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Com nome 'Netão' e sobrenome 'Bom Beef', ele faturou R$ 300 milhões e se tornou referência em carnes especiais

Ao Terra, Netão fala sobre o início de sua trajetória, sua relação com a carne, como gere os empreendimentos e como lida com o sucesso

12 mar 2024 - 05h00
(atualizado às 08h26)
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Foto: Arquivo pessoal

Nada de ser jogador de futebol, surfista ou alguma outra profissão clichê que se pode esperar ocupar o sonho do 'o que quero ser quando crescer' de um menino de 9 anos nascido e criado em Santos, no litoral paulista. Desde pequeno, ele colocou na cabeça que seria dono do açougue de seu tio. E agora, passadas algumas décadas, ele não só comprou, como transformou o empreendimento em um negócio que chegou a faturar R$ 300 milhões só no ano passado. 

Essa é a história de Domingos Neto, de 38 anos. Ou melhor, do 'Netão Bom Beef', como acabou ficando conhecido. Como proprietário do açougue há 10 anos, ele construiu uma rede de hamburguerias e açougues, além de um restaurante, o Parrilla Bom Beef, inaugurado na sua terra natal em agosto passado. Além disso, com a marca que leva o seu rosto, também vende itens que incrementam o churrasco, desde sais e molhos a churrasqueiras e defumadores.

A paixão pela 'cadeia da carne', como cita, é tanta que mesmo com o sucesso de seus negócios ele não deixa de estar próximo à grelha. Esbanjando carisma e entusiasmo, Netão se faz presente nas unidades do Bom Beef de Santos, em seu canal no YouTube e nas redes sociais, onde reúne mais de 1,3 milhão de seguidores no Instagram, por exemplo.

Em entrevista ao Terra, Netão contou detalhes sobre sua trajetória, sua relação com a carne, como gere seus empreendimentos e como lida com o sucesso. Confira:

Sonho e afeto

Eu passei a ter como vontade, meta e objetivo de vida comprar o açougue do meu tio aos 9 anos de idade. 

Toda a minha família tem comércio... Meus pais eram peixeiros e o meu tio tinha o açougue. No domingo, ficávamos todos no açougue do meu tio pela manhã. De tarde, era churrasco na casa do meu pai. Era um momento de eu estar perto da minha família. Meu pai também chegou a ter um açougue por seis meses do lado de onde eu estudava e eu saía da escola e ficava lá. Era um ambiente que me fazia sentir muito próximo deles. Tenho boas memórias, vivi bons momentos. 

Meu tio não tinha filhos, viajava para ir a fazendas, frigoríficos e me levava a tiracolo. Então eu digo que todo o contexto da minha vida, no auge dos meus 9 anos, me fez amar a cadeia da carne, desde a parte de produção de gado, a parte do açougue e a parte do churrasco.

É uma paixão que vem de criança. É um amor de verdade, o meu grande primeiro amor. 

Eu saí do ensino médio e entrei na faculdade de Direito com 16 anos. Muito jovem, era o aluno mais novo da faculdade. Depois, com 17 anos, comecei a trabalhar como entregador no açougue do meu tio, cortava as carnes e fazia entregas de bicicleta pelo bairro. Eu fui crescendo lá dentro, virei gerente. Era uma rede pequena com três unidades e eu ajudava a administrar um pouquinho.

Acabou que eu não concluí a faculdade de Direito e com 24 anos fui trabalhar em um navio de cruzeiros para tentar juntar dinheiro para comprar o açougue do meu tio. Todos os meus contratos foram fora do Brasil, então eu consegui juntar bastante dinheiro e aprendi muito. Lá, eu conheci carnes de qualidade, carnes especiais que na época não existiam no Brasil. Isso foi um diferencial pra mim quando voltei para o país. 

Foto: Arquivo pessoal

'Caminhos de Deus'

Eu acredito muito nos caminhos de Deus, e quando eu voltei para o Brasil com dinheiro para comprar o açougue, ele não estava mais disponível para venda. Segui de olho, mas fui trabalhar em outro ramo, com móveis, que foi minha grande escola de administração de empresas.

Rapidamente, com 15 dias contratado pela empresa, fui promovido a gerente e assumi uma loja. Meu antigo patrão era muito sábio, muito inteligente, então me ensinou muito. Ele falava pra eu tocar a loja como se fosse minha. 

Até que o proprietário do açougue do meu tio resolveu me vender o local: 'Tá difícil esse açougue ir para frente, você quer tentar?'. E eu respondi que tentava, mas que tinha que comprar em 70 prestações sem entrada. 'Se você quiser vender, eu assumo'. E comprei, muito mais pronto como empreendedor. 

Quando eu tinha 18 anos, eu cheguei a montar uma hamburgueria artesanal. Talvez eu fui até um pouco visionário demais para a época. E ela quebrou em 45 dias. É uma história engraçada. Mas depois, aos 35 anos, eu montei uma hamburgueria [Bom Beef Burguers] que se pagou em 45 dias, começou a dar lucro.

Expansão

Foto: Arquivo pessoal

Eu sou um grande sonhador. Eu anoto todos meus sonhos em um caderninho e vou correndo atrás de fazer eles acontecerem. Um sonho era ter uma marca de carne. Outro sonho era ter uma hamburgueria. Não... uma rede de hamburguerias! Já começou com rede. O outro sonho era ter a Parrilla anexo ao açougue e assim por diante. Dar orgulho do meu pai para minha mãe, ser pai, casar e etc.

