Comércio diz que pode perder bilhões com feriados na Copa
Rio terá feriados e São Paulo estuda medida no dia de abertura; só na capital fluminense, comerciantes estimam perdas em R$ 8 bilhões.
Quando a Copa do Mundo começar, daqui a 29 dias, o Brasil deverá parar por causa dos jogos - literalmente. Milhões de funcionários serão dispensados em dias de partidas - oito das 12 cidades-sede já anunciaram medidas especiais para servidores públicos e serviços. Alguns podem estar felizes com a folga extra. Outros, como comerciantes, não.
No Rio de Janeiro, haverá feriado nos três dias úteis de jogos no estádio do Maracanã. Até agora, a cidade é a única a ter anunciado tal medida, que também é estudada por São Paulo.
A decisão exclui comércio de rua, bares, restaurantes e shoppings, que poderão funcionar normalmente. O prefeito, Eduardo Paes, negou que a cidade terá prejuízos, dizendo que ela receberá maior número de turistas durante o evento. Mas nem todos concordam.
"Há uma perda de faturamento, um impacto numérico de valoração difícil de se saber", disse à BBC Brasil o presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro, Antenor Barros Leal. "Por outro lado, há uma compensação com o movimento que a Copa traz para a cidade... (Mas o feriado) é lamentável sob o aspecto comercial", disse.
Dirigentes e especialistas dizem ser difícil mensurar um eventual impacto negativo. O valor das perdas foi estimado em R$ 8 bilhões por Aldo Gonçalves, presidente das associações que reúnem lojistas do Rio, o Sindilojas Rio e a CDL Rio, segundo a Agência Brasil.
Por outro lado, as cidades serão beneficiadas com o movimento adicional ligado à Copa. "O impacto é relativo. A indústria não vai produzir, mas (a venda de) serviços deve aumentar. Então, as perdas de equivalem", disse o consultor esportivo Pedro Daniel, da BDO Consultoria.
Há, ainda, o risco de protestos e ameaças de greves de diversas categorias durante o evento, o que poderá afugentar consumidores e turistas.
Efeito negativo?
Os novos feriados no Rio se juntam a um calendário já atípico em 2014: o Carnaval foi mais tarde, em março, e, além da Copa, o País realizará eleições em outubro.
Recentemente, uma coincidência de datas fez com que três semanas consecutivas fossem curtas por feriados: Sexta-feira Santa, em 18 de abril; Tiradentes, no dia 21; e Dia do Trabalho, em 1º de maio.
No Rio, a pausa foi ainda maior: devido ao feriado de São Jorge, em 23 de abril, muitos emendaram quase uma semana de folga. Uma "coincidência maldita", segundo Leal.
São Paulo também poderá ter pelo menos um feriado na Copa: o dia da abertura, 12 de junho, com jogo entre Brasil e Croácia. Justamente no Dia dos Namorados, data forte para o comércio.
Ainda não há decisão oficial. Todos os seis jogos no Itaquerão serão em dias úteis. O decreto em São Paulo poderia afetar centenas de indústrias e as operações da Bolsa de Valores de São Paulo, por exemplo.
"Se realmente for decretado feriado (nos dias da Copa), os prejuízos serão imensos. O comércio é muito prejudicado. Você perde a compra de impulso", disse o presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Rogério Amato.
"Tem certa indústria que o prejuízo é imenso se você parar por qualquer motivo... (Mas) temos cautela nas previsões", disse ele, que vê perdas de 20% a 25% das vendas caso feriados sejam adotados.
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A justificativa em São Paulo e Rio é o trânsito: facilitar a movimentação de torcedores e evitar congestionamentos caóticos. A maioria das outras cidades-sede optou em declarar ponto facultativo e reduzir o funcionamento de órgãos públicos em dias de jogos nos estádios locais ou da seleção.
Todos param
Copas anteriores mostram que, na prática, poucos trabalham quando a Seleção Brasileira está em campo.
Em 2010, ônibus e trens em São Paulo ficaram lotados nas horas que antecediam as partidas do Brasil já que milhares de funcionários foram dispensados para acompanhar os jogos - mesmo sem a adoção oficial de horários especiais.
Com a Copa em casa, não teria como ser diferente. "A gente sabe que quando tem jogo do Brasil, tudo para mesmo", disse Amato, da ACSP.
Não é exagero. As férias em parte das escolas públicas deverão coincidir com o período da Copa. Em alguns Estados, haverá dispensa em dias de jogos no Brasil. Instituições privadas deverão fazer o mesmo.
Já servidores públicos federais deverão ser dispensados às 12h30 nos dias de jogos do Brasil na Copa.