárias para sermos competitivos no exterior", afirmou Andrade.

Na terça-feira, Andrade foi abordado por jornalistas nos corredores do Palácio Nacional mexicano durante o encontro de Dilma com o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto. Os repórteres repercutiram a notícia de que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, estaria insatisfeito com os cortes de gastos neste ano e desejava uma economia maior.

"Ele quer o nosso pescoço agora? Já teve um corte de R$ 70 bilhões e ainda quer mais?", indagou Andrade.

'Sacrifício'

À BBC Brasil, o presidente da CNI disse que a indústria está disposta a contribuir com a economia dos gastos, mas não quer ser prejudicada além do necessário.

"O ajuste faz parte das condições necessárias para crescermos no futuro com sustentabilidade. Temos de fazer um sacrifício. É um dever de todos os setores, não só da indústria, mas dos serviços, da agricultura", disse.

"Nós da indústria estamos prontos a contribuir, mas não (concordamos) com tirar as condições que a indústria colocou como sendo necessárias para sermos competitivos no exterior."

Em particular, ele criticou duas propostas do governo capitaneadas por Levy que integram o ajuste fiscal. Uma delas - em tramitação no Congresso - é reduzir a desoneração da folha de pagamentos, política que nos últimos anos diminuiu a cobrança de contribuições previdenciárias de empresas brasileiras para evitar demissões.

"Essas desonerações sempre foram negociadas com o governo, e a função delas não é levar subsídios às indústrias, mas reduzir o custo do trabalho no Brasil, que é muito elevado não pelos salários, mas por encargos trabalhistas", disse o empresário.

Em fevereiro, o ministro da Fazenda classificou as desonerações de uma "brincadeira" que custa R$ 25 bilhões aos cofres brasileiros por ano e afirmou que ela não alcançou os efeitos desejados.

A outra proposta criticada pelo presidente da CNI é a redução do papel do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Levy tem defendido diminuir os empréstimos subsidiados do banco, que inflam os gastos do governo.

"Você acaba com o BNDES e quem o vai substituir? Que mecanismos vamos ter para não só a indústria, mas a infraestrutura, os projetos brasileiros serem levados à frente?", questiona Andrade.

"O BNDES é o único banco de financiamento de longo prazo de investimentos no Brasil. Ele financia investimentos em infraestrutura com 20, 30 anos de prazo, e a indústria nacional com 6, 8 anos. Isso não existe nos bancos comerciais."

'Principais mercados'

Andrade integra a comitiva de empresários que acompanha a presidente Dilma Rousseff em sua visita de Estado ao México. Ele elogia a iniciativa e diz que, depois de abrir mercados importantes em todo o mundo, é hora de o governo brasileiro voltar a focar nos seus principais parceiros.

"O Brasil tem hoje poucos acordos comerciais, e isso é um dificultante para as exportações brasileiras e investimentos de empresas do Brasil no exterior. Acho que agora o governo está sentindo a necessidade de ampliar esses acordos", afirmou.

"Claro que há acordos com países da África que são importantes, mas nós empresários queremos os principais mercados. O dos Estados Unidos, do Japão, da União Europeia, do México."

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