No projeto da rede de hamburguerias, eu estava esperando o momento certo para começar, só que veio a pandemia. Eu contratei alguns funcionários de cozinha para me ajudar a fazer alguns kits, algumas coisas diferentes para a gente manter os negócios operando. Então, aproveitei para adiantar a hamburgueria, mas por delivery.

Eu teria que mandar embora quatro funcionários. Em quatro dias de hamburgueria funcionando por delivery eu já tinha 22 pessoas trabalhando com a gente. Foi muito forte. Fomos o número um nos aplicativos de delivery no segmento, nacionalmente.

E logo já comecei a testar a minha marca em outras praças. Subi para São Paulo e fui nas regiões onde tem as melhores hamburguerias. Se lá é o lugar mais difícil, então é pra lá que eu vou. Porque eu sabia que se eu me criasse lá, eu me criava em qualquer lugar. E lá a gente foi o número um no aplicativo de delivery de todos os segmentos no Brasil.

Fui seguindo até que montei a primeira unidade física em Santos e começamos a franquear. Nesse caminho de expansão, também acabamos franqueando o açougue.

O que ainda faltava era o sonho de ter a parrilla do lado do meu açougue. Então, como já tinha comprado o prédio que usamos, continuamos reformando e, ano passado, a gente concluiu a reforma com a Parrilla anexa ao lado. Agora, as pessoas conseguem ter a experiência completa que eu sempre me propus a ter: ela ter a melhor experiência aqui e eu também conseguir vender a carne de qualidade para ela fazer o churrasco na casa dela.

Me sinto em casa. Era o meu sonho pessoal. Eu venho trabalhar aqui todos os dias porque eu amo, sabe? Claro que é pelo dinheiro também. É óbvio que o dinheiro me ajuda, mas se você me der um dinheiro para eu não vir mais trabalhar, eu não quero. Eu quero continuar. 

'Netão'?

O 'Netão' foi uma sorte que eu dei por não ter um sobrenome forte. Meu nome é Domingos do Santos Neto. Eu falei uma vez com um amigo meu, falei: 'Pô, meu sonho é ter uma marca de carnes'. Ele falou assim: 'Ah, marca de carnes é só colocar seu sobrenome e a gente começa a trabalhar. Qual sobrenome você tem?' Eu falei 'Domingos do Santos Neto'. Ele falou: 'Você não tem sobrenome. Você não vai ter marca de carnes'.

Mas, graças a Deus, em pouco tempo as pessoas começaram a me chamar de Netão. E aí o Netão virou uma marca… e o meu sobrenome virou Bom Bife. O contrário. 

Em 2023, todo o ecossistema 'Netão' faturou perto de R$ 300 milhões. Já o grupo Bom Beef faturou R$ 120 milhões ano passado: o açougue faturou R$ 70 milhões, a hamburgueria R$ 44 milhões e a Parrilla aproximadamente R$ 6 milhões. 

Além do nome, um protocolo

Foto: Arquivo pessoal

Hoje, a gente consome cerca de mil animais por mês. Mas temos um protocolo que exige que os animais [que vão ser selecionados para, depois, suas carnes serem utilizadas] se adequem aos padrões pré-estabelecidos por mim e pela minha equipe.

Tem o padrão racial, padrão de peso, padrão de acabamento de gordura, padrão de idade e por aí vai. Primeiro, seguimos os protocolos. Depois, fazemos a seleção de animais. Porque nem todos os animais dentro desse protocolo vão dar o mesmo resultado.

Pode ser que um boi, no meio desse caminho, comeu menos, e outro bebeu menos água. Esses dois animais estão dentro do protocolo, mas eles não são perfeitos. Então, eles não servem para ser carnes Netão.

Depois partimos para o frigorífico, que também tem protocolo e seleção de desossos. Nessa etapa, a gente já vai desossar esses animais de acordo com o protocolo feito por mim, que é minha grande expertise. 

Mas mesmo com os açougueiros desossando a carne do meu jeito, pode ser que uma faca entre em algum lugar errado ou algo do tipo. Esse pedaço de carne é selecionado para não estar dentro. Ela sai e vai para uma outra linha do frigorífico. Não é desperdiçado, não é jogado fora. Mas não serve para ser Netão. 

Além de tudo isso, a gente também se preocupa, claro, em buscar parceiros sustentáveis. 

'Fama'

Sigo normal. Não mudou muita coisa, não. Eu fui para frente da câmera porque eu queria vender carne. Estou em um açougue que vende uma carne diferente, com cortes especiais e que ninguém sabia o que era. Alguém tinha que explicar para as pessoas o que era. Tem que explicar, fazer o quê? E aí eu botei a cara na frente da câmera e comecei a explicar. 

Mas, assim, eu sempre fui muito conhecido. Desde criança, eu sou comerciante. Eu nasci comerciante, nasci dentro do comércio. Eu sempre falei com todo mundo. Só aumentou o número de pessoas que me conhecem. 

É claro, assim, às vezes, você chega em um lugar e as pessoas fazem fila para tirar foto e tal. Mas é normal, não muda muito, não. 

Fonte: Redação Terra
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