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Com furo do teto de gastos, crescimento do PIB em 2022 pode cair a zero, calcula Rio Bravo

20 out 2021 - 15h15
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O crescimento econômico no ano que vem pode ficar entre zero e 0,5% caso se materialize o rompimento do teto de gastos, disse o economista da gestora Rio Bravo João Leal, apontando um cenário em que a atividade seria pressionada por uma taxa de juros acima de 10%.

Pessoas caminham em rua de comércio popular no Rio de Janeiro
23/12/2020
REUTERS/Pilar Olivares
Pessoas caminham em rua de comércio popular no Rio de Janeiro 23/12/2020 REUTERS/Pilar Olivares
Foto: Reuters

"Se houver uma piora fiscal considerável, com rompimento do teto de gastos, o juro é de dois dígitos, como foi na crise de 2014/2015/2016. (...) Confirmando-se esse cenário, a gente estará falando de crescimento bem abaixo de 1,5%, que a é nossa previsão; estaríamos falando de algo entre zero e 0,5%", disse o economista.

O mercado cortou as previsões para o aumento do PIB em 2022 a 1,50%, conforme a mais recente edição da pesquisa Focus do Banco Central. Foi a segunda redução consecutiva.

Por ora, a Rio Bravo espera que a taxa Selic feche 2022 em 8,75% ao ano, mas o viés é para cima, devido à deterioração do quadro fiscal. Ao fim de 2021, o juro fica em 8,25%, ante os atuais 6,25%.

"Pelos últimos eventos, percebemos que o governo já não está mais assim tão comprometido com a agenda de reformas. (...) Isso demonstra claramente que está mais preocupado com 2022 e com a tentativa de agradar ao Congresso com emendas parlamentares."

Os mercados experimentaram forte estresse na terça-feira, repercutindo a possibilidade de parte do novo Bolsa Família ser financiada com recursos fora do teto de gastos. O Ibovespa desabou mais de 3%, o dólar superou 5,61 reais, e os juros futuros dispararam mais de 50 pontos-base.

E nesta quarta a má reação de preço prosseguia nas rendas fixa e variável, com as taxas de DI em alta de até 10 pontos-base e o principal índice da bolsa em baixa de 0,1%. O dólar caía 0,7%, sob pressão de intervenções do Banco Central no mercado de câmbio.

"O mercado vai continuar penalizando esse tipo de coisa que vier do governo, a tentativa de quebrar as regras (fiscais) atuais. Isso impacta os fluxos de capitais ao Brasil", afirmou Leal.

O economista da Rio Bravo chamou atenção para os efeitos mais duradouros de toda a insegurança em relação às aventuras do governo nas contas públicas.

"São investimentos sendo paralisados, aberturas de capital sendo paralisadas, mercado muito ruim tanto nas ações quanto nos juros, encarecimento do crédito, curva longa (de juros) estressando, inflação mais alta...", elencou.

A estimativa da Rio Bravo é que a inflação medida pelo IPCA salte 8,7% em 2021 e fique em 4,3% em 2022 --ambas as taxas acima do centro da meta para os respectivos anos (3,75% e 3,50%).

"O governo quer abrir 30 bilhões (de reais) em espaço fora do teto. É muito maior do que esses 30 bilhões, a gente sabe que não vai parar aí", desabafou o economista.

A Rio Bravo elevou o prognóstico para o dólar a 5,40 reais ao fim deste ano (de 5,20 reais antes). Para 2022, a projeção passou a 5,30 reais, de 5,00 reais.

"O dólar no fim do ano vai depender muito da proposta do novo auxílio. Apesar de todas as ameaças, ainda vemos que o governo e o Ministério da Economia vão tentar priorizar as regras fiscais", afirmou Leal.

O presidente Jair Bolsonaro confirmou nesta quarta-feira o valor de 400 reais para o Auxílio Brasil, programa que vai substituir o Bolsa Família, e garantiu --sem dar detalhes-- que vai respeitar o teto de gastos públicos, um dia após impasse sobre a origem dos recursos e forte reação do mercado financeiro em relação a essa mudança.

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